Os livros clássicos são aqueles que nunca saem de moda. Geralmente conhecemos esses livros nas aulas de Literatura da escola. E a sua leitura é obrigatória para os testes e provas.
Os programas de ingresso nas universidades também exigem o conhecimento dos clássicos que são citados em muitas questões dessas provas.

Mas o que são livros clássicos, afinal? E por que eles estão nas listas de leitura dos programas de ingresso das universidades? O que os clássicos têm de tão relevante?
E mais: quais livros clássicos devemos ler toda a certeza? Quais os livros clássicos mais famosos da literatura brasileira? Por qual clássico começar?
São muitas perguntas e este artigo tem por pretensão responder a elas. Vejamos.
O que é um livro clássico?
Antes de mais nada, é importante entendermos o significado da palavra “clássico”. De forma sucinta, clássico é tudo o que merece ser imitado, tudo o que serve de modelo para a produção de novos produtos.
A princípio, o conceito de clássico era atribuído à cultura greco-latina da Antiguidade. Essa cultura atingiu grande importância e desenvolvimento em sua época e tornou-se, por isso, exemplar.

Com o Renascimento, entre os séculos XIV e XVI, a cultura greco-latina, já conhecida como clássica, era o modelo sobre o qual as obras do período eram produzidas.
O significado da palavra foi, então, se ampliando e hoje é atribuído àquilo que é referência e merece admiração, seja uma cultura, uma instituição, um autor, e mesmo um livro.
Um livro clássico é, portanto, uma obra reconhecida por fazer parte de uma história, de uma tradição, e por ter em si elementos inspiradores ou dignos de serem imitados.
Por que os livros clássicos estão nas listas dos programas de ingresso das universidades?
Não é preciso dizer aqui que as universidades buscam a excelência. Elas estão interessadas em alunos que tenham um repertório condizente com o conhecimento construído nelas.
Os livros clássicos apresentam um nivel de linguagem elevado, apresentam estilos reconhecidos pela tradição, exigem maior esforço por parte do leitor para serem lidos e fazem pensar, e muito, sobre a existência humana.
Quem entra no Ensino Superior deve ter um repertório cultural e uma carga de leitura suficientes para produzir e aprimorar novos conhecimentos, novos saberes.

Ler os clássicos nos ajuda exatamente nisso. Através da leitura de um livro clássico, aumentamos nosso vocabulário, ao interagirmos com palavras e expressões que não usamos geralmente no cotidiano.
Também temos a oportunidade de conhecermos melhor outros momentos da história, e de refletirmos sobre sentimentos, atitudes e comportamentos humanos. E essa prática é sempre uma experiência gratificante e transformadora.
Quais os livros clássicos devemos ler?
Pelo que dissemos neste artigo até aqui, já podemos concluir que todo livro clássico é relevante e sua leitura é, claro, recomendável
Por isso, nos limitaremos neste artigo àqueles que estão mais próximos de nós, brasileiros: os livros clássicos da literatura brasileira.
Livros clássicos da Literatura Brasileira
Nossa literatura é muita rica e temos uma lista enorme de livros exemplares e inspiradores. Desde o século XVII, nossos autores vêm produzindo obras excelentes e que falam muito sobre nossa história e sobre a essência humana.
Autores como Gregório de Matos, Padre Antônio Vieira, Tomás Antônio Gonzaga, Basílio da Gama nos presentearam com obras em verso e em prosa importantíssimas.
No século XIX, Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Castro Alves encantaram-nos com a poesia romântica. Seus versos exaltaram a exuberância de nossa natureza, o amor platônico e impossível, a saudade da infância perdida.

E também falaram da beleza e sensualidade feminina e do amor sensual e carnal. Além de denunciarem o horror da escravidão e o sofrimento dos homens escravizados em uma terra de natureza tão bela e generosa.
Foi também no século XIX que surgiram os romances românticos como A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, e as obras de José de Alencar, como O Guarani, Iracema, Lucíola e Senhora.
O romance é o gênero narrativo por excelência. Ele caracteriza-se por ser um longa narrativa que envolve geralmente vários personagens e vários conflitos ligados a uma trama central.
Nossos escritores foram mestres nesse gênero para o qual iremos olhar agora com mais atenção.
Dez romances clássicos de nossa literatura que são imperdíveis
Fazer uma listas com os livros clássicos da literatura brasileira mais importantes é uma tarefa difícil. Na verdade, muito difícil.
Mesmo assim, listaremos aqui dez romances que julgamos que todo leitor brasileiro deveria ler.
Lucíola, de José de Alencar
Esse romance conta a história da bela Maria da Glória, moça simples e pobre, e muito bondosa.
Maria da Glória enfrenta uma série de dificuldades que a levarão à prostituição. É quando a moça muda de nome e passa a se chamar Lúcia. Lúcia se torna a prostituta mais famosa, desejada e rica da cidade do Rio de Janeiro.
Ela também encontra o amor nos braços de Paulo e isso mudará sua vida e seu caminho, fazendo-a arrepender-se de seus atos e provocando nela o desejo de redenção.

