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Realismo: contexto histórico, características, autores e obras

  • Samira Mór 

O Realismo foi um movimento artístico ocorrido na segunda metade do século XIX. Esse movimento marcou-se pela postura racional e a valorização do pensamento científico.

Outros traços importantes desse movimento são a crítica à sociedade burguesa e a oposição à idealização e ao sentimentalismo do Romantismo.

Vejamos, a seguir, qual foi o contexto histórico do Realismo, suas principais características e também os autores e obras que marcaram o movimento.

Contexto histórico do Realismo

O Realismo ocorreu na segunda metade do século XIX. Mais especificamente, em 1857, com a publicação de Madame Bovary, do escritor francês Gustave Flaubert.

Quadro Os quebradores de pedras, de Gustave Courbet, obra que marca o início do Realismo.
Os quebradores de pedra, de Gustave Courbet (1849)

Também marcam o início do movimento realista as pinturas de Gustave Courbet. As obras desse artista colocam em foco, pela primeira vez, a classe trabalhadora, a vida cotidiana e as mazelas sociais.

Cientificismo

Na segunda metade do século XIX, uma série de correntes filosóficas surgiram, apresentando em comum uma visão de mundo racional, baseada no pensamento científico.

Por essa razão, essas correntes são chamadas de correntes cientifico-filosóficas. Veja as principais:

  • Positivismo: só é real o que pode ser experimentado; o conhecimento científico vem da experimentação e, através dele, é possível prever e evitar problemas. O líder do Positivismo foi Augusto Comte.
  • Determinismo: o homem é produto do meio, da raça e da condição histórica; em uma dada comunidade, os indivíduos agem segundo o meio e as condições naturais em que estão inseridos. Hippolyte Taine foi grande propagador do pensamento determinista.
  • Evolucionismo: desenvolvida por Charles Darwin, essa corrente entende que as espécies evoluem a partir dos mais fortes, ou seja, em uma dada comunidade, os indivíduos mais fortes tendem a sobreviver sobre os mais fracos.
  • Socialismo: liderada pelos filósofos Karl Marx e Friedrich Engels, a corrente socialista pregava uma sociedade igualitária em que os bens fossem divididos igualmente entre todos os seus cidadãos.

O movimento realista tem grande influência dessas correntes e reflete o pensamento cientifico-filosófico em suas obras.

Características do Realismo

São características do movimento realista:

  • Oposição ao Romantismo: a idealização e o sentimentalismo que marcam o movimento romântico são abandonadas e combatidas no Realismo;
  • Crítica social: as obras realistas retratam o modo de vida burguês expondo os problemas e defeitos dessa sociedade;
  • Aparência versus essência: os realistas têm como objetivo revelar o que está escondido;
  • Racionalismo: a razão predomina sobre a emoção e dita o modo como se observa e se entende a realidade;
  • Objetividade: a realidade deve ser analisada de forma objetiva e distanciada, como faria um cientista diante de seu objeto de estudo;
Pintura retratando a cidade de Paris no século XIX, onde surge o movimento realista.
  • Vida urbana: o movimento realista busca retratar a vida na cidade e as relações sociais que se constróem nesse ambiente;
  • Materialismo: a capacidade imaginativa é deixada de lado e substituída pelo foco na vida concreta, real e material;
  • Cientificismo: as correntes cientifico-filosóficas são a base para a produção das obras realistas;
  • Tempo presente: o foco da produção realista fixa-se no presente, pois é este o tempo de interesse dos escritores para a construção de sua crítica;
  • Adultério feminino: os realistas acreditavam que a educação romântica, advinda da leitura de romances românticos, tornava as mulheres burguesas, consumidoras dessas obras, fracas, fúteis e tolas, capazes de serem facilmente seduzidas por um conquistador qualquer;
  • Universalismo: os temas observados pelos artistas não se limitam a uma nação ou época, mas se referem e interessam a toda a humanidade.

Principais escritores e obras do Realismo

O Realismo apresenta um rol enorme de autores e obras de grande relevância. A seguir, listamos alguns desses autores e suas respectivas obras de sucesso.

Gustave Flaubert e Madame Bovary

O escritor francês inaugurou o Realismo na França com o romance Madame Bovary. Essa obra conta a história de Ema Bovary, uma mulher bela e sonhadora que trai o marido em busca de aventura e emoção.

Pintura retratando a vida burguesa do século XIX, foco das obras realistas.

