A Fuvest, fundação responsável pelo vestibular da USP, Universidade de São Paulo, propõe uma lista de leitura obrigatória para as suas provas. Essa lista sofre alterações todos os anos e, para o ano de 2026, foram selecionadas nove obras.
As obras são todas de autoria feminina e a lista conta com nomes importantes do cenário literário nacional e internacional. Veja neste artigo quais são essas obras, do que elas falam e quem são suas autoras.
Livros para leitura obrigatória no vestibular Fuvest 2026
- A visão das plantas, de Djaimilia Pereira de Almeida (2019)
- Canção para ninar menino grande, de Conceição Evaristo (2018)
- Balada de amor ao vento, de Paulina Chiziane (1990)
- As meninas, de Lygia Fagundes Telles (1973)
- O Cristo Cigano, de Sophia de Mello Breyner Andresen (1961)
- Caminho de pedras, de Rachel de Queiroz (1937)
- Memórias de Martha, de Júlia Lopes de Almeida (1899)
- Nebulosas, de Narcisa Amália (1872)
- Opúsculo Humanitário, de Nísia Floresta (1853)
A visão das plantas, de Djaimilia Pereira de Almeida
Esse livro narra a história de Celestino, um homem que, já bem velho, cuida esmeradamente de um jardim. Sua vida se resume às plantas desse jardim.
O passado de Celestino, no entanto, não foi nada idílico. Na juventude, viveu muitas aventuras e foi capaz de atos de enorme violência.
Djaimilia conta essa história de forma bastante poética e sem julgamentos entre o bem e o mal. A delicadeza do relato e o retrato tocante e profundo do protagonista tornam esse romance encantador.
Djaimilia Pereira de Almeida nasceu em Angola em 1982, mas cresceu em Portugal. É professora e escritora. Sua obra fala sobre questões de raça, identidade e gênero. Publicou seu primeiro romance, Esse cabelo, em 2015.
Canção para ninar menino grande, de Conceição Evaristo (2018)
Em Canção para ninar menino grande, Conceição Evaristo nos conta a história de Fio Jasmin e suas mulheres. Mais importante que a história desse príncipe negro que é Fio Jasmin, são as histórias de cada uma de suas mulheres.
O livro vai costurando a história conforme Fio vai indo de uma cidade para outra como condutor do trem. Em cada cidade, há uma mulher a sua espera. E, assim, os amores e as vidas vão se entreleçando e se sucedendo umas às outras.
É uma história feita de muitas histórias. Algumas engraçadas, outras tristes, e ainda também trágicas. E a escrita sedutora e intrigante de Conceição Evaristo que nos enreda sem que consigamos parar de ler.
Conceição Evaristo nasceu em Belo Horizonte (MG). É professora universitária e escritora. Ganhou diversos prêmios com obras que falam da condição do negro no Brasil, de identidade, de gênero, de desigualdade social, com uma linguagem altamente poética e significativa.
Balada de amor ao vento, de Paulina Chiziane (1990)
Esse é o primeiro romance da escritora moçambicana Paulina Chiziane. Narrado com uma linguagem sutil e poética, conta a história de amor de Sarnau por Mwando. Um amor à primeira vista que traz para a personagens momentos de grande felicidade entreados a outros de grande tristeza, abandono e solidão.
O livro traz a cultura de Moçambique, a prática da poligamia vigente quando o país era ainda colônia portuguesa e as relações conturbadas entre homens e mulheres em que, segundo a autora, a mulher sempre tem a carga maior de dor.
Paulina Chiziane nasceu em Maputo, capital de Moçambique, em 1955. É escritora renomada e ganhadora de diversos prêmios por seus livros. Suas obras falam sobre as questões sociais vividas pelo povo de Moçambique pós período colonial e sobra a condição da mulher nessa sociedade.
As meninas, de Lygia Fagundes Telles (1973)
Esse é um romance de formação. Ou seja, uma narrativa que traz as transformações por que passim três moças em seu processo de amadurecimento e chegada à vida adulta.
Ana Clara, Lorena e Lia vivem em um pensionato para moças em São Paulo nos setenta. Ali, as histórias dessas três meninas se encontram. Ainda que muito diferentes, elas têm em comum o contexto sufocante da ditadura militar, os apelos do sexo e das drogas.
Um romance corajoso e inovador escrito por uma das maiores escritoras da literatura brasileira.
Lygia Fagundes Telles nasceu em São Paulo em 1918, mas passou toda a infância e adolescência no interior do estado. Formou-se em Direito e, além de advogada, construiu um longa carreira como funcionária pública.