Essa é uma obra que nos leva a refletir tanto sobre aspectos e questões sociais como sobre sentimentos e desejos humanos.
A hipocrisia social que tolera e, ao mesmo tempo, condena a prostituição e o amor verdadeiro e o sacrifício em nome desse mesmo amor são abordagens do livro bastante relevantes.
Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
Obra exemplar do Realismo brasileiro e do grande Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas narra a história de um homem pertencente à burguesia carioca da segunda metade do século XIX.
O livro é narrado pelo próprio Brás Cubas que, detalhe importantíssimo, está morto. Essa contradição tão irônica, um narrador morto dentro de um romance realista, é só um dos pontos marcantes e desconcertantes dessa obra.
Brás Cubas é, como dissemos, um homem rico. Mas nunca trabalhou para isso. Ele herdou sua fortuna do pai. E todas as suas tentativas de fazer algo para contribuir com a existência humana falharam.
Portanto, a história de Brás Cubas é a de uma vida banal, em que não há nada de grandioso ou importante. E o valor da obra não reside em grandes feitos e sentimentos avassaladores, como no Romantismo, por exemplo, mas na reflexão que provoca sobre a condição humana.

Ao ler sobre as atitudes, aspirações e pensamentos de Brás Cubas somos obrigados a pensar em nós mesmos, no quanto muitas vezes agimos, desejamos e sentimos como ele.
Essa é uma das obras mais importantes de toda a nossa literatura e vale cada minuto despendido em sua leitura.
Dom Casmurro, de Machado de Assis
Outra obra fundamental escrita por nosso maior escritor, Dom Casmurro é também o romance mais famoso da literatura brasileira.
O romance conta a história de amor entre Bentinho e Capitu. Ele, um menino rico e mimado. Ela, uma menina inteligente e pobre.
Os dois se apaixonam na adolescência, enfrentam o impedimento do amor devido à promessa de Dona Glória, mãe de Bentinho, de torná-lo padre, e, já adultos, com o rapaz livre da ordenação, casam-se.

Mas, nessa equação, entra uma terceira pessoa, Escobar. Escobar é um amigo que Bentinho faz no seminário onde foi estudar para ser padre.
É um moço bonito e ambicioso. Muito carismático, conquista toda a família de Bentinho e também a amizade de Capitu.
Mais tarde, Escobar casa-se com Sancha, melhor amiga de Capitu. Os casais passam a frequentar as casas um do outro. E, em dado momento, Bentinho começa a desconfiar de que sua esposa tem um caso com o seu melhor amigo.
No entanto, não há provas disso e, em todo o relato, feito pelo próprio Bentinho, há indícios da traição de Capitu, mas também de sua inocência.
E esse é exatamente o ponto que tornou essa obra tão famosa. A pergunta “Capitu traiu ou não traiu?” gera discussões e adeptos de ambos os lados até hoje.
Uma leitura indispensável, com toda a certeza.
O cortiço, Aluísio Azevedo
O cortiço é uma obra naturalista escrita pelo grande escritor maranhense Aluísio Azevedo.
Trata-se da história de um conjunto habitacional composto por noventa e cinco casinhas, onde moram lavadeiras e operários. É o Cortiço São Romão.
O dono do lugar é um ambicioso português chamado João Romão. Esse homem deseja enriquecer a qualquer custo. Explora os moradores do cortiço, os trabalhadores da pedreira (também dele) e a escrava fugida Bertoleza, sua amante.
No cortiço, moram personagens memoráveis de nossa literatura, como Rita Baiana, Jerônimo e Pombinha.

