Vanguardas: conceito, características e principais artistas
O que foram as vanguardas artísticas europeias?
As vanguardas artísticas europeias foram movimentos ocorridos nas artes do início do século XX. Esses movimentos anunciavam novas formas de expressão artística condizentes com o contexto da época.
O novo século trouxe com ele muitas novidades na comunicação, nos transportes, na vida econômica e social. Era preciso que a arte acompanhasse essas mudanças e apresentasse uma linguagem que estivesse de acordo com elas.
O termo “vanguarda” vem da expressão francesa “avant garde” que significa “ir à frente”. Essa expressão surgiu originalmente entre as tropas do exército para designar o grupo de soldados que era mandado à frente da tropa para fazer o reconhecimento de um campo desconhecido.
Posteriormente, o termo passou a indicar “aquilo que anuncia mudança ou novidade”. Por exemplo, quando os pesquisadores de um país descobrem algo novo ou criam um tratamento revolucionário para uma determinada doença, podemos dizer que este país está na vanguarda do combate a tal doença.
Assim, trazendo para o campo das artes, os movimentos artísticos que traziam uma nova linguagem e novas formas de expressão, anunciando novos caminhos para as artes do período, foram chamados de vanguardas artísticas.
Cinco vanguardas se destacaram: Cubismo, Futurismo, Expressionismo, Dadaísmo e Surrealismo. Todas elas se manifestaram na Europa nas primeiras décadas do século XX.
Vejamos cada uma delas, começando pelo contexto em que ocorreram.
Contexto histórico das Vanguardas Artísticas Europeias
O século XX iniciou-se trazendo novidades e também conflitos. O automóvel e o cinema movimentaram ainda mais a vida urbana. Esta, por sua vez, ganhou intensidade com o aumento das indústrias e o surgimento da classe operária.
Além disso, outros avanços tecnológicos como a invenção do avião, do telégrafo sem fio e do telefone também contribuíram para uma nova perspectiva diante da vida. O homem do período passou a sentir o tempo passar com mais velocidade e a buscar ainda mais pelo progresso.
Nas ciências, Albert Einstein mudou a noção de tempo e de espaço com sua teoria da relatividade e Sigmund Freud começou seus estudos da psicanálise com a publicação, em 1900, de A interpretação dos sonhos. Outras inovações e descobertas científicas viriam logo.
A política do período também foi intensa, e turbulenta. O imperialismo, a disputa entre os principais países europeus por domínio de territórios africanos e asiáticos, gerou uma forte tensão entre eles. Essa tensão culminaria na Primeira Guerra Mundial.
Posteriormente, surgiriam movimentos totalitaristas, de forte cunho nacionalista, como o facismo, o nazismo e o comunismo. Esses movimentos tornariam o clima ainda mais tenso, já prenunciando a ocorrência da Segunda Guerra.
Todos esses fatores contribuiam para uma sensação de instabilidade, fragilidade e angústia que o poeta Carlos Drummond de Andrade resumiria em versos de seu poema “Sentimento do mundo”:
Este é um tempo partido. / Um tempo de homens partidos.
As vanguardas artísticas europeias vieram para representar esse tempo e como ele era percebido pelas pessoas. A linguagem usada pelos artistas buscava traduzir as inovações do período. Essa nova linguagem se manifestou em todas as formas de arte: pintura, escultura, literatura, arquitetura, teatro, cinema, música.
Em suma, as vanguardas propunham uma nova linguagem artística e, para isso, fazia-se necessário romper com o passado.
Principais vanguardas artísticas europeias
As vanguardas artísticas europeias propunham o abandono da tradição e a produção de uma arte nova, antenada com a nova perspectiva que os acontecimentos do início do século XX.
Cubismo
O Cubismo teve como principal representante o pintor espanhol Pablo Picasso. Em 1907, o pintor fez uma exposição de suas pinturas cubistas em Paris e chocou o público com os traços geométricos de suas composições.
Duas palavras resumem esse movimento: a fragmentação e a simultaneidade. As obras cubistas são marcadas pela sensação de que os acontecimentos se dão rapidamente e de que não é possível abarcar tudo o que acontece.
A fragmentação se justifica pelo sentimento de incompletude, de incapacidade para gerenciar a rapidez com que o mundo está evoluindo. E a simultaneidade é justamente essa tentativa, falha, de alcançar todas as mudanças.
O Cubismo propôs, assim, uma oposição à arte acadêmica e a negação da mímese, princípio proposto por Aristóteles na Antiguidade Grega e que fundamenta a arte clássica.
Na pintura, o Cubismo apresnta traços das figuras geométricas na composição dos elementos do quadro e busca retratar essas figuras de todos os focos possíveis, ao mesmo tempo. Isso acarreta a decomposição da imagem e a sua deformação.
Na literatura, os escritores buscaram compor com as palavras cenas semelhantes às das pinturas, trazendo a descrição de ambientes de forma fragmentada, juntando flashes, pedaços, de uma mesma cena. Há também, na poesia, o rompimento com o verso metrificado e com as regras de ortografia e sintaxe.
Além de Pablo Picasso, são artistas importantes do movimento cubista europeu: Georges Braque, Juan Gris e Ferdinand Léger. No Brasil, Oswald de Andrade e Mário de Andrade, na Literatura, e Tarsila do Amaral, na pintura, receberam forte influência cubista.
Futurismo
O movimento futurista surgiu em 1909 e teve como líder o poeta italiano Fillipo Tomaso Marinetti. Como o próprio nome dessa vanguarda já anuncia, ela se voltava para o futuro que tinha sua maior expressão nas máquinas.
O Futurismo é caracterizado pelo enaltecimento das máquinas e do progresso. É um movimento marcado pelo tom agressivo, exaltado, que nega completamente o passado e prega a ação e a adoração da modernidade.
