As escolas literárias são formas de nomear a produção literária de um determinado momento. Também podemos chamá-las de estilos de época, movimentos artísticos, movimentos literários ou estilos literários.
Agrupar as obras de uma época com base em suas principais características e no contexto histórico em que ocorreram ajuda a estudar a literatura de maneira mais organizada e compreensível.
Quando vivemos na mesma época e no mesmo lugar, tendemos a ter perspectivas e experiências semelhantes. O mesmo acontece com as obras literárias de um período histórico: escritores que viveram nesse tempo, mesmo que tenham estilos diferentes, costumam apresentar traços semelhantes em suas escritas.
Vamos conhecer, então, de forma resumida, as principais escolas literárias, além de suas principais obras e autores.
Trovadorismo
O Trovadorismo é a escola literária predominante entre os séculos XII e XIV, ou seja, no período final da Idade Média.
Essa escola é conhecida pelas cantigas trovadorescas, poemas que eram acompanhados de melodia e cantados pelos trovadores nas vilas e nas cortes da época.

A palavra trovadorismo vem de trova, espécie de poesia caracterizada pelos versos curtos e rimados. O compositor das trovas era chamado de trovador e, muitas vezes, era ele também quem cantava as cantigas. Essa tarefa também podia ser executada pelos menestréis.
A produção principal do Trovadorismo era, pois, as cantigas. Estas se dividiam em dois tipos: as cantigas líricas e as cantigas satíricas. As primeiras se subdividiam em cantigas líricas de amor e cantigas líricas de amigo. Já as segundas podiam ser cantigas satíricas de escárnio e cantigas satíricas de maldizer.
Para se aprofundar no conhecimento sobre essa escola, leia nosso artigo sobre o Trovadorismo.
Humanismo
O Humanismo não é propriamente uma escola literária. Na verdade, fazem parte desse período as obras produzidas em um período de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna.
Por esse motivo, essas obras apresentam traços medievais, ou seja, a presença do teocentrismo, e também traços que anunciam já o Renascimento, movimento da arte que se inicia na Idade Moderna e que é marcado pelo antropocentrismo.

Em Portugal, o Humanismo teve como principal manifestação literária o teatro de Gil Vicente. Considerado o Pai do Teatro Português, Gil Vicente produziu peças em verso que tinham como lema a máxima “Rindo, corrigem-se os costumes”.
O teatro vicentino é composto por autos (peças de fundo religioso) e farsas (peças de fundo profano). Em ambas, a intenção do dramaturgo é levar os espectadores a refletir sobre o seu próprio comportamento. Assim, a característica principal dessas obras é a crítica social.
Para saber mais e aprofundar seus conhecimentos sobre esse movimento literário, leia nosso artigo sobre o Humanismo.
Renascimento ou Classicismo
O Renascimento foi um movimento cultural bastante abrangente que ocorreu, na Itália, a partir do século XIV e, em Portugal, no século XVI. Houve manifestações desse estilo nas artes, na filosofia e na ciência. A arte renascentista, incluindo a Literatura, foi chamada de Classicismo.

O Classicismo recebeu esse nome devido à grande influência da cultura grega e romana, chamadas de clássicas, na arte desse momento. Essa arte tem como características principais a preocupação com a estética, o racionalismo e o antropocentrismo.
Em Portugal, o maior representante do Classicismo é Luis Vaz de Camões que escreveu a maior obra da Literatura em língua portuguesa, o poema épico Os lusíadas.
Para saber mais sobre o Classicismo e o Renascimento, leia nosso artigo sobre essa escola.
Quinhentismo
O Quinhentismo é o nome dado aos anos de 1500 no Brasil. Esse é o momento da chegada dos portugueses às terras brasileiras e do contato entre dois povos bastante diferentes: o europeu e o indígena.
Sobre esse período é importante considerar o primeiro documento escrito sobre o Brasil: a Carta do Achamento, de Pero Vaz de Caminha. Essa carta, escrita ao Rei D. Manuel, rei de Portugal àquela época, registra o encontro entre os indígenas e a tripulação de Pedro Álvares Cabral.

