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Renascimento: contexto histórico e características

O Renascimento foi um movimento político, econômico e cultural que vigorou na Europa entre os séculos XIV e XVII. Teve grande força nas artes, na ciência e na filosofia e se caracteriza pelo retorno dos estudos das obras clássicas e pelo racionalismo.

O homem vitruviano, desenho de Leonardo da Vinci.
O homem vitruviano, de Leonardo da Vinci

Contexto histórico do Renascimento

Três acontecimentos são as bases para o Renascimento: o retorno da vida nas cidades, as viagens ultramarinas e a retomada dos estudos dos textos clássicos da antiguidade grega e latina.

O retorno da vida nas cidades

O final da Idade Média trouxe o fim dos feudos e a volta da vida nas cidades. Essas cidades viviam basicamento do comércio. Esse comércio precisava de mercadorias e estas vinham, em grande parte, do Oriente.

Mas o caminho que os europeus costumavam usar para chegar ao Oriente estava fechado. Eles precisavam encontrar outro caminho, mas teria que ser pelo mar. Não foi uma empreitada fácil. Foi preciso viajar por uma longa distância enfrentando os perigos reais e imaginários dos oceanos.

As viagens ultramarinas

As viagens ultramarinas foram impulsionadas pelos empreendimentos da Escola de Sagres no século XV. Essa era uma escola náutica liderada pelo infante D. Henrique. Os estudos da Escola de Sagres possibilitaram os meios para que Portugal fosse o primeiro país a realizar uma longa viagem por mar.

As viagens ultramarinas

A primeira dessas viagem que teve sucesso e chegou até a Índia foi a de Vasco da Gama, em 1498. Os portugueses foram os primeiros europeus a realizarem um feito tão grandioso e enfrentaram grandes desafios até chegar a Calicute, na Índia.

As viagens ultramarinas promoveram a expansão dos impérios europeus e são consideradas acontecimentos humanos importantíssimos. Elas romperam barreiras imaginárias, como os mitos a respeito dos perigos do mar, e também geográficas e culturais.

As viagens ainda levaram a uma nova perspectiva diante do mundo e do próprio ser humano que pode perceber o quanto somos capazes de ir além dos limites que conhecemos, tanto do mundo quanto de nós mesmos.

A retomada dos textos clássicos

Durante a Idade Média no Ocidente, todo o conhecimento ficou sob a guarda da Igreja Católica. Os monges tinham a tarefa de estudar e reproduzir os textos antigos para que esse conhecimento não se perdesse.

No entanto, muito do que os textos gregos e latinos dizia era considerado inadequado ou contrário às Escrituras Sagradas. Assim, muitas obras antigas ou se perderam ou foram alteradas para que se conformarem ao ideário cristão.

Escola de Atenas, afresco de Rafael Sanzio.
Escola de Atenas, de Rafael Sanzio

Mas, no Oriente, durante esse período, essas mesmas obras não foram alteradas. Com a invasão da cidade de Constantinopla pelos turcos otomanos, os sábios da biblioteca onde essas obras eram guardadas obras fugiram com elas para Roma.

Houve, nesse momento, a possibilidade de se estudar as obras originais novamente. Esses textos traziam uma visão antropocêntrica da vida que se contrapunha ao pensamento teocêntrico do período medieval.

Catedral de Santa Maria del Fiore em Florença
Catedral Santa Maria del Fiore, em Florença

As viagens ultramarinas permitiram ao homem europeu do século XV perceber a sua própria capacidade de vencer grandes desafios e ir além do seu próprio limite. Também mostraram a esse homem outras formas de viver e outras culturas.

Os estudos dos textos antigos se somaram a essa nova visão por valorizarem a figura humana. É possível, inclusive, perceber nos relatos míticos como as atitudes e sentimentos humanos governam os deuses gregos. Estes agem como os homens, pois demonstram atitudes e sentimentos próprios do ser humano.

O retorno da vida nas cidades, as viagens ultramarinas e as obras clássicas reforçaram a visão antropocêntrica da vida que surgia depois de um longo período teocêntrico. O humanismo, movimento de transição ocorrido no século XV, preparou o caminho para o surgimento do Renascimento.

Renascimento cultural

O Renascimento cultural começou na Itália no século XIV e espalhou-se pela Europa. Foi um movimento que se expressou através das artes em geral e da filosofia.

