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Parnasianismo: contexto histórico, características, principais autores

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O Parnasianismo surgiu na França, no ano de 1866, com a publicação da revista O Parnaso Contemporaneo. No Brasil, tornou-se um movimento de evidência na década final do século XIX.

O nome do estilo advem de um monte da Grécia Antiga, conhecido como monte Parnaso. Esse lugar era dedicado a Apolo, deus da beleza, da razão e da poesia. Segundo a mitologia, o Parnaso era visitado por poetas que buscavam ali inspiração para os seus poemas.

Monte Parnaso, na Grécia.
Monte Parnaso, Grécia

Contexto Histórico do Parnasianismo

O movimento parnasiano ocorreu na segunda metade do século XIX. No Brasil, foi contemporâneo do Realismo e do Simbolismo. E também do Romantismo que, embora decadente enquanto estilo, perdurava em muitas das obras consumidas pelo público da época.

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O Parnasianismo no Brasil teve seu início com a publicação do livro Fanfarras, de Teófilo Dias, em 1882. Essa obra é uma coletânea de poemas em que, ainda sob uma leve influência do Romantismo, características parnasianas já se delineiam.

“A estética parnasiana cristalizou-se entre nós depois da publicação de ‘Fanfarras’, de Teófilo Dias, livro em que o movimento anti-romântico começa a se definir no espírito e na forma dos parnasianos franceses, já esboçados em alguns sonetos de Carvalho Júnior…”

(Manuel Bandeira)

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Esse período foi marcado por acontecimentos históricos de grande importância para o país, como a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República. Foi também o período dos anos finais da monarquia, com o reinado de D. Pedro II.

A cidade de maior efervescência cultural era a capital, o Rio de Janeiro, e a classe burguesa ditava o modo de vida e a produção literária da época. A sociedade carioca do período, portanto, seguindo a cartilha burguesa, valorizava os bens materiais e a aparência.

A poesia parnasiana, despreocupada das questões sociais e voltada para a beleza dos versos, era, pois, muito agradável a essa sociedade. E tornou-se, assim, a preferida de muitos leitores, lida nos saraus e publicada nos jornais.

Características do Parnasianismo

O movimento parnasiano tinha como traço principal a preocupação e a valorização da forma. Os poemas tinham como tema a contemplação de objetos delicados e belos, distanciando-se de questões sociais e políticas.

Pintura que representa a influência da cultura greco-latina no movimento parnasiano.

A metrificação dos versos, a linguagem erudita, as referências à mitologia e à cultura grega marcam a poesia parnasiana. Essas características corroboram para o traço fundamental do estilo: a sobreposição da forma ao conteúdo do texto.

Além disso, os parnasianos se opunham à simplicidade e coloquialidade da linguagem romântica e também ao sentimentalismo desse estilo.

A linguagem esmerada da poesia parnasiana, o distanciamento da vida comum e dos problemas sociais e a oposição ao Romantismo aproximam o Parnasianismo do Realismo, movimento artístico que ocorreu também no mesmo período.

 A Tríade Parnasiana

No Brasil, o Parnasianismo foi bastante admirado e três poetas se destacaram: Alberto de Oliveira, Raimundo Correa e Olavo Bilac. Os três formaram a chamada Tríade Parnasiana.

Alberto de Oliveira

Alberto de Oliveira (1857-1937) é considerado o mais parnasiano dos três poetas. Fundou a Academia Brasileira de Letras, foi poeta, professor e farmacêutico.

fotografia de Alberto de Oliveira, poeta do Parnasianismo.
Alberto de Oliveira

Sua poesia é marcada pela metrificação esmerada, pela impassibilidade diante da realidade e pelo descritivismo. Muitos de seus poemas se preocupam em descrever objetos artísticos sem apresentar nenhuma emoção ou se referem ao sentimento como mero objeto de observação.

Leia um de seus poemas mais famosos:

Vaso chinês

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o.
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?… de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;

Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.