Alguns pontos sobre as intenções dos portugueses em relação às novas terras ficam claros na carta: o assombro diante da natureza e dos indígenas, a tensão entre os dois povos e o interesse de explorar as nossas riquezas.
Além dos viajantes que por aqui passaram, outros documentos desse período foram escritos pelos jesuítas, padres que ficaram no Brasil para catequisar e ajudar a colonizar as terras brasileiras.
Dentre eles, destaca-se o padre José de Anchieta, autor do primeiro dicionário de tupi-guarani, e também de poemas e peças teatrais de fundo religioso e catequético.
Para saber mais sobre esse conteúdo, acesse nosso artigo sobre o Quinhentismo brasileiro.
Barroco
O Barroco é o estilo dos excessos e dos contrastes. Também conhecido como a arte da Contrarreforma, ou Reforma Católica, o Barroco reflete um período de grande tensão e obscurantismo.
Esse estilo vigorou durante o século XVII e parte do XVIII, principalmente nos países de maior influência católica, como Portugal e Espanha, e também aqui no Brasil, colônia portuguesa nesse período.
A arte barroca é marcada pelo contraste e pelo rebuscamento, refletindo a angústia de um homem dividido entre agradar a Deus e aos preceitos da Igreja e a si mesmo e aos desejos de sua carne.

Na pintura, um traço marcante é o chiaroscuro, ou claro e escuro, em que boa parte do quadro tem tons escuros com alguma iluminação em locais estratégicos da obra. Na arquitetura e na escultura, o rebuscamento fica por conta do excesso de ornamentos e detalhes.
Na poesia, a antítese, figura de linguagem marcada pela aproximação de palavras de sentido oposto, é uma marca importante do estilo, juntamente com o excesso de metáforas. Já o pensamento enovelado e os jogos de palavras marcam a prosa barroca, em especial nos sermões.
No Brasil, o Barroco é efetivamente o primeiro estilo literário, uma vez que é nesse momento que passamos a ter escritores brasileiros escrevendo sobre o Brasil para um público brasileiro. Dois autores se destacaram: Gregório de Matos e Pe. Antonio Vieira.
Para se aprofundar nos estudos sobre essa escola literária, leia nosso artigo sobre o Barroco.
Arcadismo ou Neoclassicismo
O Arcadismo ou Neoclassicismo é o estilo que predominou na arte do século XVIII. É marcado pelo retorno da arte clássica, uma vez que tem como características a inspiração na cultura greco-latina do passado, o racionalismo e a preocupação com a forma.
Esse estilo tem uma ambientação inspirada em uma região da Grécia antiga chamada Arcádia. Essa região seria um lugar onde moravam pastores que viviam em completa harmonia com a natureza, em um ambiente tranquilo e feliz.

Assim, vemos nas pinturas e nos versos dos poemas árcades, ou neoclássicos, os pastores felizes vivendo harmonicamente em um campo bonito e que respira tranquilidade. São o pastoralismo e o bucolismo, características marcantes dessa escola da arte.
No Brasil, o Arcadismo teve forte presença entre os escritores que viviam em Vila Rica, hoje Ouro Preto, em Minas Gerais. Destacam-se entre eles Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga.
Para saber mais sobre essa escola literária e aprofundar os seus estudos, leia nosso artigo sobre o Arcadismo.
Romantismo
O Romantismo iniciou-se na Alemanha e na Inglaterra no final do século XVIII e floresceu na primeira metade do século XIX. Esse movimento é marcado pela subjetividade, pela idealização e pelo excesso de emoção.
Também são traços fortes do movimento romântico a liberdade de expressão e o nacionalismo. Seus escritores costumavam explorar temas como o amor, a natureza, a infância, o heroísmo e retratavam, muitas vezes, personagens apaixonadas e sonhos grandiosos.

No Brasil, o movimento iniciou-se em 1836 com a publicação de Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães. E teve autores e obras expressivas tanto na poesia quanto na prosa.
São autores importantes do período Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Castro Alves e José de Alencar. Entre as obras de maior destaque estão Navio negreiro, O guarani, Iracema e Senhora.
Se você quiser se aprofundar no estudos sobre o Romantismo, leia nosso artigo sobre essa escola literária.
Realismo
O Realismo ocorreu na segunda metade do século XIX como uma reação ao movimento romântico. Como o próprio nome diz, a característica principal desse estilo é a de desnudar a realidade.
Assim como o Classicismo e o Arcadismo, o Realismo é uma escola de características clássicas. Ou seja, é marcado pelo racionalismo, pela objetividade e pela clareza. Também é um traço realista importante a crítica à sociedade burguesa.

