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Machado de Assis: vida, principais obras e curiosidades

Quem foi Machado de Assis?

Outros leram da vida um capítulo, tu leste o livro inteiro”.

(Carlos Drummond de Andrade)

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Morro do Livramento, na cidade do Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839.

Foto do escritor Machado de Assis, ainda jovem, sentado em uma escrivaninha e a olhar fixamente para o espectador.
Fotografia do jovem Machado de Assis

Descendentes de escravos, Machado era filho do pintor Francisco José de Assis e da lavadeira Maria Leopoldina de Assis. Cedo, perdeu ambos os pais e frequentou pouco a escola.

Mas costumava passar um bom tempo lendo os clássicos ingleses e franceses na biblioteca da casa de uma madrinha abastada. Também aprendeu latim, francês e alemão informalmente.

Ainda muito jovem, foi trabalhar no jornal Marmota Fluminense, de Francisco de Paula Brito, e, mais tarde, em outros jornais e revistas. Graças a esse ambiente, conheceu e passou a conviver com intelectuais importantes da época como Quintino Bocaiúva e José de Alencar.

No jornal, começou trabalhando como faz-tudo, mas logo aprendeu a tipografia e tornou-se tipógrafo. Algum tempo depois, publicou seu primeiro texto no Marmota Fluminense, o poema de amor “Ela”.

Machado sofria de epilepsia e era gago. Isso, contudo, não o impediu de continuar a evoluir como escritor e jornalista. E também de assumir um cargo importante como funcionário público na Secretaria do Estado do Ministério da Agricultura.

Foto de Carolina, esposa de Machado de Assis.
Carolina, esposa de Machado por 35 anos

Então, Machado conheceu Carolina Augusta Xavier de Novaes com quem se casou. Carolina foi muito importante para o trabalho do marido como escritor.

Ela era sua primeira leitora e crítica e contruibuia ativamente para a escrita das obras de Machado. O casal não teve filhos.

Carreira literária de Machado de Assis

A obra de Machado de Assis apresenta duas fases. A primeira, romântica, recebeu bastante influência da literatura de José de Alencar. A segunda, mais madura, é a realista, onde se encontram as maiores obras do escritor.

Fase romântica

Machado publicou seu primeiro livro em 1864, Crisálidas, uma coletânea de poemas.

Em 1870, foi a vez de uma reunião de contos entitulada Contos Fluminenses e, em 1872, seu primeiro romance, Ressurreição.

São obras dessa primeira fase também A mão e a luva, de 1874, Helena, em1876, e Iaiá Garcia, em 1878.

Capa de uma das edições do romance Helena, pertencente á fase romântica do escritor.
Capa do romance romântico Helena, de Machado de Assis

Os romances românticos de Machado de Assis caracterizam-se por histórias de amor em ordem linear, com finais trágicos ou felizes.

Em comparação a outras obras do período, são narrativas com descrições mais econômicas e um olhar crítico, ainda que sutil, sobre a sociedade carioca da época.

Fase realista

As obras da maturidade reúnem cinco romances considerados correspondentes à escola realista: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908).

Memórias Póstumas de Brás Cubas

Obra que inaugura o Realismo no Brasil, Memórias Póstumas de Brás Cubas narra a história da vida de um membro da elite carioca do Segundo Reinado.

Brás Cubas nasce rico e vive da fortuna que recebeu da família. Embora tenha tentado colocar em prática durante a vida alguns projetos, não consegue realizar nenhum.

Capa do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, obra de Machado que inaugura o Realismo no Brasil.
Capa do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas

O narrador do livro é o próprio Brás Cubas. O que chama a atenção nisso é que ele está morto. Mas justamente por isso sente-se livre para contar a sua história e a da sociedade a que pertence sem se preocupar com as convenções e o julgamento alheio.

Quincas Borba

Esse segundo romance tem como protagonista o professor Rubião que herda uma fortuna de Quincas Borba, de quem cuidava.