A obra denuncia o capitalismo selvagem em que o enriquecimento de um se faz às custas da exploração de muitos. É também uma história divertida e sensual que encanta pela alegria que emerge da dureza da vida das personagens.
O Ateneu, de Raul Pompeia
Esse é um romance de formação. Ou seja, uma história que narra dois anos da vida de um menino chamado Sérgio em um colégio interno para meninos, o Ateneu.
Uma instituição de renome que tem como lema formar mentes brilhantes e nobres. No entanto, o ambiente do colégio é opressor e o que os alunos realmente aprendem é a como sobreviver dentro dele.
O Ateneu funciona como um microcosmo da sociedade da época, pautada nas aparências e nos jogos de interesse. Nada muito diferente da sociedade de hoje.
Quem narra os fatos é o próprio Sérgio, muitos anos depois, quando já é adulto. E o relato é carregado do ressentimento causado pelas experiências vividas no colégio.
“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai à porta do Ateneu.
Coragem para a luta“.
Sérgio entra no colégio com a inocência de um menino que vivia sob os cuidados amorosos de sua mãe. Mas tem que aprender a ser forte para resistir e sobreviver à opressão do lugar, dos colegas, dos professores, e do diretor.
O diretor, Aristarco, é um homem vaidoso e ambicioso. Gosta do enaltecimento alheio e oprime a todos no colégio com sua personalidade. Ele é casado com Ema, uma mulher bonita e gentil em quem Sérgio encontra algum afeto.

Além do diretor, o menino tem que aprender a lidar também com os colegas e poucos são os que lhe oferecem uma amizade sincera.
A linguagem do romance é única em nossa literatura. Podemos chamá-la de impressionista, uma vez que são as impressões de Sérgio que vão colorindo com muitas nuances as cenas descritas.
Há também influências do Naturalismo e do Expressionismo nas descrições e no relato dos acontecimentos. O Ateneu é certamente uma leitura inesquecível.
Macunaíma, de Mário de Andrade
Outra leitura imperdível. Macunaíma é uma das grandes obras de nossa literatura. E é um experiência de leitura desafiadora.
Mário de Andrade era um estudioso de nosso folclore e um entusiasta das novas correntes artísticas que vigoravam na Europa. E, assim, ele aliou esses dois interesses para criar a história de um indígena bastante controverso.
Seu nome: Macunaíma. Em tupi-guarani, “o grande mal”. Pertencente à tribo tapanhumas, que vive às margens do rio Uraricoera, no Amazonas, Macunaíma já nasce criando caso.

Diferentemente dos indígenas criados pelos escritores românticos, que são bons, belos e heróicos, o personagem de Mário de Andrade é feio, preguiçoso e muito esperto.
Em busca de uma pedra, a muiraquitã, seu amuleto da sorte, ele vai sair da mata amazônica e chegará à crescente e promissora São Paulo (outra paixão de Mário).
Em São Paulo, Macunaíma vive grandes aventuras até recuperar a muiraquitã e poder voltar para casa. E o índio voltará bastante mudado.
Essa obra de Mário de Andrade propõe pensar o Brasil por uma perspectiva crítica e irônica e que, de fato, dá um vislumbre do que nós somos enquanto povo.
O quinze, de Raquel de Queirós
Primeiro livro da escritora cearense Rachel de Queirós, escrito quando ela era ainda muito jovem, O quinze se inscreve na chamada literatura regionalista da segunda fase do Modernismo brasileiro.
A obra narra a seca de 1915 no Nordeste e as consequências na vida das pessoas da região. Dentre elas, está a família de Chico Bento, um vaqueiro, morador de Quixadá, interior do Ceará, que luta para sustentar a mulher, Cordulina, e os filhos.
Diante da dificuldade de arranjar trabalho, Chico Bento decide partir para o Recife. No caminho, ele e a família passam por uma série de dificuldades e por muita fome.

Chegando à cidade, conhecem a professora Conceição que os ajuda e os convence a ir para São Paulo. A moça é apaixonada por Vicente, seu primo, que não lhe corresponde.
Essa é uma história rica que demonstra, como em outros romances do período, a luta do homem pela sobrevivência em um ambiente inóspito e hostil devido à falta de chuvas.
Outro ponto importante sobre a leitura deste clássico de nossa literatura é o fato de Rachel de Queirós ser uma das primeiras mulheres a escrever e publicar livros no Brasil.
A autora foi também a primeira escritora mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras.
Vidas secas, de Graciliano Ramos
Vidas secas é a principal obra de um dos nossos mestres da literatura, Graciliano Ramos. O livro narra a saga de uma família de retirantes pelo sertão nordestino em busca de sobrevivência.
Fabiano e sua família buscam sobreviver à seca no sertão nordestino. A família inicialmente é composta por ele, sua mulher, Sinhá Vitória, os dois filhos, a cachorra Baleia e um papagaio.
Fabiano é vaqueiro e, durante a seca, caminha com a família pelo sertão em busca de trabalho. Quando consegue emprego, ele e a família se instalam por um tempo no lugar e ali vivem.
As personagens humanas dessa família são animalizadas pela própria condição em que vivem. São embrutecidas pelo ambiente e pela fome.