O Realismo teve início na França com a publicação do romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert. No Brasil, foi inaugurado em 1881 com Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
Outras obras importantes do Realismo brasileiro são Dom Casmurro e Quincas Borba, também romances machadianos.
Se quiser saber mais sobre essa escola literária, leia nosso artigo sobre o Realismo.
Naturalismo
O Naturalismo ocorreu no mesmo período do Realismo. É considerado, inclusive, uma dissidência desse movimento. Isso se deve a características que esses estilos têm em comum como a objetividade, o racionalismo e a crítica social
No entanto, a influência científica é mais forte nas obras naturalistas e seus escritores comportam-se quase como cientistas em busca de provar teses. No caso, teses sobre o comportamento humano e a sociedade.

No Brasil, o movimento naturalista teve o seu início também em 1881, com a publicação de O mulato, de Aluísio Azevedo. Esse escritor é o principal nome do Naturalismo brasileiro e produziu outras obras de grande valor, como o romance O cortiço.
Para saber mais sobre o Naturalismo, acesse aqui.
Parnasianismo
O Parnasianismo é um movimento predominantemente poético, ou seja, ocorreu apenas na poesia. Iniciou-se na França, no final do século XIX, e teve grande repercussão no Brasil, principalmente com a poesia de Olavo Bilac.
Essa escola literária tem como características principais o racionalismo, a objetividade, a impassibilidade e o distanciamento social, e, principalmente, a valorização da forma. A beleza dos versos é a busca fundamental do poeta parnasiano.
Ou seja, o artista deve buscar a “arte pela arte” e nada mais. É nesse aspecto que o Parnasianismo se distancia do Realismo, ainda que esses movimentos tenham ocorrido na mesma época.

No Brasil, três poetas se destacaram dentro dessa escola e são conhecidos como a “Tríade Parnasiana”. São eles Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac. Este último ganhou o apelido de “Príncipe dos Poetas” e teve grande prestígio.
Para aprofundar-se nos estudos sobre o Parnasianismo, leia nosso artigo sobre essa escola literária.
Simbolismo
O Simbolismo também foi um movimento que teve predominância na poesia. Surgiu e ocorreu, como o Parnasianismo, no final do século XIX. Por sua experimentação com a linguagem literária, o Simbolismo anunciou o Modernismo que ocorreria no século XX.
A escola simbolista, ao contrário da parnasiana, é marcada pela subjetividade, pelo misticismo, pela musicalidade e por uma ambientação religiosa. Os poetas produziam poemas cheios de sugestões e de uma atmosfera etérea.

São poetas de destaque na poesia simbolista brasileira Cruz e Souza e Alphonsus de Guimarães. O primeiro tem obsessão pelo branco e seus versos trazem um sentimento de angústia e opressão. Já o segundo explora temas como a morte, o amor impossível e a solidão.
Para saber mais sobre essa escola literária, leia nosso artigo sobre o Simbolismo.
Modernismo
O Modernismo é o movimento que reflete as transformações por que passou o mundo no século XX. É a escola literária marcada pela renovação da arte e pelos questionamentos em relação ao passado.
Os artistas modernistas rompem com a tradição e propõem novas formas de fazer arte, influenciados pelos acontecimentos do período. É um momento de muitas mudanças, do surgimento do cinema, da invenção do avião e do telefone, e também da iminência da 1ª Guerra Mundial.
No Brasil, essa escola propôs a reflexão sobre nossa identidade e trouxe muita brasilidade às obras artísticas. O marco do Modernismo brasileiro foi a Semana de Arte Moderna de 1922, um evento que buscou apresentar à sociedade a nova arte em todas as suas formas de expressão.

O Modernismo passou por três fases, ou gerações, e nos legou nomes muito importantes como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e Clarice Lispector.
Para aprofundar-se nos estudos sobre essa escola literária, leia nosso artigo sobre o Modernismo.
Conclusão
Procuramos fazer nesse artigo um resumo do que são as principais escolas literárias, indo do século XII ao XX. Ao observarmos a evolução da arte como um todo, podemos perceber que, embora ela passe por transformações, seu papel principal é sempre o mesmo: expressar os sentimentos e as expectativas humanas.
Também é possível ver como o ser humano busca compreender sua realidade ora através da emoção, ora através da razão e as obras artísticas e literárias refletem isso. Essa oscilação entre razão e emoção é perceptível na mudança de uma escola literária para outra.
Samira Mór é formada em Letras pela UFJF e Mestra em Literatura pela mesma instituição. É também professora das redes pública e privada há mais de trinta anos. Apaixonada por palavras e livros desde sempre, seu objetivo é partilhar com as pessoas o amor pela leitura e pelos livros.
