Oswald de Andrade (1890-1954) foi uma das figuras mais emblemáticas e revolucionárias do Modernismo brasileiro. Sua vida e obra estão profundamente ligadas à ruptura com as tradições e à busca por uma identidade cultural genuinamente nacional.
Este artigo explora a trajetória desse que foi um dos principais articuladores da Semana de Arte Moderna de 1922 e um pensador fundamental para a cultura do Brasil.
Quem Foi Oswald de Andrade?
Nascido em São Paulo, José Oswald de Souza Andrade foi poeta, romancista, ensaísta, dramaturgo e jornalista. Sua formação inicial incluiu o estudo de Direito, mas foi no efervescente cenário cultural europeu do início do século XX que ele encontrou as bases para seu pensamento inovador.
Suas viagens à Europa, especialmente a Paris, o colocaram em contato com as vanguardas artísticas da época, como o Cubismo e o Futurismo, que influenciariam profundamente sua produção.
A Participação na Semana de 22
Oswald de Andrade é considerado um dos pilares da Semana de Arte Moderna de 1922, evento que marcou oficialmente o início do Modernismo no Brasil.
Ao lado de figuras como Mário de Andrade, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, ele atuou como um dos principais organizadores e provocadores, desafiando o academicismo e o Parnasianismo que dominavam a cena artística nacional.

Sua participação não se limitou à organização; ele também apresentou obras e manifestos que se tornariam marcos do movimento.
A Obra e as Ideias de Oswald de Andrade
A produção literária e intelectual de Oswald de Andrade é grande e caracteriza-se por uma constante experimentação. Dois de seus manifestos são essenciais para compreender suas propostas: o Manifesto Pau-Brasil e o Manifesto Antropófago.
O Manifesto Pau-Brasil (1924)
Publicado em 1924, o Manifesto Pau-Brasil defendia uma poesia e uma arte com raízes nacionais, explorando a riqueza e a diversidade da cultura brasileira sem submissão aos modelos europeus.
A ideia era criar uma arte “de exportação”, tão única e valiosa quanto o pau-brasil. Caracteriza-se também pela busca por uma linguagem mais simples, direta, com uso de versos livres e temas do cotidiano brasileiro, valorizando o primitivo e o ingênuo como forma de originalidade.
O Manifesto Antropófago (1928)
Quatro anos depois, em 1928, Oswald de Andrade lançou o polêmico e influente Manifesto Antropófago.
Baseado na ideia de “devorar” a cultura estrangeira, digeri-la e regurgitá-la transformada em algo autenticamente brasileiro, o Manifesto Antropófago propunha a assimilação crítica das influências externas para a criação de uma cultura original.
A antropofagia cultural não significava imitação, mas sim a absorção e a reelaboração criativa, ressaltando o valor da nossa própria identidade, sem complexos de inferioridade.
Principais Obras Literárias
Entre as obras mais destacadas de Oswald de Andrade, encontramos:
Poesia:
Pau-Brasil (1925): Coletânea de poemas que exemplifica as propostas do manifesto homônimo, com versos livres e temas nacionais.
Primeiro Caderno do Aluno de Poesia Oswald de Andrade (1927).
Romances:
Memórias Sentimentais de João Miramar (1924): Um romance fragmentado, inovador na estrutura e linguagem.
Serafim Ponte Grande (1933): Outro exemplo de sua prosa experimental, com forte caráter satírico.
Teatro:
O Rei da Vela (escrita em 1933, publicada em 1937): Peça que satiriza a burguesia brasileira e as relações de poder.
O Legado de Oswald de Andrade
A contribuição de Oswald de Andrade para a cultura brasileira vai muito além de suas obras. Seus manifestos e ideias continuam sendo estudados e debatidos, influenciando gerações de artistas e pensadores.

Dois exemplos são o movimento tropicalista, liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, e o Cinema Novo de Glauber Rocha.
Ele foi um defensor incansável da originalidade brasileira e da ruptura com o passado colonialista, propondo uma arte livre, experimental e profundamente conectada à realidade do país.
Conclusão
Oswald de Andrade defende uma cultura nacional forte, capaz de absorver e transformar influências, permanece atual e relevante, solidificando seu papel como um dos grandes intelectuais do século XX no Brasil.
Ele nos convida, ainda hoje, a pensar sobre o que significa ser brasileiro e a valorizar a nossa própria voz no cenário global.
Samira Mór é formada em Letras pela UFJF e Mestra em Literatura pela mesma instituição. É também professora das redes pública e privada há mais de trinta anos. Apaixonada por palavras e livros desde sempre, seu objetivo é partilhar com as pessoas o amor pela leitura e pelos livros.
