O perfume, do escritor alemão Patrick Süskind, foi publicado em 1985 e tornou-se um best seller da literatura contemporânea. O livro já vendeu mais de 15 milhões de cópias e ganhou uma adaptação em filme pela Netflix. É uma obra encantadora e inquietante, capaz de manter nossa atenção por todas as suas páginas.
Costumo dizer que as primeiras frases de um livro são uma isca perfeita para a conquista dos leitores. Assim é em O perfume. A narrativa inicia-se colocando-nos dentro da Paris do século XVIII, uma cidade imersa em sérios problemas de infraestrutura e saneamento.
“No século XVIII viveu na França um homem que pertenceu à galeria das mais geniais e detestáveis figuras daquele século nada pobre em figuras geniais e detestáveis. A sua história é contada aqui”.
(Patrick Süskind. O perfume.)
Paris, século XVIII
A cidade cresce desordenadamente sem condições básicas de moradia para seus habitantes. As ruas parisienses exalam maus odores, são sujas, assim como seus moradores. Há doenças por toda parte e muita miséria.
É nesse ambiente que nasce Jean-Baptiste Grenouille. Seu nascimento surpreende sua mãe em meio ao trabalho no mercado municipal. O parto ocorre em meio às escamas e vísceras dos peixes que a mulher limpava. Logo ela percebe que há algo de estranho com a criança e o entrega para a adoção. Para ela, o bebê tem parte com o demônio.
De fato, o menino tem uma particularidade que assombra a todos: ele não tem cheiro nenhum. Em contrapartida, foi agraciado com um olfato poderosíssimo, capaz de perceber odores a grande distância. Isso faz com que todos a sua volta se afastem dele, julgando-no uma abominação.
Grenouille cresce tendo de enfrentar inúmeras adversidades e sobrevive, mesmo sendo rejeitado por todos. Ele é sempre visto como alguém estranho, esquisito. Essa estranheza que causa em todos faz com que não seja visto como uma pessoa, e, por isso, também não seja digno de ser amado.
“Visto objetivamente, ele não tinha nada que fizesse medo. Ao crescer não era especialmente grande, nem forte, embora feio, mas não tão feio a ponto de assustar. Não era agressivo, nem irascível, nem traiçoeiro, não provocava. Preferia manter-se distante”.
(Patrick Süskind. O perfume.)
Um perfume único
A rejeição e a falta de afeto fazem de Grenouille um ser inábil para o convívio social. Além disso, ele não tem nenhum senso moral. Ao se empregar como aprendiz de perfumista, descobre enfim um propósito para a sua vida: criar um perfume único, perfeito, que lhe dê a dignidade e o reconhecimento que nunca recebeu.
Mas, para conseguir essa essência ideal, o preço é alto. Grenouille descobre isso ao perceber, em um de seus passeios solitários pela cidade, um cheiro que nunca havia sentido antes. Ele o persegue até encontrar uma mocinha que estava sozinha em sua casa. Era dela que vinha aquele aroma nunca antes sentido por ele. Em sua ânsia para captar aquele odor que o inebria, ele acaba por estrangular a jovem. É a sua primeira vítima.
“Devia ter uns treze ou quatorze anos. Logo ele saberia qual era a fonte do aroma que havia cheirado a quase dois quilômetros de distância, da outra margem do rio: (…). A fonte era a garota. Ficou tão perturbado por um momento que, de fato, pensou que jamais em sua vida vira algo tão bonito quanto essa moça”.
(Patrick Süskind. O perfume.)
Nasce o assassino em série
Outras viriam na busca incessante de Grenouille pelo perfume perfeito. As mortes das jovens mulheres logo começam a chamar a atenção da polícia e do povo. As investigações tornam pública a existência de um assassino em série.
Enquanto isso, Jean-Baptiste continua estudando e trabalhando em sua essência. O perfume que produz com os odores que retira dos corpos de suas jovens vítimas. Ele mata para produzir o líquido precioso que permita a um homem sem cheiro a notoriedade de criar o cheiro perfeito.
A narrativa poética e sensorial de O perfume
Para contar essa história, o escritor alemão Patrick Süskind não narra simplesmente os fatos, mas nos envolve na narrativa principalmente através da descrição dos cheiros que o ambiente e as personagens exalam. É um passeio pelos sentidos em que o olfato é o grande anfitrião.
Essa é uma obra, sem dúvida, muito inquietante. Um romance em que o suspense e o terror se aliam ao lirismo de uma prosa poética e plástica, paupável. Talvez aí resida o sucesso de O perfume. Na capacidade que o livro tem de nos colocar dentro da história. E de nos trazer o horror que nos pode causar o próprio ser humano.
O caráter verossímil da narrativa, embora construa uma atmosfera horripilante, que nos faz odiar o protagonista e nos enojarmos com a descrição de seus atos, também nos atrai para a história. Queremos saber como tudo vai terminar. Até onde Jean-Baptiste Grenouille é capaz de ir para concluir seu projeto.
Grenouille, em sua busca desesperada pelo perfume perfeito, nos confronta com questões profundas sobre a natureza humana, a moralidade e o significado da vida.
“A mão que envolvia o frasco tinha um cheiro, um perfume bem suave, quando ele a conduziu até o nariz e a farejou”.
(Patrick Süskind. O perfume.)
O perfume, um clássico contemporâneo
O Perfume é considerado um clássico contemporâneo, e com razão. Através de sua prosa sedutora, Süskind leva-nos a um mundo sombrio e fascinante. Ele nos faz questionar nossos próprios desejos e até onde estaríamos dispostos a ir para alcançá-los. E por que nos atraímos tanto para o que é que ignóbil, aterrorizante.
Em suma, O Perfume é uma obra-prima literária que nos cativa desde a primeira página. Patrick Süskind nos presenteia com uma narrativa envolvente e provocativa, que nos faz refletir sobre os mistérios da existência e os caminhos que escolhemos seguir.
Você quer saber como termina essa história? Grenouille conseguiu produzir a sua tão almejada essência? O perfume perfeito? Leia O perfume. É uma leitura que vale o risco!