Capitães da areia, de Jorge Amado, foi publicado em 1937. É um romance comovente e um dos preferidos dos leitores desse famoso escritor baiano.

Mas nem tudo foram flores com esse tão amado livro. Capitães da areia foi escrito em uma época em que escrever podia ser muito perigoso e livros podiam ser queimados em praça pública.
Foi o que aconteceu com esse livro. Mais de 1000 cópias da obra foram queimadas em uma praça de Salvador. O livro foi censurado por trazer como temas a luta de classes e a vida dos meninos de rua. E Jorge Amado foi preso por fazer do partido comunista.
Mas a obra resistiu a tudo isso. E continua até hoje contando parte de nossa história em suas páginas e encantando os leitores com as aventuras dos meninos capitães da areia.

O livro é dividido em três momentos: “Sob a lua num velho trapiche abandonado”; “Noite da grande paz, da grande paz dos teus olhos”; e “Canção da Bahia, canção da liberdade”.
Essas três partes narram a trajetória dos capitães da areia desde o início da liderança de Pedro Bala até o amadurecimento das personagens principais e sua saída do bando.
Personagens centrais de Capitães da areia
Esse livro apresenta uma série de personagens interessantes e memoráveis. Essas personagens são os meninos que fazem parte do bando e também algumas outras que se relacionam com eles. Veja a seguir.
Pedro Bala
É o líder dos capitães da areia. Tem esse apelido por ser filho de um operário que morreu atingido por uma bala em uma manifestação por melhores condições de trabalho. Além disso, é esperto e move-se com rapidez e destreza. Foi assim que venceu a luta contra o antigo chefe do bando e tornou-se o líder. Pedro é corajoso e justo e lidera com firmeza e sabedoria o grupo de meninos.

João Grande
João Grande é o segundo em comando do grupo. Acompanha Pedro Bala em tudo que o chefe faz. É um menino negro grande, forte e muito leal.
Professor
O Professor é quem ajuda Pedro Bala a tramar os golpes que aplicam na rua para sobreviver. Gosta de ler e conta para os outros meninos as histórias que descobre nos livros. Além disso, é um grande desenhista, um artista.
Volta Seca
Volta Seca é nordestino e afilhado de Lampião, por quem tem enorme admiração. Anseia por crescer logo para poder se juntar aos cangaceiros no sertão. É irritadiço e gosta de uma boa briga.
Sem Pernas
Sem Pernas é órfão, nasceu com um problema congênito e manca de uma perna. Sofre perseguições por isso e é ridicularizado. Sente uma revolta enorme dos adultos e carrega um forte desejo de se vingar de todos.
Pirulito
Pirulito é um menino de grande devoção, tem paixão por tudo que se refere à igreja e deseja ser padre.
Gato
Gato é um menino bonito, galante e sedutor. É um malandro nato que frequenta a zona de prostituição da cidade e logo consegue se tornar amante de Dalva, prostituta do lugar.
Dora
Dora é a única menina do bando. Perdeu os pais para um surto de varíola que assolava a cidade e passou a vagar pelas ruas com o irmão mais novo para não ser obrigada a ir para o orfanato e ser separada dele. É quando encontra alguns meninos do bando e vai parar no trapiche. Depois de alguma resistência, é aceita e logo se torna um dos capitães mais destemidos do bando.

Há ainda outras personagens importantes como o Padre José Pedro e a Mãe de Santo que ajudam e defendem como podem os meninos dos problemas em que se metem e das dificuldades que a vida na rua lhes impõe. Querido de Deus, capoeirista e amigo dos meninos, e Dalva, prostituta e amante do Gato, também são personagens que se destacam.
Enredo de Capitães da areia
A narrativa começa nos apresentando o trapiche onde os meninos moram. O trapiche é um antigo galpão onde eram guardadas as mercadorias que chegavam nos navios. Mas a água do mar, naquela parte da praia, retrocedeu, deixando um longa faixa de areia e impedindo os navios de chegar até o cais.

Assim, o galpão tornou-se o trapiche onde os meninos dormem sob a luz da lua, uma vez que boa parte do teto já não existe mais. O grupo ganhou o nome de capitães da areia porque os meninos se tornaram os donos dessa parte da praia em frente ao trapiche.
O líder do grupo é Pedro Bala, menino loiro, altivo e esperto. Junto dele andam João Grande, um garoto alto e forte, e o Professor, menino inteligente e sabido. Os dois são a força e a sabedoria que auxiliam Pedro Bala a cuidar do grupo.
Os meninos vivem de pequenos golpes e furtos. Não raro arrumam problemas com a população e com a polícia. Todos na cidade temem os capitães da areia e os consideram perigosos.
Eles têm seu próprio código de conduta e honra e agem, muitas vezes, de forma condenável. Falta aos meninos os ensinamentos da família e da escola que não receberam. Falta-lhes amor e cuidado. Ainda que o padre e a mãe de santo tentem cuidar deles.

Até que chega ao bando uma menina chamada Dora. A princípio, ela é recebida de forma bastante grosseira e quase é violentada. Mas João Grande impede isso. Logo, os meninos são conquistados pela doçura da menina.
Dora conquista também os corações de Pedro Bala e do Professor. Ela corresponde ao amor de Pedro e os dois tornam-se um casal. É uma história de amor linda a de Pedro e Dora.

Os meninos enfrentam muitos desafios e perigos no decorrer da história e o tempo vai tornando-os mais maduros. Eles crescem e precisam seguir cada um o seu próprio rumo. E, assim, se separam, mas os capitães da areia continuam. Outros meninos chegam para compor o bando. Outro líder assume o comando deles.
Considerações sobre a obra
Capitães da areia é um livro inesquecível que nos emociona e conquista. Infelizmente, sua história ainda é a de muitas crianças no Brasil que são abandonadas à própria sorte e vivem nas ruas pedindo esmolas ou vendendo balas.
A atualidade dessa obra que já tem quase um século de criação nos chama a refletir sobre a forte desigualdade social de nosso país. Faz-nos pensar em como são os mais frágeis e inocentes os que mais sofrem.
A escrita poética de Jorge Amado consegue deixar ainda mais dolorosa a realidade retratada no livro. E o narrador, ainda que onisciente, se coloca em defesa dos meninos, denunciando a dura realidade em que ele estão colocados.
Mas, mesmo com esse retrato tão triste das crianças que moram na rua, o livro também fala de companheirismo, lealdade, amizade e amor. E nos faz pensar sobre como nós, seres humanos, mesmo em condições muito adversas, somos capazes de encontrar formas de sobreviver a elas.
Formas essas que só são possíveis acessando o que há de bom dentro de nós mesmos e dos outros. Assim como fazem os meninos de Capitães da areia.
P. S.: Cecília Amado, neta de Jorge Amado, produziu e dirigiu o filme Capitães da Areia, lançado em 2011. Ainda que o filme não substitua a leitura do livro, é um bom exercício de comparação entre duas formas de se contar uma mesma história.
Fica, então, a sugestão: leia a obra de Jorge Amado e, depois, assista ao filme.
Leia também uma crônica de Marina Colasanti que nos leva a refletir sobre as crianças em situação de rua hoje.