Simbolismo
O Simbolismo foi um movimento literário ocorrido na segunda metade do século XIX. Caracterizou-se por um retorno à subjetividade e ao misticismo, presentes nas obras românticas, e que foram deixadas de lado pelos escritores do Realismo.
O movimento simbolista surgiu na França, em 1857, com a publicação do livro As flores do mal, do poeta Charles Baudelaire. Baudelaire foi um dos mais importantes poetas do período. Em seus versos, retratou a vida moderna e os reflexos da sociedade capitalista e industrial no cotidiano da cidade de Paris.
Outros nomes importantes do Simbolismo europeu foram Stéphane Mallarmé, Arthur Rimbaud, Eugênio de Castro e Camilo Peçanha. Edgar Allan Poe, escritor americano, também trouxe em sua obra elementos caros ao movimento simbolista.
Características do Simbolismo
Contrariamente ao Realismo e ao Parnasianismo, o Simbolismo propôs o mergulho na alma humana, no mais profundo do Ser, no misticismo e na transcendência. Como o próprio nome do movimento indica, os poetas simbolistas entendiam a palavra poética como um símbolo revelador do humano. Para isso, investiram a poesia de um alto grau de significado.
Veja abaixo as principais características do estilo simbolista:
- subjetividade, que se opõe claramente à objetividade realista;
- misticismo e religiosidade;
- musicalidade: uso das rimas, das repetições de palavras e de figuras de linguagem como a aliteração e a assonância;
- maiúsculas alegorizantes;
- busca pelo Eu profundo, ou seja, o inconsciente;
- desejo de transcendência, traduzido no uso de drogas – como o ópio e o álcool – , na religiosidade e na ânsia pela morte;
- sinestesia, ou seja, o uso de imagens que apelam para vários sentidos do corpo ao mesmo tempo;
- arte da sugestão: imagens imprecisas e vagas, cenas etéreas e obscuras;
- experimentação com a linguagem, já anunciando o Modernismo que logo viria.
Quanto à forma, os poemas simbolistas mantém a metrificação e a forma fixa dos sonetos, heranças da poesia parnasiana.
Simbolismo no Brasil
No Brasil, tivemos dois grandes poetas simbolistas: Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens.
O Simbolismo incia-se no Brasil em 1893 com a publicação de Missal e Broquéis, livros do poeta Cruz e Souza.
É um momento tenso historicamente, com a recente proclamação da República e os conflitos gerados pelas mudanças de um modo de governo para outro. As cidades do litoral, principalmente o Rio de Janeiro, passam por um significativo crescimento e a vida urbana se intensifica.
Cruz e Souza (1861-1898)
Cruz e Souza nasceu em Florianópolis e era filho de escravizados. Embora tenha tido boa educação e uma infância confortável, quando adulto sofreu muito com o preconceito de cor. Talvez venha daí a presença constante da cor branca em suas obras, que também se caracterizam por um intenso pessimismo, pela forte religiosidade e misticismo e pelo desejo de transcendência através da morte.
Cruz e Souza é o mais importante poeta simbolista brasileiro e ficou conhecido como o Cisne Negro de Florianópolis. Ele também foi um exemplo de luta e resistência contra o racismo e um grande mestre das palavras.
Suas únicas obras publicadas em vida foram os livros Missal, uma coletânea de poemas em prosa, e Broquéis, reunião de 54 poemas, a maioria sonetos.
Leia a seguir dois poemas de Cruz e Souza que representam bem a sua obra.
Acrobata da dor
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta …
Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d’aço. . .
E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.
Sinfonias do ocaso
Musselinosas como brumas diurnas
descem do ocaso as sombras harmoniosas,
sombras veladas e musselinosas
para as profundas solidões noturnas.
Sacrários virgens, sacrossantas urnas,
os céus resplendem de sidéreas rosas,
da Lua e das Estrelas majestosas
iluminando a escuridão das furnas.
Ah! por estes sinfônicos ocasos
a terra exala aromas de áureos vasos,
incensos de turíbulos divinos.
Os plenilúnios mórbidos vaporam …
E como que no Azul plangem e choram
cítaras, harpas, bandolins, violinos …
Alphonsus de Guimaraens (1870-1921)
Nascido em Ouro Preto, Minas Gerais, Alphonsus de Guimaraens produziu uma poesia carregada de sentimentalismo e pessimismo. Seus poemas falam de religiosidade, são constantes as menções a igrejas e altares, e também de uma mulher etérea, divina, seu amor perdido.
A amada de Alphonsus, sua prima Constança, morreu muito jovem às vésperas do casamento com o poeta. Por isso, ela aparece frequentemente em seus versos.
São obras conhecidas de Alphonsus de Guimaraens os livros Kyriale e Dona Mìstica, entre outros.
Abaixo, veja dois poemas bastante emblemáticos da poesia de Alphonsus de Guimaraens.
A Catedral
Entre brumas ao longe surge a aurora,
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.
E o sino canta em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”
O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a benção de Jesus.
E o sino clama em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”
Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Poe-se a luz a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu tristonho
Toda branca de luar.
E o sino chora em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”
O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem acoitar o rosto meu.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.
E o sino chora em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!””
Hão de Chorar por Ela os Cinamomos…
Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.
As estrelas dirão — “Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria.. . ”
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.
A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.
Os meus sonhos de amor serão defuntos…
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: — “Por que não vieram juntos?””
Conclusão
Como vimos, a poesia simbolista é marcada pela subjetividade, sentimentalismo, religiosidade e também pela musicalidade. No Brasil, o Simbolismo teve como maior representante o poeta Cruz e Souza que, não só produziu belos e enigmáticos poemas, mas também tornou-se uma voz muito importante na luta contra o preconceito racial.