Fazer uma lista com os melhores livros de suspense não é tarefa fácil. Esse é um gênero bastante explorado pelos escritores da literatura mundial. No Brasil, no entanto, é comum outros gêneros ganharem destaque.
Ainda assim, temos ótimos livros de suspense escritos por autores brasileiros. E nos ateremos, neste artigo, a dez obras de escritores contemporâneos e também de autores que já ganharam o status de clássicos.
O gênero suspense
O suspense, como ato de gerar expectativa, na verdade, está, ou deve estar, em todas as narrativas. É um elemento muito importante para manter a atenção do leitor, ouvinte ou espectador.

Na literatura, como gênero, os melhores livros de suspense são aqueles que têm esse elemento como motivo principal dos fatos narrados. Ou seja, o texto tem a intenção de gerar uma constante sensação de tensão e expectativa no leitor.
A literatura de suspense ganhou expressividade significativa no meio literário com o escritor americano Edgar Alan Poe. Seu thriller Os assassinatos da Rua Morgue é um clássico do gênero que inspira obras do gênero até hoje.
Características dos melhores livros de suspense
Os melhores livros de suspense são obras que conseguem, de fato, atingir o objetivo de manter o leitor preso à narrativa até o seu desfecho.
São características dessas obras:
- Clima de mistério e tensão;
- Segredos e descobertas inesperadas;
- Um crime ou algo ameaçador podem ser elementos motivadores da trama;
- Sensação de medo e angústia;
- Ambientes sombrios e obscuros;
- Descrições detalhadas com o intuito de atrasar o clímax e gerar expectativa;
- Presença de um detetive, policial ou personagem curiosa que busca desvendar o mistério;
- Pistas enganosas que aumentam a expectativa pela resolução do mistério;
- A expectativa e o suspense se mantém até o final da história.
Melhores livros de suspense da Literatura Brasileira
O romance brasileiro tem sua origem na literatura romântica brasileira do século XIX. É também quando nasce o gênero de suspense em nossas obras literárias.
O Romantismo brasileiro desenvolveu-se em três momentos. Embora o tema predominante em todos eles seja o amor e a expressão de sentimentos, outros temas também marcaram as obras do período.
A primeira fase teve caráter nacionalista, a segunda caracteriza-se pelo pessimismo e por uma perspectiva soturna e a terceira apresentou motivação social.
Álvares de Azevedo é um dos escritores da segunda fase. Umas das obras desse escritor é Noite na taverna, uma coletânea de contos que certamente se inscreve na categoria melhores livros de suspense brasileiros.
Livros de suspense da Literatura Brasileira
Elaboramos uma lista de dez livros de suspense da Literatura Brasileira que são ótimas leituras.
Noite na taverna, de Álvares de Azevedo
Um grupo de jovens reunidos em uma taverna, bêbados e entediados, resolvem contar histórias macabras. Cada um deles narra um caso que eles dizem ter ocorrido com eles.

São histórias que envolvem traição, mentiras, necrofilia, assassinato, antropofagia e outras ações condenáveis.
Essas histórias revelam um mundo de excessos e tragédias, refletindo o espírito pessimista e sombrio do Romantismo.
Mas o que parece ser invenção e exagero por parte desses narradores acaba por ganhar verossimilhança quando uma mulher misteriosa surge na taverna.
O livro é uma viagem ao lado mais obscuro da alma humana, onde o amor e a morte estão sempre à espreita.
Demônios, de Aluísio Azevedo
Demônios é um conto de Aluísio Azevedo que se destaca por sua atmosfera fantasmagórica e pela exploração da mente humana.
Publicado em 1893, como parte da coletânea de mesmo nome, essa narrativa apresenta um desvio do realismo naturalista que caracterizava a maior parte da obra do autor, adentrando no terreno do fantástico e do psicológico.
O conto narra a história de um homem que, após uma noite de bebedeira, começa a ter uma série de visões e sensações estranhas.
Ele vê demônios e criaturas grotescas, sente a presença de forças malignas e é atormentado por pesadelos horríveis.
A fronteira entre a realidade e a fantasia se torna cada vez mais tênue, e o protagonista se vê preso em um mundo de terror e angústia.
Nesse conto, Aluísio Azevedo constrói uma atmosfera opressiva e claustrofóbica, explorando os medos e as angústias do protagonista.
A linguagem rica em detalhes sensoriais e a descrição vívida das visões macabras contribuem para criar uma experiência de leitura intensa e perturbadora.
Alguns críticos veem esse conto como uma alegoria sobre a luta interior do homem contra seus próprios demônios, representando os vícios, as paixões e as obsessões que atormentam a alma humana.
Outros enxergam na obra uma crítica social, onde os demônios simbolizam as forças opressoras da sociedade e as angústias do indivíduo diante da realidade.
Seminário dos ratos, de Lygia Fagundes Teles
Seminário dos ratos é um dos contos fantásticos da coletânea de mesmo título de Lygia Fagundes Teles. A obra traz histórias que extrapolam a realidade conhecida, usando recursos bastante interessantes.
A história acontece em uma casa afastada da cidade em que se reúnem vários chefes de estado para decidirem o que fazer com uma infestação de ratos.

