Pular para o conteúdo
Início » O amor romântico e o adultério feminino em O primo Basílio, de Eça de Queirós

O amor romântico e o adultério feminino em O primo Basílio, de Eça de Queirós

  • Samira Mór 

O primo Basílio, do escritor português Eça de Queirós, é uma das obras mais famosas da literatura em língua portuguesa. O livro foi escrito em meio às ideias realistas em Portugal e, como outras obras desse estilo artístico, se coloca em enfática oposição ao movimento artístico anterior, o Romantismo. A obra coloca em questão dois temas muito caros à época: o amor romântico e o adultério feminino. É o que analisaremos neste artigo.

Luísa, protagonista do romance, e a sedução das cartas de Basílio.

O amor romântico sempre ocupou um lugar privilegiado na literatura, e, por consequência, na imaginação coletiva. No entanto, o que Eça de Queirós faz em O Primo Basílio é desmontar esse mito, apresentando os perigos e as armadilhas desse ideal de amor.

Além disso, como em outras obras do período, o livro traz como mote para o enredo o adultério cometido pela protagonista, Luísa, mulher casada que se deixa seduzir pelo próprio primo.

O amor romântico e a idealização do outro

Em O Primo Basílio, o amor romântico é retratado como um sentimento que leva à idealização do outro, cegando os apaixonados para a realidade. Basílio, que é a personagem que dá nome ao livro, é idealizado por Luísa, a protagonista, que se deslumbra com a imagem que ela mesma cria dele. E isso é, em boa parte, influência das leituras de romances românticos que eram o passatempo predileto da protagonista. Nesse cenário, Eça de Queirós lança uma crítica ao amor romântico, sugerindo que ele é uma criação fantasiosa e não uma experiência genuína.

A crítica à fidelidade e ao casamento

A crítica de Eça de Queirós ao amor romântico se estende à fidelidade e ao casamento. A protagonista, Luísa, é casada, mas se envolve com Basílio, colocando em xeque a suposta felicidade do matrimônio. O autor parece sugerir que o ideal de amor eterno e incondicional é uma ilusão, e que a realidade do casamento pode ser muito diferente daquilo que é apresentado nos romances da época.

A protagonista Luísa entre o marido, Jorge, e o amante, seu primo, Basílio.

A visão de Eça de Queirós sobre o amor

A visão de Eça de Queirós sobre o amor é bastante realista, e se distancia do romantismo que domina a literatura de sua época. Para o autor, o amor é um sentimento complexo e multifacetado, que não pode ser reduzido a uma única definição. A crítica ao amor romântico em O Primo Basílio reflete essa visão, demonstrando como a busca por viver a aventura de uma paixão fantasiosa pode levar alguém à ruína. E, nesse caso, para intensificar essa crítica, esse alguém é uma mulher e burguesa.

O amor romântico e a sociedade contemporânea

A crítica de Eça de Queirós ao amor romântico é ainda mais relevante hoje, em uma sociedade que continua a idolatrar o amor perfeito e eterno. O primo Basílio nos convida a questionar esses ideais, sugerindo que o amor real é muito mais complexo e desafiador do que o retratado nos romances. O amor idealizado nos romances – e ainda hoje também nas novelas, filmes e músicas – cria uma falsa ideia do que seja o amor, podendo levar a frustrações e infelicidades.

A importância de O Primo Basílio na literatura portuguesa

O Primo Basílio é uma obra fundamental na literatura portuguesa, não apenas pela crítica ao amor romântico, mas também pela forma como retrata a sociedade portuguesa do século XIX. O romance de Eça de Queirós é uma obra atemporal, que continua a ser relevante e a provocar reflexões sobre o amor e a sociedade.

A obra retrata a vida burguesa e a visão muitas vezes enganosa e fútil da realidade. Além disso, o romance foca na figura feminina, colocando-a como a chave da crítica desenvolvida pelo autor. A protagonista é uma mulher burguesa de educação romântica vinda da leitura de histórias sobre amores cheios de paixão, aventura e emoção. Isso a torna uma pessoa tola, presa fácil para um conquistador, como Basílio. E, com isso, Luísa acaba por colocar em risco algo muito importante dentro da sociedade burguesa, o casamento.

O adultério feminino foi um tema muito recorrente nos romances realistas que buscavam mostrar a vida burguesa com todas as suas fraquezas. O casamento era uma instituição muito valiosa para a classe burguesa por manter protegidos os bens da família. Uma mulher que era capaz de trair o marido colocava o casamento em risco. E, segundo os realistas, a culpa disso era, em grande parte, das ilusões criadas e alimentadas pelo Romantismo.

Livro O primo Basílio, de Eça de Queirós

Amor romântico vs Realidade em O Primo Basílio

O amor romântico, com suas promessas de felicidade eterna e perfeição, é um conceito que permeia a literatura e a cultura em geral. No entanto, em O Primo Basílio, Eça de Queirós nos apresenta uma visão diferente, mais realista e menos idealizada. A crítica ao amor romântico feita pelo autor é um convite ao questionamento, à reflexão sobre o que realmente significa amar. Em uma sociedade que ainda se encanta com a ideia do amor perfeito, essa crítica é mais atual e necessária do que nunca.

Por isso, ao revisitar O Primo Basílio, não apenas nos deleitamos com a prosa elegante de Eça de Queirós, mas também somos convidados a refletir sobre nossas próprias concepções de amor. E quem sabe, ao final da leitura, possamos, assim como o autor, enxergar o amor romântico sob uma luz diferente, mais realista e mais humana.

1 comentário em “O amor romântico e o adultério feminino em O primo Basílio, de Eça de Queirós”

  1. Pingback: O Primo Basílio, de Eça de Queirós: Resenha

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *