Vidas secas é uma das obras mais emblemáticas de nossa literatura. Publicado em 1938, o romance de Graciliano Ramos narra a saga de uma família de retirantes em busca de sobrevivência pelo semiárido nordestino.
Graciliano Ramos esquematizou o livro em 13 quadros, ou contos, que foram sendo compostos gradativamente. O primeiro a ser concluído foi o que, depois, tornou-se o nono capítulo do romance, entitulado “Baleia”.
O escritor, preso durante o regime Vargas, tinha acabado de sair da prisão e precisava de dinheiro para pagar a diária da pensão onde estava hospedado. Então, decidiu vender o conto “Baleia” para um jornal da cidade.
O sucesso foi tão grande que Graciliano continuou a publicá-lo em outros jornais. Mais tarde, ao concluir os outros doze quadros/contos/capítulos, o autor publicou o livro, que recebeu o nome de Vidas secas.
Capítulos de Vidas secas – resumo
Capítulo 1 – Mudança
A narrativa se inicia com a família de retirantes caminhando pela caatinga embaixo de um sol escaldante. A família é composta, inicialmente, por cinco viventes: Fabiano, Sinhá Vitória, os dois filhos e uma cachorra.
No dia anterior, eram seis, contando com um papagaio, bicho de estimação de Sinhá Vitória. Mas a fome apertou tanto que a família precisou sacrificar o pobre animal.
Depois de caminharem por longo tempo pela caatinga, avistaram alguns juazeiros. Pararam, então, para descansar na sombra, debaixo das árvores.
Fabiano percebeu em torno uma fazenda abandonada. Casa, curral, chiqueiro, tudo vazio. Quem ali havia morado provavelmento abandonou o lugar fugindo da seca.
A cachorra Baleia sentiu cheiro de preá, uma espécie de rato do mato, e saiu para caçar. Voltou com a caça que alimentou a família.
Fabiano olhou para o céu, viu nuvens e entendeu que a chuva logo viria. E, com ela, a esperança de uma vida melhor. A fazenda reviveria, criaria animais, os meninos engordariam, Sinhá Vitória vestiria saias bonitas, a caatinga ficaria verde.
Capítulo 2 – Fabiano
A chuva chegou e, com ela, também o dono da fazenda. Ele quis expulsar a família, mas Fabiano ofereceu-se para trabalhar como vaqueiro.
Fabiano tinha dificuldade para se reconhecer como um homem. Sentia-se melhor na companhia dos bichos. Era difícil lidar com as palavras e se comunicar.
Um dos meninos lhe fez uma pergunta. Ele não sabia responder. Mandou os meninos perguntarem à mãe. Esta também não tinha como cuidar de educar os filhos, pois estava muito ocupada com os afazeres da casa.
Fabiano pensou que era mesmo melhor que os filhos não estudassem. Assim como ele repetira a sina de seu pai e de seu avô, os meninos estavam fadados a repetir a sua.
Melhor que fossem duros como ele. Isso os ajudaria a sobreviver. Pensou em seu Tomás da Bolandeira, homem educado, mas despreparado para a dureza daquele mundo.
Olhou o horizonte. Logo, a seca voltaria, o verde desapareceria. Precisava ser duro, resistir como o seu pai e o seu avô. Os meninos precisavam ser fortes para assumir seu lugar quando ele morresse.
Capítulo 3 – Cadeia
Fabiano foi à feira na cidade para comprar mantimentos. Não gostava de estar no meio de gente. Sempre achava que lhe estavam enganando, pois as palavras sempre lhe faltavam.
Ele andava pela feira em busca de preços melhores para o querosene e a chita que a mulher lhe pedira.
Então, decidiu entrar em uma bodega para tomar uma pinga e encontrou o soldado amarelo.
Este lhe convidou para jogar cartas. Fabiano sabia que não podia apostar o dinheiro das compras, mas não conseguiu dizer não para o soldado. E perdeu tudo.
Fabiano saiu do bar atordoado sem saber o que dizer em casa. O soldado amarelo foi atrás dele e o confrontou. Fabiano perdeu o controle e xingou o soldado.
Este chamou outros guardas que prendessem Fabiano. Na cadeia, Fabiano ficou pensando no que aconteceu. Não conseguia entender por que motivo estava ali. Concluiu que era por que não sabia se comunicar.