Raimundo Correia

Raimundo Correia (1859-1911), também fundador da ABL, foi professor, magistrado e poeta. É conhecido por uma poesia mais filosófica, tratando de temas universais e clássicos como a vida, a passagem do tempo, a morte.

Fotografia do poeta Raimundo Correia
Raimundo Correia

Veja um exemplo de sua poesia bastante conhecido e que revela o aspecto reflexivo de seus versos:

As pombas

Vai-se a primeira pomba despertada…
Vai-se outra mais… mais outra… enfim dezenas
Das pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.
 
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada…
 
Também dos corações onde abotoam
Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
 
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem… Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.

Olavo Bilac

Olavo Bilac (1865-1918) foi jornalista e também poeta e escritor de contos. É o autor da letra do Hino à Bandeira. Bilac também foi muito admirado por sua poesia e recebeu o título de “Príncipe dos Poetas” pela Revista Fon-Fon, em 1913.

Fotografia do poeta Olavo Bilac, outro grande nome de nosso Parnasinismo.
Olavo Bilac

A poesia de Olavo Bilac caracterizou-se por seguir e defender a proposta parnasiana, como demonstram poemas como “Profissão de fé” e “A um poeta”.

Profissão de fé

Le poete est ciseleur,
Le ciseleur est poete.
VICTOR HUGO
 
 
Não quero o Zeus Capitolino,
Hercúleo e belo,
Talhar no mármore divino
Com o camartelo.
 
(…)
 
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.
 
(…)
 
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
 
(…)
 
Porque o escrever — tanta perícia,
Tanta requer,
Que ofício tal… nem há notícia
De outro qualquer.
 
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!
 
Deusa! A onda vil, que se avoluma
De um torvo mar,
Deixa-a crescer; e o lodo e a espuma
Deixa-a rolar!
 
(…)
 
Não morrerás, Deusa sublime!
Do trono egrégio
Assistirás intacta ao crime
Do sacrilégio.
 
E, se morreres porventura,
Possa eu morrer
Contigo, e a mesma noite escura
Nos envolver!
 
(…)
 
Vive! que eu viverei servindo
Teu culto, e, obscuro,
Tuas custódias esculpindo
No ouro mais puro.
 
Celebrarei o teu ofício
No altar: porém,
Se inda é pequeno o sacrifício,
Morra eu também!
 
Caia eu também, sem esperança,
Porém tranquilo,
Inda, ao cair, vibrando a lança,
Em prol do Estilo!

A um poeta

Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
 
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
 
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
 
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.

Mas o poeta também rompe com a proposta parnasiana ao revelar e enaltecer o sentimentalismo e o mais elevados de todos os sentimentos: o amor. É o que podemos perceber no poema “Via Láctea”.

Via Láctea

XIII
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi:”Amai para entende-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

A influência parnasiana

A obra de Bilac, assim como a poesia parnasiana, inspirou obras de outros poetas e também letras de canções do início do século XX.

O poeta Carlos Drummond de Andrade tornou-se famoso com o poema “No meio do caminho”, publicado na Revista de Antropofagia em julho de 1928. Esse poema faz lembrar bastante, ainda que subvertendo bastante a proposta parnasiana, ao poema “Nel mezzo del camin”, de Bilac.

Leia os dois poemas e perceba as semelhanças e diferenças.

Nel mezzo del camin

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha…
 
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
 
Hoje segues de novo… Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
 
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.

(Olavo Bilac)

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
 
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

(Carlos Drummond de Andrade)

Conclusão

Concluindo, o movimento parnasiano é marcado pela valorização da forma, a beleza dos versos e as referências à cultura greco-latina.

No Brasil, três poetas se destacaram: Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac. Este último destacou-se não só por compor poemas dentro dos parâmetros parnasianos, mas também por poemas que traziam de volta características do Romantismo.

Samira Mór é formada em Letras pela UFJF e Mestra em Literatura pela mesma instituição. É também professora das redes pública e privada há mais de trinta anos. Apaixonada por palavras e livros desde sempre, seu objetivo é partilhar com as pessoas o amor pela leitura e pelos livros.

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