O conto aborda temas como a corrupção, os jogos de interesse e a opressão de um sistema ditatorial. As personagens não têm nome e são caracterizadas pelo papel que exercem.
Ainda que os temas sejam bastante realistas, os ratos são monstruosos e dão à narrativa o teor fantástico característicos das obras da autora e de outros contos desse livro.
A causa secreta, conto de Machado de Assis
A causa secreta é um conto de Machado de Assis publicado, inicialmente, em 1885, na Gazeta do Povo, e, mais tarde, na antologia de contos Várias histórias, em 1896.
Trata-se de uma história bastante sinistra, envolvendo um homem de práticas bastante estranhas, chamado Fortunato, e sua amizade com o curioso e jovem médico Garcia. Para completar a equação, há Maria Luiza, a bela e jovem mulher de Fortunato.
Garcia e Fortunato conhecem-se quando socorrem um homem ferido. Garcia fica intrigado com o interesse de Fortunato pela condição do ferido.
Os dois continuam se encontrando e Garcia passa a frequentar a casa de Fortunato, tornando-se também amigo de Maria Luiza. Tempos depois, Fortunato e Garcia resolvem abrir um casa de saúde.
E episódios estranhos passam a acontecer, deixando Garcia bastante intrigado. Este passa a nutrir também uma paixão platônica pela mulher do amigo.
A atmosfera do conto é bastante perturbadora devido à figura de Fortunato que gradativamente vai se revelando para Garcia e também para o leitor.
O matador, de Patricia Melo
Máiquel é um jovem comum que vive na periferia de São Paulo e trabalha como vendedor de carros. Ele se envolve em uma aposta sobre um jogo de futebol e perde.
O pagamento por perder a aposta é ter de pintar o cabelo. Mas um erro no procedimento acaba levando Maiquel por caminhos inesperados.

Depois de matar um homem durante uma discussão, ele ganha fama como herói em sua comunidade e decide se tornar um matador de aluguel.
À medida que sua reputação cresce, ele se afunda cada vez mais no mundo do crime, perdendo a própria humanidade.
Em O Matador, Patricia Melo tece uma narrativa tensa e cheia de surpresas na linha dos contos urbanos e de suspense de Rubem Fonseca.
Passeio Noturno I, de Rubem Fonseca
Um homem de família, uma pessoa acima de qualquer suspeita. Será?
O protagonista do conto Passeio noturno I pertence à classe média alta, é casado, tem filhos, um trabalho respeitável.
Mas ele esconde uma outra face de si próprio que é assustadora. Todas as noites, após o jantar, ele sai para um passeio com seu carro de motor possante.
E os seus passeios noturnos lhe dão prazer e a possibilidade de extravazar as tensões vindas do trabalho e do ofício de provedor familiar. Mas, para isso, outras pessoas pagam com a própria vida.
Uma história eletrizante e muito perturbadora. Um dos vários contos de Rubem Fonseca que ficam em nossa mente muito tempo depois de sua leitura.
Jantar Secreto, Raphael Montes
Jantar Secreto é um thriller psicológico de Raphael Montes que rapidamente conquistou o público brasileiro e ultrapassou a marca de 100 mil exemplares vendidos.
A obra, que também ganhou uma adaptação para o cinema, apresenta uma trama envolvente e repleta de suspense, explorando temas como ambição, amizade e a obscura face da sociedade.