Esse romance causou grande comoção entre os leitores franceses da época e o livro acabou sendo condenado. Flaubert foi, inclusive, processado e levado a julgamento por essa obra. Em sua defesa, o escritor proferiu a célebre afirmação: “Madame Bovary sou eu”.

Eça de Queiroz e as Cenas da Vida Portuguesa

Eça de Queiroz é o principal romancista do Realismo português. O escritor propôs-se a retratar a sociedade portuguesa da época através de três romances que enfocam as principais instituições do período.

O crime do padre Amaro

Amaro é o padre da cidade de Leiria. Sem vocação para o sacerdócio, mas com uma ambição exacerbada, ele seduz a doce Amélia. A moça engravida do padre e este a manda ter o filho longe da cidade.

Ao mesmo tempo, Amaro procura uma “tecedeira de anjos”, uma mulher que se encarregava na época de dar fim às crianças indesejadas.

A obra critica a hipocrisia e a corrupção dentro do clero. Assim como Madame Bovary, O crime do padre Amaro causou forte repercussão entre o público. A obra foi, inclusive, ameaçada pela igreja católica no seu índex de livros proibidos.

O primo Basílio

Luísa é casada com Jorge. O casal vive em Lisboa e tem uma vida tranquila e confortável. Jorge é engenheiro e precisa viajar para vistoriar obras. Luísa fica em casa e tem como passatempo preferido a leitura de obras românticas.

A bela heroína do romance tem uma inimiga dentro da própria casa, a empregada Juliana. Juliana tem ódio das patroas, pois estas sempre lhe trataram muito mal.

A empregada tem a chance de se vingar de todas as patroas quando Luísa passa a receber em casa o primo Basílio. Desconfiada de que a relação entre a patroa e o primo vá além do afeto familiar, Juliana intercepta cartas trocadas entre os dois. A partir daí, passa a chantagear Luísa.

Cartaz do filme O primo Basílio, inspirado no romance homônimo de Eça de Queiroz.
Cartaz do filme O primo Basílio, inspirado no romance de Eça de Queiroz

A obra tem como foco a pequena burguesia e o adultério feminino, tema frequente dos romances realistas da época.

Os Maias

A família Maia é uma das mais tradicionais de Portugal. Três gerações dessa família protagonizam o enredo. O velho Maia critica o casamento de seu filho com uma mulher mal vista pela sociedade.

Desse casamento, nascem duas crianças, uma menina e um menino. A mulher abandona o marido levando com ela a menina, Maria Eduarda. O menino Carlos é criado pelo avô, sem saber de seu passado.

Anos depois, os jovens Carlos e Maria Eduarda apaixonam-se um pelo outro sem saber que são irmãos. O amor incestuoso e a crítica ao Romantismo são os temas em torno dos quais a narrativa se desenrola.

Machado de Assis e Memórias Póstumas de Brás Cubas

Machado de Assis é o maior escritor brasileiro e o único representante do Realismo no Brasil. Na fase madura de sua literatura, o autor escreveu cinco romances: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Quincas Borba, Esaú e Jacó e Memorial de Aires.

Todos esses romances apresentam traços que permitem inclui-los na estética realista.

Memórias Póstumas de Brás Cubas

Memórias Póstumas de Brás Cubas inaugurou o Realismo no Brasil em 1881. O romance é narrado pelo próprio Brás Cubas após a sua morte.

O narrador, um representante da alta sociedade carioca do Segundo Reinado, conta a sua própria vida, dizendo querer apenas passar o tempo. Inicia seu relato pelo próprio enterro e os poucos amigos que acompanharam o seu féretro.

Depois fala da infância, da juventude, dos amores, dos amigos e da maturidade. E também dos projetos que tinha para a sua vida e que foram frustrados, como a ambição de ser senador, o casamento com Virgília, o filho abortado.

A obra aborda temas como a escravidão e o cientificismo, tendo como cenário a cidade do Rio de Janeiro do século XIX.

Conclusão

O Realismo foi um movimento artístico ocorrido na segunda metade do século XIX que apresenta como características principais o cientificismo, a oposição ao Romantismo e a crítica à sociedade burguesa.

Esse movimento apresentou grandes escritores e obras. Dentre eles estão Gustave Flaubert, com Madame Bovary, Eça de Queirós, com obras como O primo Basílio e Machado de Assis, com Memórias Póstumas de Brás Cubas.

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