Já a cachorra Baleia é humanizada. É ela quem se preocupa em alimentar a família, ainda quando estão caminhando pelo sertão.
Quando se instalam na fazenda, é também preocupação de Baleia cuidar de todos, tomar conta do gado e dar afeto e atenção às crianças.
Uma curiosidade desse livro clássico é o fato de sua escrita partir de um conto de Graciliano Ramos. Esse conto é justamente o que tem como protagonista a cachorra Baleia e passa, depois, a ser o capítulo nove do romance.
O livro apresenta uma linguagem seca e direta, com poucos adjetivos e com frases e orações justapostas.
A estrutura da narrativa é cíclica, composta por 12 capítulos relativamente independentes um do outro. A história se inicia com as personagens caminhando pelo sertão e termina com elas caminhando pelo sertão.
Entre esses dois momentos, sucedem-se eventos que revelam o drama dessa família. E que demonstram também nossas estruturas e relações sociais num processo de denúncia de uma de piores nossas mazelas: a seca nordestina.
Capitães da areia, de Jorge Amado
Jorge Amado é um dos mais populares escritores de nossa literatura. Isso se deve ao fato de suas obras tornarem-se novelas e filmes e, assim, chegarem ao grande público.
São muitos os romances famosos desse escritor baiano. Entre eles, destacamos Capitães da areia. Essa é uma obra de cunho social ainda muito relevante, infelizmente, até os dias de hoje.
O romance conta a história de um grupo de crianças abandonadas que vive nas areias da praia da cidade de Salvador.
Os meninos moram num velho depósito abandonado e bastante avariado. Mas são os donos do lugar. A praia pertence a eles e, por isso, são chamados de capitães da areia.

Pedro Bala é o líder do grupo e, junto com dois outros companheiros, João Grande e o Professor, tramam uma série de golpes para que, assim, o grupo possa sobreviver.
Há nesse romance todos os ingredientes de um bom folhetim: amor, triângulo amoroso, muitas aventuras, a luta do bem contra o mal, heroísmo, e também a sensualidade própria do universo das obras de Jorge Amado.
A hora da estrela, de Clarice Lispector
Último livro escrito por Clarice Lispector, pouco antes de sua morte, é a história de uma nordestina privada de quase tudo que a vida pode oferecer. Mas é também a história da própria literatura que tanto Clarice amava.
A protagonista do livro chama-se Macabéa. Ela é nordestina mas vive no Rio de Janeiro e trabalha como secretária em um escritório.
O patrão a mantém no emprego por pena, já que Macabéa faz muito mal o seu trabalho. A moça não tem beleza, inteligência, saúde e sequer tem consciência disso.
No decorrer da narrativa, Macabéa vai gradativamente tomando consciência de si mesma. Mas isso não lhe trará nenhuma redenção.
A escrita de Clarice é primorosa e poética, ao mesmo tempo dura e perturbadora. É impossível sair de seus textos da mesma forma em que entramos.

A hora da estrela é um livro curto, mas que concentra três narrativas que se entrelaçam. A história de Macabéa, a história do narrador Rodrigo S.M., e a história da própria narrativa.
É um exercício de leitura pelo qual todos nós precisamos passar e é, portanto, muito necessário.
Conclusão
Esses são apenas alguns dos livros clássicos da literatura brasileira que devem ser lidos por todos nós, leitores, e brasileiros.
Cada um dos autores citados neste artigo produziram ainda muitas outras obras importantes e necessárias. E temos também muitos outros grandes autores não citados em nossa pequena lista e obras igualmente importantes.
Os livros clássicos de nossa literatura têm muito a nos dizer e sua relevância vai além da obrigação escolar ou dos exames vestibulares. Eles nos falam sobre a vida, sobre a história do nosso país, sobre a existência humana, e sobre nós mesmos.
Podem parecer difíceis, e até distantes, a princípio. Mas, se insistimos em sua leitura, descobrimos histórias e personagens encantadores e experiências que levaremos para toda a vida.