Dele surgiram muitos artistas importantes para a história da humanidade, como Leonardo da Vinci, Michelângelo, Shakespeare e Luís de Camões.

Monalisa, de Leonardo da Vinci
Monalisa, de Leonardo da Vinci

As obras artísticas renascentistas tinham como inspiração a pintura, a escultura, a filosofia e a mitologia dos gregos antigos, que eram chamados clássicos, dignos de serem imitados. Por isso, a arte desse período também é chamada de clássica e o movimento, de Classicismo.

Características do Classicismo

O Classicismo caracteriza-se pelo pensamento racional que se sobrepõe à emoção e à fé. Outras características desse estilo são:

  • o equilíbrio, a harmonia e a clareza;
  • a valorização da beleza e da forma;
  • o movimento e o dinamismo;
  • a inspiração nas obras clássicas do passado grego e latino;
  • a influência da visão antropocêntrica presente na filosofia e na mitologia gregas;
  • o universalismo;
  • a busca da perfeição;
  • o fusionismo;
  • a valorização da ciência.

Os artistas renascentistas abandonaram o modo de pensar medieval pautado no teocentrismo e assumiram em sua arte uma visão antropocêntrica da vida em que o homem torna-se o centro de suas obras.

Eles estudaram anatomia para representar o homem em suas pinturas de modo universal e belo, seguindo os princípios da mímese aristotélica.

No entanto, não abandonaram completamente os ensinamentos e a mitologia cristã. Na verdade, buscaram fundir a cultura cristã ao antropocentrismo e à cultura clássica.

A madona sistina, obra de Rafael Sanzio
Madona Sistina, de Rafael Sanzio

O resultado são obras belíssimas e admiráveis, realmente dignas de serem imitadas.

Classicismo em Portugal

O Classicismo chegou a Portugal somente no século XVI. O poeta português Sá de Miranda, vindo da Itália, trouxe com ele o chamado “doce estilo novo”, que eram o verso decassílabo e forma poética do soneto.

Luís Vaz de Camões, o poeta do Renascimento português
Luís Vaz de Camões

O artista mais importante do Classicismo português é, sem dúvida, o poeta Luís Vaz de Camões. De biografia um tanto misteriosa, sabe-se que Camões foi soldado português no Oriente, onde teria perdido uma das vistas e também um amor, uma mulher oriental chamada Dinamene.

Camões escreveu poesias em medida velha, os versos redondilhos, e em medida nova, o decassílabo. Suas poesias tiveram cunho lírico e épico. Publicou apenas um livro em vida, o famoso poema épico Os lusíadas. O livro Rimas, que compila sua poesia lírica, foi publicado após a sua morte.

Camões lírico

A obra lírica de Camões se divide em poesias em versos redondilhos (7 sílabas métricas), a chamada medida velha (anterior ao Renascimento), e em poesias em versos decassílabos (10 sílabas métricas), a medida nova surgida na Itália no século XIV.

Poesia lírica em medida velha

A poesia lírica em medida velha de Camões apresenta, em geral, temas amenos como descrever a beleza de uma mulher simples do povo, comparando-a com elementos da natureza.

Descalça vai para a fonte

Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.

Essa mulher é descrita em meio à natureza, comumente indo à fonte buscar água ou algo parecido. É um cenário que lembra muito o contexto das cantigas de amigo do período medieval.

Um poema em medida velha que foge desse cenário e aborda um tema mais comum na poesia de Camões em decassilabos é o poema abaixo, entitulado “Ao desconcerto do mundo”. Seu tema é justamente o desconcerto do mundo, um mundo desigual, injusto, que foge à inspiração platônica de perfeição e harmonia.

Ao desconcerto do mundo


Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que só para mim
Anda o mundo concertado.

Poesia lírica em medida nova

A poesia em medida nova aborda temas mais profundos, filosóficos, e antenados com o pensamento renascentista. São temas comuns desses versos: o amor, o desconcerto do mundo e a mutabilidade das coisas.

O amor é retratado de duas formas: o amor universal, complexo e contraditório, sobre o qual o poeta constrói reflexões, e o amor platônico, dirigido a Dinamene, amante oriental do poeta, nos chamados poemas do Ciclo de Dinamene.

