O Ateneu, de Raul Pompeia, publicado em 1888, é um clássico de nossa literatura que permanece bastante atual ainda hoje.
Mais do que a narrativa de um colégio interno, esse romance é um retrato do Brasil do século XIX, de suas contradições, valores e hipocrisias. Nesta resenha, vamos percorrer os principais pontos da obra e entender por que ela continua essencial.
Quem é Raul Pompeia?
Raul Pompeia nasceu em Angra dos Reis em1863. Foi um escritor precoce e inquieto, envolvido com as transformações políticas e sociais de sua época.
Jornalista e romancista, escreveu O Ateneu, sua obra-prima, considerada um romance naturalista e psicológico, marcada pelo olhar crítico e pela força da memória.
O livro foi lançado no contexto de um Brasil em ebulição: a escravidão em seus últimos anos, a monarquia em declínio e o desejo de modernização.

Esse ambiente se reflete nas páginas do romance, que desmonta a idealização da infância e mostra a formação da juventude em meio a vaidades, corrupções e desilusões.
Raul Pompeia morreu no Rio de Janeiro em 25 de dezembro de 1895.
Enredo de O Ateneu
A narrativa é conduzida em primeira pessoa por Sérgio, que recorda sua juventude no colégio interno chamado Ateneu. Logo no início, seu pai o adverte:
“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, apontando-me o Ateneu. Coragem para a luta.”
Dentro dos muros da instituição, Sérgio descobre um universo que pouco tem de inocente.
A disciplina rígida do diretor, Aristarco, figura autoritária e ambiciosa. A convivência entre os alunos, permeada por rivalidades, vaidades e pequenos jogos de poder. A decepção com a aparente moralidade do colégio, que se mostra cheia de contradições.
O Ateneu funciona como uma metáfora da sociedade brasileira, onde as virtudes pregadas em público convivem com vícios secretos. O desfecho, marcado por um incêndio que destrói o colégio, simboliza a ruína de um sistema baseado em aparências e hipocrisia.

Personagens principais de O Ateneu
- Sérgio: narrador e protagonista, que revisita suas memórias com um tom reflexivo e crítico.
- Aristarco: diretor do colégio, figura rígida, ambiciosa e autoritária, símbolo de poder e contradição.
- Ema: esposa de Aristarco, personagem envolta em sedução e ambiguidades.
- Amigos e colegas de Sérgio: representam a diversidade de tipos humanos, cada qual com sua própria contradição.
Análise crítica do romance de Raul Pompeia
O Ateneu é mais do que um romance de formação; é uma denúncia. Raul Pompeia expõe a fragilidade da educação brasileira do século XIX, marcada pela repressão, pela desigualdade e pela superficialidade moral.
Entre os pontos mais marcantes da obra estão:
- A crítica social: o colégio funciona como uma micro-sociedade, onde se revelam os vícios e virtudes do Brasil da época.
- A linguagem: rica em descrições, densa e reflexiva, exigindo a atenção do leitor.
- O simbolismo: o incêndio final representa não apenas a destruição do colégio, mas o colapso de uma ordem moral baseada em aparências.
- A psicologia das personagens: os sentimentos e contradições de Sérgio são narrados com profundidade rara na literatura brasileira da época.
Por que ler O Ateneu hoje?
Apesar de ambientado no século XIX, o romance fala sobre vaidade, corrupção, desigualdade e falsas aparências, temas que continuam atuais.
A obra questiona a formação da juventude e o papel das instituições. Sua linguagem, embora densa, envolve e provoca reflexões profundas.

É uma leitura indispensável para quem deseja entender não apenas a história da nossa literatura, mas também as raízes de questões sociais e culturais que ainda enfrentamos.
Conclusão
Ler O Ateneu, de Raul Pompeia, um romance que une crítica social, reflexão psicológica e riqueza narrativa, nos mostra que a literatura pode ser tanto arte quanto denúncia.
Se você ainda não leu este clássico, faça dele uma de suas próximas leituras. É uma obra que permanece viva porque continua nos dizendo algo essencial sobre nós mesmos.
E você, caro leitor, já leu O Ateneu? Compartilhe sua impressão e vamos continuar essa conversa sobre um dos romances brasileiros mais impactantes da nossa literatura.
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Samira Mór é formada em Letras pela UFJF e Mestra em Literatura pela mesma instituição. É também professora das redes pública e privada há mais de trinta anos. Apaixonada por palavras e livros desde sempre, seu objetivo é partilhar com as pessoas o amor pela leitura e pelos livros.
