Estranherismo é uma coletânea de poemas do poeta Zack Magiezi. Inicialmente publicada nas redes sociais, a poesia de Magiezi fez tanto sucesso que, em pouco tempo, virou livro. A estética do livro, inclusive, também é bastante poética, desde sua organização e estrutura até o papel e a fonte utilizados para escrever os textos.
Zack Magiezi nasceu em São Paulo em 1983. Cursou História, Teologia e Letras e tornou-se um poeta de sucesso através das redes sociais, principalmente com sua série de poemas intitulada “Notas sobre ela“. O primeiro poema que Zack publicou nas redes viralizou e levou-o a criar as páginas de sucesso. Daí para a publicação em livro não demorou muito.
Estranherismo organiza-se por títulos que se espalham por todo o livro. São eles: “Para o amor que vai chegar”; “Glossário”; “3X4”; “Lembretes do existir”; “Pensamentos no varal”; “Relicários miúdos”; “Semãntica”; “Diálogo”; “Notícias”; “Instruções para dizer eu te amo”; “Causa mortis”; “Confissões”; “Sentimentos legendados”; “Sobre as coisas de dentro” e a série “Notas sobre ela”. Esta última tem destaque no livro, uma vez que é disposta nas páginas do meio em papel cor de rosa.
A capa é outro elemento interessante. Feita em papel cartão com a imagem de uma máquina de escrever de onde saem flores, é uma metáfora clara do trabalho do poeta e daquilo que sua escrita produz: a poesia. A fonte usada para escrever os poemas é justamente a dos linotipos da máquina de escrever. As letras contrastam com a textura do papel e ganham ainda mais destaque.
O título da obra também é uma homenagem à poesia. Estranherismo é o ato de estranhar, de admirar, de perceber algo novo, diz a orelha do livro. E a poesia é isso, é o estranho, é ver com outros olhos. Os poemas desse livro nos levam a essa admiração a todo tempo.
O tema principal dos poemas de Estranherismo é o amor. Tema da poesia desde sempre, o amor é a motivação da maior parte dos poemas. Assim como a mulher, musa inspiradora dos poetas desde o Trovadorismo, que é enaltecida nos versos pela delicadeza, mas também pela força e pela resistência. Outros temas do livro são o estar no mundo, a solidão e a solitude, o amor-próprio, a música. Um assunto curioso no livro é o gosto de Zack por beterrabas, que aparece nos poemas mais de uma vez.
Os trocadilhos, os jogos de palavras, as intertextualidades, a ironia e a musicalidade estão presentes constantemente e nos convidam a refletir e a nos divertir com a palavras. Zack Magiezi nos emociona com os versos que produz, nos faz pensar sobre o que sentimos, pensamos, em como nos relacionamos com o outro e com nós mesmos. Os recursos linguísticos que emprega garantem efeitos importantes nesse processo.
Zack Magiezi é um trovador dos tempos atuais. Brinca com as palavras, as usa para referenciar a música, traz a mulher para a cena como protagonista, a enaltece e corteja, como a dama inalcançável dos poetas provençais. É o que podemos perceber na série “Notas sobre ela”. De longe, o eu-lírico observa uma mulher com sua beleza, doçura, dores e medos, e também força, resistência e coragem. Ele é o vassalo que coloca seu coração à disposição de sua dama, sua senhora, sua suserana.
Em suma, Estranherismo é um livro para se ler como quem está a passeio em um belo jardim, com flores bonitas e cheias de nuances. E, nós, leitores, podemos nos admirar com a beleza e a estranheza de cada uma delas. Essas flores feitas de palavras nos emocionam e nos encantam. Muitas vezes nem sabemos explicar racionalmente como. É o estranhamento, ou… o estranherismo. E é assim mesmo que a poesia deve ser.
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