O cenário incial dessa obra é a cidade de Barbacena, onde Rubião mora. Depois de enriquecer, ele decide ir para o Rio de Janeiro.

Imagem que ilustra uma passagem do livro Quincas Borba, de Machado de Assis, em que o personagem caminha pela rua ao lado de seu cão.
Gravura que ilustra o romance Quincas Borba, segunda obra realista de Machado

Ainda no trem para o Rio, Rubião conhece um casal de golpistas, Cristiano e Sofia Palha. Rubião encanta-se por Sofia e o casal aproveita-se disso para enganar e roubar o homem.

Dom Casmurro

Obra famosa de Machado de Assis, narrada em 1ª pessoa, por Bento Santiago, conta a história de amor vivida pelo narrador por sua vizinha, Capitu.

O conflito inicial instaura-se logo que Bentinho, que está se preparando para ordenar-se padre, se descobre apaixonado por Capitu, sua amiga de infância e vizinha.

Capa do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, que reúne o triângulo amoroso do livro e também o filho do casal, Ezequiel.
Capa do livro Dom Casmurro, que ilustra bem o drama retratado na obra

A partir daí, ajudado pela menina, ele vai buscar formas de se livrar do seminário e da ordenação. Acaba indo para o seminário e lá conhece Escobar. E é esse novo amigo que o ajudará a conseguir o seu intento.

Livre da carreira religiosa, Bentinho consegue finalmente casar-se com Capitu. Escobar casa-se com Sancha e os casais passam a frequentar as casas um do outro.

Depois de alguns eventos considerados suspeitos pelo narrador, Bento começa a desconfiar de que sua mulher tem um caso com o seu melhor amigo.

Mas, ao mesmo tempo em que apresenta possíveis evidências da traição de Capitu, mostra também motivos que demonstram a inocência da esposa.

Esaú e Jacó

Esse livro conta a história de dois irmãos, Pedro e Paulo, apaixonados pela mesma mulher.

Os dois estão sempre disputando algo desde o ventre da mãe. Não é diferente quando conhecem a bela Flora Batista.

Capa de uma das edições do livro Esaú e Jacó, obra em que dois irmãos disputam o amor da mesma mulher, como é ilustrado na capa.
Imagem que ilustra o triângulo amoroso do romance Esaú e Jacó

Os acontecimentos são narrados pelo Conselheiro Aires, alter ego de Machado de Assis. Como um observador da vida social, Aires vai compondo um painel da sociedade carioca da época.

Além da disputa dos irmãos pelo amor da jovem, fatos importantes do contexto da época funcionam como pano de fundo da narrativa, como o fim do Império, a Abolição da Escravatura e a proclamação da República.

Memorial de Aires

Esse romance é escrito em forma de diário. É escrito pelo Conselheiro Aires, mesmo narrador do romance Esaú e Jacó, durante os anos de 1888 e 1889, período da Abolição da Escravatura e a proclamação da República.

Capa de uma das edições do último romance escrito por Machado de Assis, Memorial de Aires.
Imagem da capa do livro Memorial de Aires

O Conselheiro faz uma análise do comportamento da Corte carioca e apresenta reflexões sobre temas como o amor, a amizade e a literatura.

Curiosidades sobre Machado de Assis

Machado de Assis ganhou fama de bruxo após alguns vizinhos de sua casa virem, da rua, o escritor queimar papéis em um caldeirão.

Mais tarde, o poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu o poema “A um bruxo, com amor”, em homenagem a Machado, do qual transcrevemos o trecho a seguir:

Todos os cemitérios se parecem,

e não pousas em nenhum deles, mas onde a dúvida

apalpa o mármore da verdade, a descobrir

a fenda necessária;

onde o diabo joga dama com o destino,

estás sempre aí, bruxo alusivo e zombeteiro,

que resolves em mim tantos enigmas.

Machado também gostava de jogar xadrez e chegou a participar do primeiro campeonato brasileiro de xadrez, no qual conquistou o terceiro lugar.