O amor universal, complexo e contraditório é tema das reflexões do poeta na tentativa de entender esse sentimento através da razão. Veja isso no poema abaixo em que Camões constrói uma série de paradoxos para definir o Amor e chegar à conclusão do quanto é algo contraditório.

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Já os poemas sobre o Amor platônico são versos direcionados a Dinamene, amante do poeta no Oriente que faleceu em um naufrágio no sudeste asiático. Ela é musa para quem o poeta escreve seus versos e, por estar muito distante dele, o amor torna-se platônico.

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Camões épico

A poesia épica de Camões se resume à epopeia Os lusíadas, publicada em 1572. Único livro publicado em vida, o poema narra a viagem de Vasco da Gama às Índias em 1498 e também a história de Portugal, através dos feitos heróicos dos homens que ajudaram a formar a nação portuguesa.

Os lusíadas é uma epopeia, gênero textual que se define por ser um longo poema narrativo que narra um feito grandioso de um povo. No caso, o povo português. Esse povo é sempre o herói coletivo das epopeias.

Um dos desafios a que os poetas renascentistas se impunham era o de conseguir escrever uma epopeia (considerada a forma poética por excelência) semelhante às epopeias antigas de Homero e Virgílio.

Alguns poetas italianos tentaram esse feito, mas não tiveram sucesso. Só Camões conseguiu realizar a façanha de produzir um poema nos moldes das epopeias do passado. Uma longa narrativa sobre o feito mais importante do homem moderno e que foi realizado pelos portugueses, a viagem de Portugal à Índia contornando toda a costa da África.

Os lusíadas tem 8816 versos decassílabos dispostos em 1102 estrofes, todas com oito versos rimados. Divide-se em cinco partes: Proposição, Invocação, Dedicatória, Narração e Epílogo.

Proposição

Na Proposição, o poeta apresenta os motivos que regem o poema: narrar o feito grandioso da viagem de Vasco da Gama às Índias em 1498 e contar a história da formação do povo português, demonstrando o quão valoroso é esse povo.

As armas e os barões assinalados

Que, da ocidental praia Lusitana,

Por mares nunca dantes navegados

Passaram ainda além da Taprobana,

Em perigos e guerras esforçados

Mais do que prometia a força humana,

E entre gente remota edificaram

Novo Reino, que tanto sublimaram;

Invocação

A Invocação é dirigida às musas chamadas Tágides, ninfas que viveriam nas águas do rio Tejo, principal rio português. Esse é um momento em que surge uma característica interessante do poema: a rivalização com as epopeias anteriores.

Escrever uma epopeia é uma tarefa árdua. Por isso, o poeta devia pedir inspiração às musas. Elas trariam a capacidade necessária ao poeta para a árdua tarefa.

No passado, as musas eram deusas da mitologia grega e latina. Camões, entretanto, escolhe pedir inspiração às deusas portuguesas. O poeta já havia dito na Proposição que cantaria feitos maiores do que os dos homens do passado. E agora demonstra a preferência, mais uma vez, pelo que é de Portugal.

Isso é também uma demonstração de nacionalismo, outra característica marcante das epopeias.

Dedicatória

A Dedicatória é direcionada ao rei D. Sebastião, rei de Portugal à época. Esse rei era jovem e vaidoso. Ter dedicado o poema a ele facilitou a sua publicação, inclusive.

D. Sebastião tinha mania de grandeza e acreditava que Portugal seria o quinto império do mundo. Acreditando nisso, foi com as tropas para uma região conhecida como Alcácer-Quibir, que era dominada pelos árabes.

Mesmo com os avisos de seu primo, o rei Felipe, da Espanha, de que era uma batalha perdida, Sebastião seguiu com o intento. E desapareceu na batalha.

Como não tinha filhos, o trono português passou ao seu parente mais próximo, o rei da Espanha. Portugal passou sessenta anos sob o domínio espanhol, sofrendo muitas privações, até que uma revolução trouxe o trono novamente para os portugueses.

Narração

A Narração inicia-se já com os navegantes no meio do caminho para as Índias. Ou seja, temos uma narrativa alinear. Essa narrativa se divide em dois planos: o plano mítico, onde vivem os deuses, e o plano histórico, onde está ocorrendo a viagem.

Nesse momento inicial da narrativa, os deuses, que são gregos, estão no Olimpo, decidindo se permitirão ou não que os navegantes portugueses completem a sua viagem.

De um lado, estão os deuses que se opõem, Dionísio e Poseidon (ou Baco e Netuno, se considerarmos os nomes latinos dados a eles pelos romanos). Dionísio teme perder os seus adoradores na África, caso os portugueses, que levam a bandeira cristã, passem pelas terras dos povos que lhe fazem culto. Já Poseidon preocupa-se em ser menos temido se os portugueses vencerem os perigos do mar.

Do outro lado, estão Afrodite e Ares (ou Vênus e Marte) e estes desejam que os portugueses completem a missão. Afrodite gosta dos portugueses e os considera como filhos. Ares admira a coragem dos navegantes e julga que são merecedores do feito.

Zeus acaba dando razão a Afrodite e Ares. Poseidon e Dionísio, por sua vez, não se dão por vencidos e tentam várias vezes sabotar a viagem.

Episódios

Dentro da Narração, há quatro momentos que se destacam e são chamados de Episódios. São eles: o episódio do Velho do Restelo, o episódio de Inês de Castro, o episódio do Gigante Adamastor e o episódio da Ilha dos Amores.

O Velho do Restelo

Os navegantes portugueses saíram da praia do Restelo em três navios. O poeta narra que a praia estava cheia de mulheres que choravam a partida dos marinheiros, temendo perder os maridos, os filhos, os pais e irmãos.

A partida dos navios portugueses da praia do Restelo.

No meio de toda essa lamentação, surge a voz de um velho que grita, dizendo que a viagem era fruto da cobiça dos governantes e que traria a ruína para a nação.

Mas um velho, respeitado,

Que ficava nas praias, entre a gente,

Postos em nós os olhos, balançando

Três vezes a cabeça, descontente,

A voz pesada um pouco levantando,

Que nós no mar ouvimos claramente,

Cum saber só d’experiências feito,

Tais palavras tirou do experto peito:

Ó glória de mandar, ó vã cobiça

Desta vaidade a quem chamamos Fama!

Ó fraudulento gosto, que se atiça

Como aura popular, que honra se chama!

Que castigo tamanho e que justiça

Fazes no peito vazio que muito te ama!

Que mortes, que perigos, que tormentas,

Que crueldades neles experimentas!

O episódio do Velho do Restelo é o único momento dentro da narração do poema em que a viagem do Gama é criticada. E essa voz, relacionada com a sabedoria por ser a de um homem velho, aponta para os aspectos negativos do feito.

Inês de Castro

Esse episódio conta a história de amor entre uma jovem espanhola chamada Inês de Castro e o príncipe de Portugal D. Pedro.

Inês é mandada para Portugal como dama de companhia de D. Constança, moça que estava destinada a se casar com o príncipe e herdeiro do trono, D. Pedro.

Pedro se casa com Constança.

O príncipe D. Pedro e sua amada Inês de Castro

Apaixonado por Inês, passa a manter um relacionamento velado com ela. Esse relacionamento durará anos. Ela vai morar num local distante da Corte e tem filhos com o príncipe.

Pedro era um guerreiro e constantemente viajava em batalhas. Em uma de suas viagens, a princesa D. Constança adoece e acaba morrendo. Os conselheiros do rei D. Afonso, pai de Pedro, preocupados com a possibilidade do príncipe querer se casar com Inês, o convencem a matar a moça.

Tu só, tu, puro Amor, com força crua,

Que os corações humanos tanto obriga,

Deste causa à molesta morte sua,

Como se fora pérfida inimiga.

Se dizem, fero Amor, que a sede tua

Nem com lágrimas tristes se mitiga,

É porque queres, áspero e tirano,

Tuas aras banhar em sangue humano.

D. Afonso acaba cedendo aos conselhos e manda trazer Inês até a Corte. Os conselheiros ordenam que a moça seja degolada na frente de seus filhos. É um momento de grande tragicidade no poema. É o momento mais lírico, inclusive.

Episódio de Inês de Castro

Ao retornar da viagem, Pedro é tomado pela dor e pelo ódio ao saber da morte de sua amada. E se vinga.