Pensou na família, enquanto escutava os outros presos conversarem e se lamentarem. Se soubesse falar direito, conseguiria se explicar e não estaria ali, preso.
Aquilo tudo era demais para ele. No fim, concluiu que estava ali por causa de sua família. Se não fosse por eles, poderia ter confrontado o soldado amarelo. Feito até uma besteira.
Pensou se não seria melhor deixar a família. Afinal, depois de todo o sacrifício, seus filhos seriam tão brutos como ele. E sofreriam da mesma forma.
Capítulo 4 – Sinhá Vitória
Sinhá Vitória estava cuidando do fogo na cozinha. Baleia, junto dela, começou a brincar com a dona. Mas Sinhá Vitória não estava boa e expulsou a cadela.
Ela pensava na cama de couro, como a de seu Tomás da Bolandeira. Não suportava a cama de varas em que dormia. Tentou convencer o marido a lhe comprar a cama de couro.
Fabiano disse que precisariam economizar em roupas e querosene. Ela discordou. Já se vestiam com farrapos e pouco gastavam em querosene, pois dormiam cedo.
O problema da falta de dinheiro eram a pinga e o jogo do marido. Fabiano respondeu, dizendo que era culpa dos sapatos caros que ela comprava e com os quais não sabia andar.
Sinhá Vitória fazia a comida e pensava nessas coisas. Pensava também na seca que voltaria. Rezava a Deus para que não voltasse. Fabiano roncava.
Seu marido era mau. Na caatinga, deixava que ela carregasse o menino mais novo no colo, além do pesado baú de folhas na cabeça.
Chamou os filhos que brincavam fora da casa. Consertou uma cerca quebrada. Voltou a pensar na cama. Venderia as galinhas e a porca e compraria a cama sem falar com Fabiano.
Capítulo 5 – O menino mais novo
O menino mais novo admirava o pai. Via Fabiano amansar o gado e desejava ser como ele. Não entendia por que a mãe, o irmão e Baleia não davam importância para o que o pai fazia.
Decidiu imitar Fabiano, montando em uma cabra. Conseguiu ficar em cima do animal por pouco tempo, sendo jogado ao chão. A cena se deu diante do menino mais velho e de Baleia.
O irmão riu com vontade dele, enquanto Baleia ficou o observando como se reprovasse o que ele havia feito.
Mas isso não o desanimou. Pensou que cresceria e um dia seria como o pai, um vaqueiro.
Capítulo 6 – O menino mais velho
O menino mais velho tinha grande curiosidade pelas palavras. Um dia, ouviu da rezadeira, Sinhá Terta, durante a oração que a mulher fazia para curar um mal do pai, a palavra “inferno”.
Logo, quis saber o que aquela palavra significava. Correu à mãe que lhe disse ser um lugar muito ruim. Ele quis saber mais e ela o mandou embora.
Recorreu ao pai. Mas deste não obteve palavra.
Então, voltou à mãe. Ela lhe disse que lá havia espetos e fogueira. O menino mais velhou perguntou a Sinhá Vitória se já havia estado lá. Aí a mãe perdeu a paciência e lhe deu um cocorote.
O menino saiu a chorar. Baleia veio consolá-lo. O menino não entendia como um nome tão bonito pudesse significar algo tão ruim. Para ele, todos os lugares eram bons. Mas, então, lembrou-se da caatinga, do calor e da fome, talvez aquilo fosse o inferno.
Resolveu esquecer o acontecido. Ficou a olhar as estrelas no céu. Por que havia estrelas no céu? Abraçou a cachorra. Ela o entendia e era o bastante.
Baleia não gostou muito dos carinhos do menino. Ela queria mesmo era um bom osso para roer.
Capítulo 7 – Inverno
A família estava reunida em torno do fogo. Os meninos sentiam frio e se aninhavam no colo da mãe. Sinhá Vitória conversava com Fabiano. Baleia se aquecia diante do fogo.
O menino mais velho foi buscar mais lenha. Fabiano se irritou, se sentindo desrespeitado pelo filho. Ele e a mulher discutiram. Era uma conversa sem nexo, feita de sons pouco compreensíveis. Para se entenderem, falavam alto.
