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Castro Alves, a voz condoreira da poesia romântica brasileira

  • Litera.ria 

Castro Alves foi um dos mais importantes poetas da Literatura Brasileira. Sua poesia inspirou gerações, servindo de mote tanto para casais apaixonados quanto para movimentos em prol da liberdade e da justiça, como o movimento abolicionista do final do século XIX no Brasil.

Castro Alves, poeta baiano, conhecido como o Poeta dos Escravos, por sua defesa do abolicionismo.

As origens do poeta Castro Alves

Antônio Frederico de Castro Alves nasceu em Curralinho (hoje cidade de Castro Alves), na Bahia, no dia 14 de março de 1947. 

Pelourinho, Salvador, século XIX.

Na adolescência, mudou-se para Salvador, onde foi colega de Rui Barbosa no Ginásio Baiano.

Desde cedo, demonstrou grande interesse e paixão pelas letras e pela poesia. Aos 15 anos, mudou-se novamente, agora para Recife, onde mais tarde tentaria ingressar na Faculdade de Direito.

Os ideais de Castro Alves

Em Recife, Castro Alves entrou em contato com os ideais abolicionistas e republicanos.

Publicou seu primeiro poema, “A destruição de Jerusalém”, no Jornal do Recife, recebendo muitos elogios. Iniciava-se aí sua promissora carreira na poesia.

A poesia abolicionista de Castro Alves inspirou o movimento contra a escravidão.

 A primeira poesia sobre a escravidão escrita pelo poeta surge em 17 de maio de 1863.

Canção do africano

Lá na úmida senzala,

Sentado na estreita sala,

Junto ao braseiro, no chão,

Entoa o escravo o seu canto,

E ao cantar correm-lhe em pranto

Saudades do seu torrão…

De um lado, uma negra escrava

Os olhos no filho crava,

Que tem no colo a embalar…

E à meia voz lá responde

Ao canto, e o filhinho esconde,

Talvez pra não o escutar!

Minha terra é lá bem longe,

Das bandas de onde o sol vem;

Esta terra é mais bonita,

Mas à outra eu quero bem!

Vemos nesses versos já as marcas da poesia condoreira de Castro Alves: a eloquência e a denúncia do sofrimento imposto ao africano trazido como escravo para “esta terra mais bonita”, o Brasil.

As personagens do poema sentem saudades de sua terra e guardam preocupações e angústias. O homem pensa no árduo trabalho na lavoura que virá no dia seguinte, a mulher busca embalar com uma canção o filho pequeno e teme que o senhor, seu dono, venha tirar o menino de seus braços. 

A doença e o Direito

Também em 1863 os primeiros sinais da turberculose aparecem e Castro Alves finalmente inicia o curso de Direito.

Na faculdade, ele se envolve efetivamente na vida acadêmica e literária, publica poesias e artigos e participa de polêmicas, demonstrando seu espírito rebelde e contestador. 

Ainda nesse ano tem os sintomas da doença agravados e precisa retornar à Bahia. Recuperado, volta a Recife e intensifica sua participação na carreira estudantil. Em 1867, escreve o poema “Gonzaga ou a Revolução de Minas”.

Parte para o Rio de Janeiro, onde conhece Machado de Assis e ingressa na vida literária da cidade. Pouco depois, muda-se para São Paulo e conclui o curso de Direito. 

Eugênia Câmara e o lirismo de Castro Alves

Em março de 1863, o jovem poeta Castro Alves conheceu a atriz Eugênia Câmara por quem se apaixonou. A moça tornou-se sua musa e inspirou muitos de seus poemas. 

Castro Alves e a atriz Eugênia Câmara. Os dois viveram um caso amoroso que ficou imortalizado nos versos do poeta.

A relação com Eugênia durará até 1868, quando o caso de amor entre o poeta e sua musa tem fim. O amor, no entanto, perdurará.

Algum tempo depois, numa caçada, Castro Alves fere o pé esquerdo com um tiro de espingarda e tem de amputá-lo.

Em 1870, publica “Espumas Flutuantes”, poema que exalta o amor e a natureza, como nos versos de “Boa noite, Maria”, onde se percebe ainda a presença da atriz que ele tanto amou.

Boa noite, Maria! Eu vou,me embora.

A lua nas janelas bate em cheio.

Boa noite, Maria! É tarde… é tarde. .

Não me apertes assim contra teu seio.

Boa noite! … E tu dizes – Boa noite.

Mas não digas assim por entre beijos…

Mas não mo digas descobrindo o peito,

— Mar de amor onde vagam meus desejos!

(…)

Em seus poemas de amor, pode-se perceber que a mulher é retratada de maneira mais concreta e sensual, diferentemente da figura distante e divina da poesia de Álvares de Azevedo, romântico contemporâneo de Castro Alves, por exemplo. 

O poeta morreu em Salvador em 06 de agosto de 1871, aos 24 anos, devido a complicações causadas pela tuberculose.

O Poeta dos Escravos

Castro Alves é o grande nome da poesia romântica brasileira. Foi um importante defensor da liberdade e da justiça e denunciou em sua poesia social ou condoreira uma das feridas mais terríveis da história do Brasil: a escravidão.

Monumento em homenagem ao poeta Castro Alves

Em sua obra Os Escravos, livro que ficou inacabado, o poeta deixou textos preciosos como “Vozes D’África” e “Navio Negreiro”, do qual foram transcritas abaixo algumas estrofes. 

(…)

‘Stamos em pleno mar… Do firmamento

Os astros saltam como espumas de ouro…

O mar em troca acende as ardentias,

— Constelações do líquido tesouro…

‘Stamos em pleno mar… Dois infinitos

Ali se estreitam num abraço insano,

Azuis, dourados, plácidos, sublimes…

Qual dos dous é o céu? qual o oceano?…

‘Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas

Ao quente arfar das virações marinhas,

Veleiro brigue corre à flor dos mares,

Como roçam na vaga as andorinhas…

Donde vem? onde vai? Das naus errantes

Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?

Neste saara os corcéis o pó levantam,

Galopam, voam, mas não deixam traço.

(…)

Vemos, nesses versos, a grandiloquência que caracteriza a poesia condoreira.

Podemos perceber a denúncia emocionada dos horrores praticados nos navios negreiros, aqueles que traziam os africanos para serem escravos em terras brasileiras.

Ao mesmo tempo em que os versos descrevem a grandeza do céu e do mar que circundam a embarcação.

A natureza e sua exuberância contrastam com a perversidade com que os negros são tratados nos navios. Essa relação hiperbólica e antitética torna os fatos narrados no poema ainda mais terríveis.

Conclusão

Castro Alves deixou uma poesia rica, carregada de lirismo e denúncia social. Seus versos emocionam e convidam o leitor à reflexão.

Seus versos fazem refletir sobre questões, infelizmente, ainda muito pertinentes no Brasil de hoje, como o preconceito e a desigualdade social.

A voz de Castro Alves continua a ecoar, através de sua poesia, lembrando-nos de que os resquícios da escravidão ainda permanecem e precisam ser combatidos.

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