Quando é coroado rei, após a morte de seu pai, manda caçar os assassinos de Inês e ordena que lhes arranquem os corações por não terem tido piedade de uma mulher indefesa.

Túmulo de Inês de Castro
Túmulo de Inês de Castro

Diz a lenda que, depois disso, ordenou que Inês fosse desenterrada e coroada rainha.

O Gigante Adamastor

Esse episódio narra o momento em que Vasco da Gama e seus marinheiros estão diante de um enorme e bravo gigante chamado Adamastor. Na verdade, o ser assustador é uma alegoria do Cabo das Tormentas ou Cabo da Boa Esperança.

Não acabava, quando uma figura

Se nos mostra no ar, robusta e válida,

De disforme e grandíssima estatura;

O rosto carregado, a barba esquálida,

Os olhos encovados, e a postura

Medonha e má e a cor terrena e pálida;

Cheios de terra e crespos os cabelos,

A boca negra, os dentes amarelos.

O Cabo das Tormentas situa-se na ponta do continente africano. É um lugar de muito vento e de muitos corais e rochas, o que torna o mar bravio e bastante perigoso. Durante muito tempo, acreditou-se que esse local seria o fim do mundo, devido aos muitos naufrágios que ocorriam nessa região.

Esse lugar tão perigoso é personificado no poema na figura do gigante e os navegantes portugueses tiveram a coragem de enfrentá-lo.

Este, por sua vez, ficou admirado da coragem dos marinheiros e acabou deixando-os passar. E contou-lhes também sua triste história.

Os navegantes portugueses enfrentam o gigante Adamastor, episódio de Os lusíadas, obra importantíssima do Renascimento português.

O gigante Adamastor era um ser da terra e apaixonou-se pela ninfa do mar Tétis. Ele ousou pedir aos deuses que permitissem o seu casamento com a deusa. Entretanto, os deuses consideraram isso uma afronta e o transformaram num monte de pedras, o Cabo das Tormentas.

O gigante Adamastor simboliza no poema os perigos do mar que os marinheiros venceram corajosamente.

A Ilha dos Amores

Depois de conseguirem chegar a Calicute, na Índia, e estabelecer um ponto de comércio, os marinheiros retornam a Portugal. Nesse momento, Afrodite decide dar-lhes um prêmio.

Ela leva os marinheiros até uma ilha paradisíaca onde viviam ninfas belíssimas. A Ilha dos Amores. E ordena a Eros que lance suas flechas e faça com que as ninfas se apaixonem pelos marinheiros, e vice-versa. Esse é um trecho bastante erótico do poema e tem passagens belíssimas.

Nesta frescura tal desembarcavam

Já das naus os segundos Argonautas,

Onde pela floresta se deixavam

Andar as belas Deusas, como incautas.

Algumas, doces cítaras tocavam;

Algumas, harpas e sonoras flautas;

Outras, com os arcos de ouro, se fingiam

Seguir os animais, que não seguiam.

A ilha dos Amores, episódio do poema Os lusíadas, obra do Renascimento português

Após isso, Tétis, rainha das ninfas, convida os marinheiros para um banquete. Depois disso, a ninfa leva Vasco da Gama até um alto monte. Lá, ela permite que ele veja como o mundo funciona.

Ao observar a Máquina do Mundo, algo que só os deuses poderiam fazer, Vasco da Gama, representando todos os homens, é alçado à condição de deus. E aqui chegamos ao ápice do poema, ao ápice do humanismo, do antropocentrismo.

Epílogo

A viagem termina. Camões retorna ao momento presente, o momento em que está escrevendo o poema, e diz que não há mais o que cantar. Portugal já não é mais o país em evidência que fora.

E parece que o poeta já antevê os problemas pelos quais o país passaria em breve com o desaparecimento do rei.

Os lusíadas é uma das grandes obras da literatura universal. Camões, considerado um gênio da poesia de todos os tempos, continua a ser lembrado e revenciado.

Na Proposição do poema, ele diz que cantará os feitos de homens que por obras valorosas se libertaram da lei da morte.

E aqueles que por obras valerosas

Se vão da lei da Morte libertando;

E qual é a lei da morte? É o esquecimento.

Como fazer para não ser esquecido? Praticar um feito grandioso e ter um grande poeta para contar isso em sua poesia.

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