O maior escritor do Brasil foi, na juventude, vendedor de doces e engraxate. Já adulto, trabalhou como jornalista, foi funcionário público e crítico de peças teatrais.

Recebeu do Imperador D. Pedro II a Ordem da Rosa, em 1888. A honraria, criada em 1929, por D. Pedro I, era um condecoração de grande importância oferecida a pessoas de valor por serviços prestados ao Estado Brasileiro.

Machado de Assis foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, maior agremiação da Literatura no Brasil, e o seu primeiro presidente, ocupando a cadeira de número 23.

O escritor falava francês fluentemente. Dizem que ele aprendeu na convivência com um padeiro. Isso lhe permitiu traduzir para o português o romance Os trabalhadores do mar, de Victor Hugo.

Foi também um dos primeiros tradutores de outra obra famosa, o poema “O corvo”, do escritor americano Edgar Alan Poe.

O romance Memórias Póstumas de Brás Cubas ganhou recentemente um nova edição em inglês pela editora Penguin Classics e é o livro mais vendido na Amazon no quesito literatura latino-americana e caribenha.

Também recentemente, essa mesma obra viralizou no Tik Tok, rede social muito consumida pelo público jovem, após uma leitora americana elogiar fervorosamente o livro.

Frases famosas de Machado de Assis

As obras de Machado de Assis apresentam frases memoráveis que passaram a ser citadas em outras obras e a serem lembradas também nas conversas diárias de quem se debruçou sobre sua obra.

Listaremos a seguir algumas delas. Vejamos.

“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas”.

“Capitu, isto é, uma criatura mui particular, mais mulher do que eu era homem”.

“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”.

“Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos”.

“Não te irrites se te pagarem mal um benefício: antes cair das nuvens que de um terceiro andar”.

“A minha memória ouve ainda agora as pancadas do coração naquele instante. Não esqueças que era a emoção do primeiro amor”.

“Conhecia as regras do escrever, sem suspeitar as do amar; tinha orgias de latim e era virgem de mulheres”.

“Mas a saudade é isto mesmo; é o passar e repassar das memórias antigas”.

“Não se ama duas vezes a mesma mulher”.

“Não é a ocasião que faz o ladrão… A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito”.

“A ausência diminui as paixões medíocres e aumenta as grandes, como o vento apaga as velas e atiça as fogueiras.”

“A arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal”.

“As estrelas são ainda menos lindas que os seus olhos, e afinal nem sei mesmo o que elas sejam; Deus, que as pôs tão alto, é porque não poderão ser vistas de perto, sem perder muito da formosura… Mas os seus olhos, não; estão aqui, ao pé de mim, grandes, luminosos, mais luminosos que o céu…”.

“(…) gosto dos epitáfios; eles são, entre a gente civilizada, uma expressão daquele pio e secreto egoísmo que induz o homem a arrancar à morte um farrapo ao menos da sombra que passou”.

“Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo”.

Conclusão

Machado de Assis é considerado o maior escritor da Literatura Brasileira. Com uma biografia admirável, Machado deixou-nos uma obra literária de grande valor e profundidade.

Além disso, inspirou muitos escritores contemporâneos a ele e outros que vieram depois. Suas obras também trazem aspectos anunciadores do movimento modernista no século XX.

Machado de Assis foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e o seu primeiro presidente. E tornou-se um escritor muito respeitado, contribuindo efetivamente para os jornais da época.

Foto do escritor Machado de Assis.
Fotagrafia do escritor Machado de Assis

Viveu por 35 anos com a esposa Carolina, que faleceu em 1904. Nos quatro anos seguintes, Machado viveu recluso em sua casa, saindo muito raramente à rua.

O nosso maior escritor morreu em 29 de setembro de 1908. Seu féretro foi acompanhado por um grande cortejo e foi decretado luto oficial na cidade do Rio de Janeiro por três dias, honra só concedida a líderes de Estado.

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