Um grupo de jovens amigos decide se mudar para o Rio de Janeiro em busca de novas oportunidades.
No entanto, a vida na cidade grande não é tão fácil quanto imaginavam. Com dificuldades financeiras, eles precisam encontrar uma forma de manter o apartamento alugado e garantir a própria subsistência.
É então que surge uma ideia: organizar jantares secretos para uma clientela exclusiva da elite carioca. Os encontros, divulgados pela internet, prometem experiências gastronômicas únicas e exóticas, mas escondem um segredo sombrio.
Conforme os jantares ganham popularidade, os amigos se veem envolvidos em um jogo perigoso. A cada refeição, o risco aumenta e a linha entre o prazer e a perdição se torna cada vez mais tênue.
Os convidados, seduzidos pela promessa de noites inesquecíveis, se tornam alvos de um plano macabro que pode ter consequências devastadoras.
O Vampiro de Curitiba, Dalton Trevisan
Dalton Trevisan, em O vampiro de Curitiba, nos convida a um passeio sombrio pelas ruas de Curitiba, onde a figura do “vampiro” se torna uma metáfora para a perversão e a obsessão sexual.
Nelsinho, o protagonista, é um homem comum com desejos nada comuns.
Ele vaga pela cidade em busca de suas vítimas, que vão desde virgens inocentes até prostitutas em fim de carreira. A sexualidade se torna uma força destrutiva, capaz de corromper e transformar tanto o predador quanto a presa.
Dalton Trevisan pinta um quadro vívido da sociedade curitibana, revelando seus aspectos mais obscuros e decadentes. A cidade, assim como seus personagens, é marcada pela violência, pela hipocrisia e pela busca desenfreada por prazer.
O conto não se limita a uma simples história de horror, mas sim a uma profunda análise psicológica do protagonista.
Nelsinho é um homem atormentado por seus desejos, incapaz de controlar seus impulsos. Sua figura representa a face mais sombria da natureza humana, a parte que todos tentamos esconder.
Em O Vampiro de Curitiba, Trevisan nos confronta com a questão da sexualidade, da violência e da moralidade. É um conto que provoca e incomoda, mas que ao mesmo tempo nos faz refletir sobre a complexidade da condição humana.
Assassinatos na Academia Brasileira de Letras, de Jô Soares
Assassinatos na Academia Brasileira de Letras se passa na cidade do Rio de Janeiro da década de 1920, um período de grande efervescência cultural e política no Brasil.
A trama gira em torno de uma série de assassinatos que aterrorizam os membros da Academia Brasileira de Letras.

Os “imortais”, como são chamados, começam a ser encontrados mortos um a um, em circunstâncias misteriosas e aparentemente sem explicação.
O comissário Machado Machado, um personagem inspirado em Machado de Assis, encarrega-se de investigar esses crimes macabros.
A ironia da situação é evidente: os membros da Academia, que em tese são imortais pela própria natureza de suas obras, estão sendo assassinados de forma cruel e inesperada.
Machado Machado, com sua perspicácia e senso de humor, se vê diante de um desafio e tanto: desvendar os motivos por trás desses crimes e encontrar o assassino antes que mais vítimas caiam.
O romance é uma deliciosa mistura de suspense, humor e história. Jô Soares recria com maestria o ambiente do Rio de Janeiro daquela época, com seus personagens excêntricos e suas intrigas políticas.
O paciente, Fernando Molica
O Paciente, de Fernando Molica, é um thriller psicológico que mergulha nas profundezas da mente humana, explorando os limites da sanidade e os mistérios que se escondem por trás de uma fachada aparentemente perfeita.
Com uma narrativa envolvente e personagens complexos, a obra convida o leitor a uma jornada intensa e perturbadora.
Um jovem psiquiatra, repleto de ambição e autoconfiança, é designado para tratar um caso singular em um hospital psiquiátrico renomado.
Seu paciente, Joe, é um enigma: um homem internado desde a infância, sem um diagnóstico preciso e com um histórico de deixar todos os profissionais que o atenderam à beira da loucura.
À medida que as sessões progridem, o psiquiatra se vê cada vez mais envolvido no caso de Joe.
A cada encontro, revelam-se novas camadas de mistério, desafiando os limites da razão e da sanidade. A linha entre realidade e fantasia começa a se desfazer, e o psiquiatra se vê diante de um enigma que pode colocar sua própria mente em risco.
Molica é mestre em construir atmosferas tensas e inquietantes, explorando a psicologia de seus personagens com maestria. Em O Paciente, o autor nos leva a uma jornada introspectiva, convidando-nos a questionar a natureza da loucura e a fragilidade da mente humana.
Conclusão
Como vimos, o gênero suspense na literatura brasileira apresenta ótimas opções de leitura. Embora não seja o gênero de maior fama entre os nossos leitores, muitos escritores criaram obras importantes dentro desse estilo.
As dez sugestões que trouxemos neste artigo são um bom começo para quem quer se aventurar pelas obras fantásticas e de suspense de nossa literatura.
Boa leitura!