Descubra neste artigo cinco livros da Literatura Brasileira que têm o Carnaval como pano de fundo de suas narrativas. São obras deliciosas de nossa cultura e ótimas sugestões de leitura.
O Carnaval é a festa popular mais marcante de nossa cultura. É, inclusive, uma das referências, para outros países, sobre quem nós somos. Há que se dizer, também, que o povo brasileiro tem muitos aspectos semelhantes a essa festa, chamada de “maior espetáculo da Terra”.
E a nossa Literatura, que tanto fala de nossos costumes e de nossas características mais profundas, não poderia deixar de falar do Carnaval. Ou de ter essa festa como cenário para as histórias narradas em contos, novelas, romances e poemas.
Veja a lista que preparamos de cinco livros da Literatura Brasileira que trazem o Carnaval como elemento de destaque.
1. Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Jorge Amado
Em Salvador dos anos 1940, Dona Flor é casada com Vadinho, um homem sedutor e boêmio que vive intensamente as festas, os jogos e a boemia.

Durante o Carnaval, no auge da folia, Vadinho morre repentinamente, deixando Flor viúva e dividida entre o luto e a libertação. Com o tempo, ela se casa novamente, agora com Teodoro, um farmacêutico respeitável e metódico, que lhe oferece estabilidade e segurança.
No entanto, a paixão que sente por Vadinho parece insubstituível. O espírito do falecido marido retorna, tornando-se invisível para os outros, mas muito presente para Dona Flor, reacendendo seus desejos e questionamentos.
O Carnaval, com sua energia descontrolada e sensual, simboliza a dualidade da protagonista, que se vê entre a segurança da vida estável e a intensidade do prazer desregrado.
“Era domingo de Carnaval e Vadinho desfilava pela Rua Chile com sua fantasia de baiana, rebolando, remexendo-se num jogo de ancas, meneando os punhos como um quituteiro legítimo. Cantava e dançava, embriagado de festa, perdido de alegria. De súbito, no auge do frevo e da folia, tombou no chão, rindo ainda, enquanto o batuque continuava no ar.”
Saiba mais sobre Dona Flor e seus dois maridos aqui
2. O Cortiço, de Aluísio Azevedo
Ambientado no Rio de Janeiro do século XIX, O Cortiço retrata a vida de trabalhadores humildes que vivem em um cortiço movimentado, palco de paixões, intrigas e conflitos sociais.

O Carnaval surge como um momento de fuga e transgressão, onde as personagens deixam de lado suas dificuldades diárias e se entregam à festa. A folia é descrita com núcleos vibrantes e uma energia caótica, mostrando tanto a alegria efêmera do povo quanto as desigualdades da sociedade carioca.
Enquanto os moradores do cortiço extravasam suas emoções na dança e na bebida, uma elite assiste de longe, reforçando o contraste entre eles.
O Carnaval, assim, aparece como um reflexo da euforia passageira e da dura realidade que espera as personagens quando a festa termina.
“A festa começou logo cedo, com a música ribombando e as saias rodando no terreiro do cortiço. Rita Baiana, enfeitada com fitas coloridas, puxava a dança, os quadris vibrando ao som do batuque. Jerônimo, que sempre fora homem sério e trabalhador, agora se misturava à roda, fascinado pelo rebolado da mulata. Naquela noite de Carnaval, tudo permitido parecer.”
Saiba mais sobre O Cortiço aqui
3. Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto
Policarpo Quaresma é um funcionário público nacionalista que acredita no potencial do Brasil e busca resgatar suas raízes culturais.
Defensor da língua tupi e de um país mais autêntico, ele enfrenta resistência por suas ideias visionárias e acaba se frustrando com a realidade política e social da nação.

O Carnaval aparece na obra como um dos símbolos da identidade brasileira que Quaresma tanto valoriza, uma manifestação popular cheia de cor e vida.
No entanto, a festividade também escancara as contradições do país: enquanto o povo se diverte nas ruas, a sociedade continua marcada por desigualdades, oportunismo e injustiças.
O Carnaval, assim, funciona como uma metáfora para o Brasil dos sonhos de Quaresma, um país vibrante e cheio de potencial, mas que, na prática, se revela caótico e desordenado.
“O Carnaval tomava as ruas da cidade, espalhando-se como um rio caudaloso de cores e filhos. Policarpo, observando o delírio popular, via aquela festa uma expressão genuína da alma brasileira, mas também se entristecia ao notar que, em meio à folia, poucas reflexões reflexivas sobre a grandeza da pátria que ele tanto idealizava.”
4. O Encontro Marcado, de Fernando Sabino
Eduardo Marciano é um jovem inquieto que, ao lado de seus amigos, busca um sentido para a vida, enfrenta dúvidas e angústias da juventude.
O romance, ambientado em Belo Horizonte, acompanha a trajetória do protagonista desde a adolescência até a vida adulta, explorando seus dilemas existenciais.

O Carnaval surge como um momento de liberdade e euforia, onde Eduardo e seus amigos se entregam à festa, ao álcool e ao clima de despreocupação.
No entanto, a alegria da folia dura pouco, e, quando a festa termina, ele sente o peso da realidade retornando.
O Carnaval, com sua animação passageira, funciona como uma metáfora para a busca incessante por propósito e felicidade, mostrando que, por mais intensa que seja a celebração, o vazio existencial sempre volta.
“Era Carnaval em Belo Horizonte, e Eduardo, embriagado não só pelo álcool, mas também pelo espírito da festa, se perdia entre máscaras e serpentinas. O riso era fácil, a música ecoava nas ruas, e por um momento, entre um beijo descoberto e uma dança improvisada, ele acreditou que a felicidade poderia ser tão simples quanto aquela noite de folia.”
5. Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
Narrado por um defunto, Memórias Póstumas de Brás Cubas apresenta a vida de seu protagonista com ironia e sarcasmo, expondo as hipocrisias da sociedade carioca do século XIX.
Brás Cubas, um homem privilegiado, viveu uma existência marcada pelo egoísmo e pela busca incessante por status e prazeres efêmeros.

O Carnaval aparece na narrativa como um pano de fundo para festas e encontros amorosos, funcionando como um reflexo da frivolidade da elite da época.
Enquanto o povo se entrega à folia com entusiasmo genuíno, Brás Cubas observa tudo com seu olhar cínico, percebendo que, por trás das máscaras e da euforia, uma vida continua repleta de ilusões e frustrações.
O Carnaval, assim, simboliza a teatralidade da sociedade, onde todos fingem ser algo que não são, tanto na festa quanto na vida.
“O Carnaval daquele ano foi especialmente brilhante, ou pelo menos assim me pareceu, pois Virgília estava lá, esplêndida em sua fantasia, os olhos brilhando por trás da máscara. O salão era um mar de cores e risos, e eu, entre uma valsa e outra, senti-me senhor do mundo. Ah, a ilusão das noites de festa!”
Saiba mais sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas aqui
Conclusão
Vimos, neste artigo, como o Carnaval, essa festa tão popular e representativa de nossa identidade, aparece em cinco livros clássicos da Literatura Brasileira: Dona Flor e seus dois maridos, O cortiço, Triste Fim de Policarpo Quaresma, O Encontro Marcado e Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Em cada um desses romances, a festa surge como retrato de nosso povo, de nossos costumes, de nossa alegria. E também como, individualmente, revela aspectos da alma das personagens com os quais nós também nos identificamos.
Literatura e Carnaval se aliam, assim, para falar de nós mesmos e nos fazer pensar em como uma festa pode ser muito mais do que uma festa.