Chovia lá fora. Sinhá Vitória ouvia o barulho do rio, tinha medo de inundação. O gado já se acomodara próximo da casa. Os sapos coachavam. As crianças se admiravam disso, pois nunca havia sapos por lá.
Fabiano contava histórias e os meninos se divertiam ouvindo. Em dado momento, começaram a questionar a veracidade dos fatos narrados pelo pai. Ele tentou explicar, mas os meninos se desinteressaram. Baleia cochilava.
Capítulo 8 – Festa
O Natal se aproximava. Haveria uma festa na cidade. A família se arrumou e saiu rumo à festa.
Eles vestiam roupas apertadas e remendadas. Fora Sinhá Terta quem arrumara as roupas. Mas Fabiano deu pouco tecido para fazer, temendo que a mulher lhe roubasse, e as roupas agora mal serviam neles.
Sinhá Vitória vestia um vestido vermelho e sapatos de salto com os quais tinha dificuldade para andar.
Foram a pé para a cidade. Por mais que tentassem manter a postura festiva, logo se cansaram. A cidade era longe, seriam três horas caminhando. Tiraram os sapatos e afrouxaram as roupas.
Chegando à cidade, foram lavar os pés e calçar-se novamente. Os pés de Fabiano estavam inchados, mal cabiam nas botinas. Mas era preciso estar calçado.
Iam à igreja e as pessoas iam a festas e à missa bem vestidas e calçadas. Era a tradição. Ele não entendia bem por que motivo, mas era assim.
Os meninos se assustavam com a quantidade de pessoas que viam. Era muita gente. Na igreja, Fabiano se incomodava com a proximidade de tanta gente. Sentia-se mal, lembrava do dia da briga com o soldado amarelo.
Na rua, andaram pelas barracas fora da igreja. Os meninos procuraram as de brincadeiras. Fabiano a barraca de jogos e bebidas. Sinhá Vitória não gostou. O marido, bêbado, desafiava os outros que nem lhe davam atenção.
Os meninos se cansaram, sentaram na calçada. Fabiano já dormia pesado, esparramado na calçada, sonhando que enfrentava soldados amarelos. Sinhá Vitória procurou um lugar para urinar. Voltou e encontrou a família.
Lembrou-se de quando caminhavam sob o sol escaldante na caatinga e pensou que a vida, afinal, não era má. Faltava-lhe apenas a cama de couro.
Capítulo 9 – Baleia
Baleia adoecera. Não havia como curá-la. Os pêlos caíam e estava cheia de feridas pelo corpo. Já não podia comer nem beber.
Fabiano e Sinhá Vitória concluíram que era melhor sacrificá-la para que não sofresse mais.
Os meninos perceberam o que estava prestes a acontecer e se voltaram contra o pai. Mas a mãe levou-os para o quarto e deitou com eles na cama, tapando-lhes os ouvidos.
Baleia estranhou a atitude de Fabiano com a arma apontada para ela. O tiro não foi certeiro, ferindo-a de raspão. Ela arrastou-se, latindo e ganindo.
Tentou chegar até os juazeiros, onde gostava de ficar. Mas não conseguiu. Tudo ficou escuro, de repente. Pensou em morder Fabiano, mas desistiu. Ele era seu dono.
Baleia sentiu cheiro de preás, ouviu o barulho das cabras. Queria dormir. E acordar num lugar cheio de preás enormes.
Capítulo 10 – Contas
Fabiano recebia como pagamento pelo trabalho parte dos animais que criava na fazenda. Mas, como não tinha terra para criá-los, acabava vendendo-os para o próprio patrão por menos do que eles valiam.
Além disso, havia os empréstimos que fazia. No final, Fabiano estava sempre devendo, endividado. Ele se sentia lesado. Recorreu à mulher. Sinhá Vitória sabia fazer contas. Ela calculou tudo com a ajuda de sementes no chão da cozinha.
Fabiano voltou ao patrão. Reclamou. A resposta do homem foi a de que havia juros. Fabiano reclamou novamente. O patrão ameaçou mandá-lo embora.
Ele se acovardou, concordou com as contas do outro. Saiu se sentindo furtado e lamentando a vida.
Lembrou-se do dia que, tempos atrás, tentara vender um porco na cidade. O bicho estava reservado à ceia de Natal. Mas, precisando de dinheiro, Fabiano matara-o e dividira-o em partes para vender.