O Cristo Cigano, de Sophia de Mello Breyner Andresen (1961)
Esse livro é uma antologia de poemas publicada em 1961. Nos poemas dessa obra, percebem-se já os traços característicos da poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen.
Seu estilo direto, de forte lirismo e delicadeza fazem de Sophia uma das maiores vozes da poesia do século XX. Em seus versos, entrelaçam-se os dramas humanos e a natureza, a presença constante do mar, as reflexões profundas sobre a existência e a concretude da paisagem.
Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu em Portugal em 1919. Foi escritora e colaborou com vários periódicos portugueses. Vencedora do Prêmio Camões, o mais alto galardão da literatura em língua portuguesa.
Caminho de pedras, de Rachel de Queiroz (1937)
Obra de forte engajamento político dessa que é uma de nossas grandes romancistas, Rachel de Queiroz, Caminho de pedras narra a luta de uma mulher para viver sua liberdade amorosa e política.
A história se passa durante o governo de Getúlio Vargas, nos anos trinta do século passado. Noemi, a protagonista, vive em Fortaleza, é casada e mãe. No entanto, é infeliz no casamento e sente que lhe falta algo.
Essa falta é preenchida quando ela se engaja no partido comunista e conhece Roberto. Os dois se aproximam e estabelecem entre si uma forte conexão intelectual. Essa conexão acaba por fazê-los amantes.
Noemi sabe o caminho de pedras que enfrentará ao fugir daquilo que a sociedade espera de um mulher: ser mãe, esposa e dona de casa. Ainda assim, decide seguir adiante em busca de sua própria realização.
Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza em 1910. Começou a escrever ainda muito jovem e ganhou notoriedade já a partir de sua primeira obra, O Quinze. Foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras e ganhadora do Prêmio Camões.
Memórias de Martha, de Júlia Lopes de Almeida (1899)
Publicado inicialmente como folhetim (capítulos periódicos em um jornal), em 1888, Memórias de Martha é o primeiro romance de Júlia Lopes de Almeida.
O livro conta a história de Martha, uma menina que cresce ao lado da mãe em um cortiço do Rio de Janeiro. É Martha quem nos conta sua própria história e, através dela, podemos ver o desejo da menina de superar sua própria condição através da educação.
Martha quer ser professora, ainda que a mãe queira que ela aprenda os afazeres domésticos como forma de se sustentar no futuro. O desejo da menina por uma profissão, um trabalho fora de casa, demonstra já as mudanças por passaria a realidade da mulher no século XX.
Júlia Lopes de Almeida nasceu no Rio de Janeiro em 1862. Foi escritora e contribuiu para diversos periódicos da época com crônicas e artigos. Umas das idealizadoras da Academia Brasileira de Letras, tem uma vasta obra literária.
Nebulosas, de Narcisa Amália (1872)
Única obra publicada pela autora, Narcisa Amália, esse livro é uma coletânea de 44 poemas que versam sobre a condição da mulher, a natureza e a abolição da escravatura.
O livro teve boa repercussão à época de sua publicação por ser de autoria de uma mulher, fato incomum naquele momento, uma vez que geralmente eram os homens os detentores da produção intelectual.
Narcisa Amália nasceu em São João da Barra em 1852 e foi a primeira mulher a exercer a profissão de jornalista no Brasil. Foi ativista social, lutando pelos direitos da mulher e pela abolição da escravatura.
Opúsculo humanitário, de Nísia Floresta (1853)
Esse livro é um ensaio sobre a educação brasileira. Nísia Floresta propõe na obra uma reforma da educação, considerando a mulher o principal agente dessa mudança.
A educação feminina à época é o ponto de partida para as reflexões propostas pela autora. Para ela, a condição da mulher dentro da sociedade determina o nível de civilidade desta.
Nísia Floresta nasceu em 1810 na Paraíba. Foi educadora, escritora e poetisa, tendo contribuído também como jornalista.
Conclusão
Como podemos ver, é uma excelente seleção de obras literárias e certamente a leitura delas contribuirá não só para que os candidatos tenham êxito na prova da Fuvest, mas também para o aprofundamento em questões que interessam à sociedade contemporânea.
As provas ocorrerão em duas fases: a primeira, em 23 de novembro; e a segunda, em 14 e 15 de dezembro.
Samira Mór é formada em Letras pela UFJF e Mestra em Literatura pela mesma instituição. É também professora das redes pública e privada há mais de trinta anos. Apaixonada por palavras e livros desde sempre, seu objetivo é partilhar com as pessoas o amor pela leitura e pelos livros.