A pintura futurista buscou captar o movimento das máquinas, dos automóveis, da vida urbana. Mais importante que retratar os elementos de uma determinada cena era conseguir representar o movimento desses elementos em ação.
Na poesia, surge o verso livre, sem métrica definida e sem rimas, que será o tipo de verso característico dos poemas modernistas. Além disso, rompe-se com a linearidade do verso, e os poemas ganham formas novas que se aliam ao conteúdo, investindo o texto de ainda mais significado.
Na Europa, são representantes da vanguarda futurista Umberto Boccioni e Carlo Carrá. A Semana de Arte Moderna de 1922, no Brasil, refletiu muito dos ideais futuristas. Os artistas que participaram da Semana foram, inclusive, chamados de forma pejorativa de futuristas.
Esse olhar negativo em relação ao futurismo deve-se à aproximação do movimento do facismo que já se iniciava na Itália. Marinetti foi um dos apoiadores de Mussolini no país e autor do Manifesto Futurista, um texto que apresentava as propostas do Futurismo, marcado pela agressividade e por afirmações polêmicas como o elogio à guerra e a condenação do feminismo.
Expressionismo
A vanguarda expressionista surgiu na Alemanha em 1905, no início do século XX, portanto, ainda que alguns dos seus traços já se anunciassem em algumas obras do final do século anterior.
O Expressionismo opunha-se ao Impressionismo de finais do século XIX. Enquanto este último é marcado pelas cores claras e harmônicas e a impressão que se tem dos objetos sob a incidência da luz, o primeiro traz a deformação dos traços e as cores fortes, compondo imagens de objetos degradados.
O Expressionismo predominou na pintura e teve como grandes representantes Edvard Munch e Vincent Van Gogh.
A pintura expressionista buscava demonstrar o mal-estar e o pessimismo que os seus artistas sentiam através dos traços deformados e das cores fortes, com predominância do amarelo.
No Brasil, Tarsila do Amaral e, principalmente, Anitta Malfatti apresentam influência desse movimento em seus quadros. Na poesia, Augusto dos Anjos com seus poemas sobre a decomposição dos corpos e o pessimismo diante da existência humana é seu grande representante.
Dadaísmo
O movimento Dadá surgiu no entre-guerras, mais precisamente em 1916, em Zurique, na Suíça. Esse país era um território neutro e muitos artista fugiram para lá durante o conflito.
Conta-se que uma noite, no Cabaré Voltaire, a ideia do movimento surgiu e o nome escolhido foi Dadá por ser uma palavra que, na verdade, não tinha significado nenhum.
A vanguarda dadaísta tem por característica um forte deboche e negação da arte acadêmica. Os artistas desse movimento afirmavam que não fazia sentido, naquele momento, produzir uma arte elaborada e que exigisse tempo e dedicação para ser produzida.
Diante de um mundo em ruínas, de tantas perdas humanas e sofrimento, a arte só poderia retratar o nonsense, o sem sentido, o absurdo. Assim, os dadaístas propunham obras marcadas pela ironia, pelo niilismo (o nada, a negação de tudo) e pelo deboche.
Uma escultura era um mictório assinado e colocado em exposição na galeria de arte. Um poema não passava da livre justaposição de palavras escritas aleatoriamente num papel. A pintura se fazia com a simples colagem de elementos sobre a tela. A apresentação teatral acontecia improvisada e inesperadamente, sem nenhuma preparação anterior.
São nomes importantes do movimento dadaísta o poeta Tristan Tzara e os pintores e escultores Hans Arp e Marcel Duchamp.
Surrealismo
O Surrealismo surgiu na França em 1924. É a última vanguarda e iniciou-se com a publicação do Manifesto Surrealista, do poeta André Breton.
A vanguarda surrealista, de certa forma, derivou-se do Dadaísmo e da mesma sensação de insegurança diante da destruição trazida pela Primeira Guerra. Assim como esse movimento, a vanguarda surrealista é marcada pela livre expressão e pela espontaneidade.
No entanto, enquanto o movimento dadaísta era marcado pelo nonsense, o Surrealismo tem sua razão de ser na manifestação do subconsciente. Propunha a produção de uma arte livre do controle do pensamento racional.
A arte surrealista apresentava imagens marcadas pelo livre pensamento, pelas cenas oníricas, de sonho, pelo irrealismo e a negação da lógica. O resultado é uma arte fantástica, cheia de cores e que impressiona o espectador.
Os principais representantes na Europa do Surrealismo são os pintores Salvador Dali e Joan Miró. Além de Marx Ernest e René Magritte.
No Brasil, Ismael Nery e Tarsila do Amaral são alguns dos pintores que receberam influência desse movimento. Na Literatura, Oswald de Andrade e Murilo Mendes apresentaram textos com fortes traços surrealistas.
As vanguardas artísticas europeias contribuíram significativamente para a arte produzida no século XX. O Modernismo brasileiro, principalmente em seu início, teve muita inspiração nos movimentos europeus que foram base para a produção de obras modernistas importantes.
P.S.: Há vários filmes interessantes que retratam o período das vanguardas. Deixo aqui a sugestão de dois deles.
O primeiro é Tempos Modernos, de Charles Chaplin, produzido em 1936. Essa obra é uma crítica à alienação causada pelo processo de industrialização e pelo modo de vida urbano.
Veja aqui um resumo com algumas cenas importantes do filme.
E o outro é Meia-noite em Paris, de Woody Allen, obra mais recente, de 2011. Esse filme nos traz a atmosfera dos “anos loucos” em Paris e podemos conhecer um pouco sobre os grandes artistas da época, personagens do filme, como Salvador Dali e Pablo Picasso.
Assista aqui ao trailler do filme.