Afinal, para que serve a arte?
Essa é uma pergunta bastante frequente e nem sempre fácil de responder. Pelo menos, não quanto às muitas possibilidades de resposta. De uma forma simplória, pode-se dizer que a arte serve para muita coisa.
E são muitas as formas de arte, mas hoje eu gostaria de falar de uma em especial: a poesia. Em uma sociedade voltada para o sucesso e a produção de resultados rápidos, versos e rimas parecem coisa de gente tola e “emocionada”.
No entanto, precisamos da delicadeza e da emoção proporcionadas pela poesia. Precisamos desse outro código, um código dentro do código, que é a linguagem poética. Aquela capaz de se conectar com o mais profundo de nosso ser, com o indizível.

E a poesia não está só nos poemas, com suas estrofes rimadas e metrificadas, seus muitos recursos linguísticos e sonoros, mas também em uma forma mais popular de versificação, a canção, a música.
Como aquela canção que o pega pelo braço, no meio da tarde, quando você está rolando o feed do Instagram e o leva para um momento especial de sua vida. Um momento que você nem sabe dizer exatamente como foi, mas que foi um instante de vida intensamente experimentado.
Porque a música tem poderes incríveis! E a poesia (a dos poemas), sua irmã, feita da mesma matéria, é também igualmente poderosa!
E é possível que a poesia, um grupo de versos, uma canção, nos salve do peso do dia a dia, das dores que enchem o peito, do sofrimento humano seja lá qual for? Sim. É possível.
Recentemente, eu mesma fui salva pela poesia. Em um dia de tristeza, de saudade, de solidão, encontrei meio que por acaso (se é acaso encontrar um livro no meio de tantos outros na casa de uma professora de Língua Portuguesa e Literatura) os poemas de Upile Chisala.
Upile é uma poeta do Malawi que fala em seus versos sobre as dores de ser mulher e da solidão feminina. Fala também de amor, de coragem, de força para enfrentar as adversidades. E o faz com uma beleza e uma delicadeza feitas de palavras bem escolhidas e bem simples.

O que aconteceu nesse dia foi que a poesia de Upile Chisala, uma mulher de um país bem distante do meu, chegou ao meu ouvido interno, aquele que acionamos quando abrimos o coração, e disse: “Estou aqui, sou sua companheira nesta sua dor”.
A poesia é assim: empática e solidária. É um respiro para a alma. Um consolo. Um aconchego. Ao ler os versos de Upile me senti acalentada e a tristeza foi também alegria. Uma alegria só experimentada por quem se permite a cumplicidade com a poesia.
Transformar em palavras o que foi esse encontro, meu com a poesia de Upile, é algo um tanto simplista. Na verdade, não há palavras para explicar. É preciso sentir. É preciso ter também esse encontro.

Por isso, convido você, caro leitor, para conhecer a poesia de Upile Chisala. E a poesia de tantos outros poetas incríveis. E também dos compositores da música popular. Abra os ouvidos da alma e ouça o que a poesia deles tem a lhe dizer.
Creio que esse seja o melhor jeito de compartilhar essa fruição proporcionada pela arte poética: a experiência!
Ferreira Gullar disse certa vez: “A arte existe porque a vida não basta”. E a vida não basta mesmo. E nem é suficientemente suportável. É preciso um pouco mais que a vida para se viver. E é isso que a arte, e a poesia em especial, nos dá.
Um viva à Arte! Salve a Poesia! Obrigada, Upile Chisala!
Você também pode gostar de ler uma outra crônica escrita por mim sobre uma personagem famosa de nossa literatura. Acesse aqui.
Samira Mór é formada em Letras pela UFJF e Mestra em Literatura pela mesma instituição. É também professora das redes pública e privada há mais de trinta anos. Apaixonada por palavras e livros desde sempre, seu objetivo é partilhar com as pessoas o amor pela leitura e pelos livros.
