O Parnasianismo surgiu na França, no ano de 1866, com a publicação da revista O Parnaso Contemporaneo. No Brasil, tornou-se um movimento de evidência na década final do século XIX.
O nome do estilo advem de um monte na Grécia Antiga, chamado o monte Parnaso. Esse lugar era dedicado a Apolo, deus da beleza, da razão e da poesia. Segundo a mitologia, esse monte era visitado por poetas que buscavam lá inspiração para os seus poemas.
Características do Parnasianismo
O movimento parnasiano tinha como traço principal a preocupação e a valorização da forma. Os poemas têm como tema a contemplação de objetos delicados e belos, distanciando-se de questões sociais e políticas. A metrificação dos versos, a linguagem erudita, as referências à mitologia e à cultura grega marcam a poesia parnasiana e sobrepõem a forma ao conteúdo do texto.
Além disso, os parnasianos se opunham à simplicidade e coloquialidade da linguagem romântica e também ao sentimentalismo desse estilo. A linguagem esmerada da poesia parnasiana, o distanciamento da vida comum e dos problemas sociais e a oposição ao Romantismo aproximam o Parnasianismo do Realismo, movimento artístico que ocorreu concomitantemente aos já citados.
A Tríade Parnasiana
No Brasil, o Parnasianismo foi bastante admirado e três poetas se destacaram: Alberto de Oliveira, Raimundo Correa e Olavo Bilac. Os três formaram a chamada Tríade Parnasiana.
Alberto de Oliveira
Alberto de Oliveira (1857-1937) é considerado o mais parnasiano dos três poetas. Fundou a Academia Brasileira de Letras, foi poeta, professor e farmacêutico. Sua poesia é marcada pela metrificação esmerada, pela impassibilidade diante da realidade e pelo descritivismo. Muitos de seus poemas se preocupam em descrever objetos artísticos sem apresentar nenhuma emoção ou se referem ao sentimento como mero objeto de observação.
Leia um de seus poemas mais famosos:
Vaso chinês
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o.
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?… de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;
Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
Raimundo Correia
Raimundo Correia (1859-1911), também fundador da ABL, foi professor, magistrado e poeta. É conhecido por uma poesia mais filosófica, tratando de temas universais e clássicos como a vida, a passagem do tempo, a morte.
Veja um exemplo de sua poesia bastante conhecido e que revela o aspecto reflexivo de seus versos:
As Pombas
Olavo Bilac
Hercúleo e belo,
Talhar no mármore divino
Com o camartelo.Que outro – não eu! – a pedra corte
Para, brutal,
Erguer de Atene o altivo porte
Descomunal.Mais que esse vulto extraordinário,
Que assombra a vista,
Seduz-me um leve relicário
De fino artista.
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.
Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.
Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
Corre; desenha, enfeita a imagem,
A idéia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
E que o lavor do verso, acaso,
Por tão subtil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.
E horas sem conto passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.
Porque o escrever – tanta perícia,
Tanta requer,
Que oficio tal… nem há notícia
De outro qualquer.
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima, e sofre e sua!
Mas que na força se disfarce o emprego
Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
Via Láctea
XIII
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi:”Amai para entende-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.
A obra de Bilac, assim como a poesia parnasiana, inspirou obras de outros poetas e também letras de canções do início do século XX. O poeta Carlos Drummond de Andrade tornou-se famoso com o poema “No meio do caminho”, publicado na Revista de Antropofagia em julho de 1928. Esse poema faz lembrar bastante, ainda que subvertendo bastante a proposta parnasiana, ao poema “Nel mezzo del camin”, de Bilac.
Leia os dois poemas e perceba as semelhanças e diferenças.
Nel mezzo del camin
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha…
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje segues de novo… Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Concluindo, o movimento parnasiano é marcado pela valorização da forma, a beleza dos versos e as referências à cultura greco-latina. No Brasil, três poetas se destacaram: Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac. Bilac destacou-se por não só compor poemas dentro dos parâmetros parnasianos, mas também por poemas que traziam de volta características do Romantismo.