Chegando à cidade, foi confrontado por um fiscal. O homem disse a ele que deveria pagar à prefeitura o imposto pela venda da carne.
Fabiano reclamou. O fiscal ameaçou-o. Então, ele decidiu voltar para casa com a carne. Como em outros momentos, ali também se acovardara diante dos outros homens, daqueles que, de alguma forma, detinham o poder.
Todos lhe roubavam. E ele não podia fazer nada. Pensou em ir à bodega beber, mas lembrou-se do problema que arrumara da última vez com o soldado amarelo. Desistiu.
Em casa, tentou pensar em coisas boas, algo que lhe trouxesse alguma alegria. Mas nada lhe veio à mente. Pensava que sempre seria assim, moraria na terra dos outros e fugiria da seca quando ela chegasse.
Olhou para o céu estrelado, sinal de que a seca logo voltaria. Pensou em Baleia e que havia matado alguém da família.
Capítulo 11 – O soldado amarelo
Fabiano saiu para a caatinga em busca de uma égua perdida. E nesse momento, no meio do mato, ele encontrou novamente o soldado amarelo.
O homem ali, em sua frente, perdera o ar de autoridade, de arrogância. Estava assustado e com medo, perdido.
Um ano antes, aquele mesmo homem havia prendido Fabiano, depois de lhe dar uma surra. Pensou em vingar-se. Seria fácil. Mas logo deteve-se.
O homem estava realmente apavorado. Talvez se lembrasse da humilhação que causara a Fabiano. O vaqueiro pensou em tudo isso.
Então, indicou ao soldado amarelo o caminho de volta para a cidade.
Capítulo 12 – O mundo coberto de penas
As aves de arribação apareceram. Pesavam o mulungu, pousadas sobre ele. Eram muitas aves. Sinal de que a seca seria severa.
Elas apareciam em bandos em busca de água. Pousavam na beira do rio, consumiam a pouca água que restava. O gado teria sede e morreria.
Fabiano pensou que logo teriam de partir. Pensou no patrão que lhe roubava o pouco que ganhava. Pensou no soldado amarelo e na humilhação que sofrera. Pensou que deveria tê-lo matado naquele dia na caatinga.
O vaqueiro ficou nervoso, começou a gesticular. Sentiu sede. Agachou-se na beira do rio para beber água. As aves se alvoroçaram. Ele irou-se contra elas.
A seca era culpa daquelas excomungadas. Se pudesse dar cabo daquela praga. Mas elas eram muitas. Sentiu-se, mais uma vez, impotente.
Atirou contra algumas que caíram. Pensou na mulher. Sinhá Vitória era inteligente. Sabia fazer contas. Sabia que as aves de arribação bebiam a água e o gado morreria de sede. Teve pena da mulher. Ela nunca dormiria em uma cama de couro.
Recolheu as aves mortas, levaria-as para casa, comeriam as aves de arribação naquela noite. Lembrou-se de Baleia. Sentiu o coração apertar. Era hora de partir.
Capítulo 13 – Fuga
Fabiano, Sinhá Vitória e os meninos deixaram a fazenda e saíram novamente sem rumo pela caatinga.
A seca retornara. Tudo estava seco. Fabiano tinha medo. Tentou ficar na fazenda o máximo que pôde. Mas a vida ali se tornou insuportável.
Ele matou o último bezerro, salgou a carne, juntou os poucos pertences que tinha e saiu com a família, deixando para trás as dívidas com o patrão e as lembranças do que viveram naquele lugar.
A caminhada era difícil e o destino, incerto. Para aliviar o peso da carga e do sol, Fabiano e Sinhá Vitória conversavam e sonhavam com uma vida melhor, mesmo só avistando a caatinga seca e quente.
Fabiano sentiu saudades de Baleia e pensou que o sertão iria continuar o mesmo, mandando os seus habitantes para longe em busca de uma vida melhor.
Conclusão
Vidas secas é uma das mais importantes obras de nossa literatura. O livro é uma das obras produzidas durante a 2ª Geração do Modernismo.
A temática de Vidas secas é a seca no sertão nordestino. A obra denuncia o abandono de uma família de retirantes em meio à miséria e à seca e a impossibilidade dessas pessoas de encontrar uma vida mais digna.