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Modernismo no Brasil: contexto histórico, características, autores e obras

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O Modernismo no Brasil foi um movimento artístico que revolucionou a forma como a arte e a literatura eram produzidas no país. Esse movimento perdurou por boa parte do século XX e refletiu as mudanças por essa época passou.

Nascido do desejo de inovação e de uma crítica contundente ao academicismo e ao tradicionalismo, esse movimento buscou construir uma identidade cultural genuinamente brasileira, rompendo com as amarras estéticas do passado.

Neste post, veremos como foi o contexto histórico do Modernismo no Brasil, suas principais características, os maiores autores e as obras que se destacaram.

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Semana de Arte Moderna de 1922: marco inicial do Modernismo no Brasil

O marco inicial do Modernismo no Brasil foi a Semana de Arte Moderna, realizada em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. O evento chocou a sociedade da época e reuniu artistas, escritores e intelectuais de grande talento, alinhados com as inovações propostas pelas vanguardas da arte europeia.

Por meio de exposições, palestras e apresentações artísticas, demonstraram as propostas estéticas da arte moderna. Poetas, romancistas, pintores, escultores, arquitetos, músicos, esses artistas manifestaram o desejo de uma arte que, através de uma nova linguagem, revelasse a realidade brasileira e refletisse nossa identidade.

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A Semana ocorreu nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922. Os dois primeiros dias foram de grande alvoroço. As apresentações dos artistas chocaram o público presente acostumado à arte acadêmica e clássica. Artistas com Oswald de Andrade, Mario de Andrade e Vila-Lobos foram vaiados e considerados subversivos.

O terceiro dia foi o mais tranquilo e bem aceito pela plateia. No saguão do teatro, obras como O homem amarelo, de Anita Malfatti, e Eva, de Victor Brecheret, recebiam as pessoas ao som de poemas, como Os sapos, de Manuel Bandeira, declamado por Ronald de Carvalho.

A Semana de Arte Moderna foi um movimento isolado, restrito à cidade de São Paulo e ao Rio de Janeiro, mas, ainda assim, representa o marco inicial do movimento. E suas propostas repercutiram em outros estados e ao longo dos anos seguintes.

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Contexto histórico do Modernismo no Brasil

O início do século XX no Brasil foi marcado por intensas transformações. A Primeira Guerra Mundial, a crescente urbanização, o surgimento de novas tecnologias e uma atmosfera de desejo pelo novo criaram um terreno fértil para uma ruptura com o passado.

No cenário nacional, a República Velha e a hegemonia das oligarquias rurais começavam a ser questionadas. Havia um desejo latente por modernização e de afirmação de uma identidade brasileira autêntica, que refletisse a nossa realidade.

A “política do café com leite”, que alternava governantes paulistas e mineiros no poder, já não mais agradava a parte da população. Ela vigoraria até 1930, quando um golpe de estado colocaria fim à chamada República Velha.

É nesse momento de instabilidade e insatisfação política que ocorre a Semana de Arte Moderna em São Paulo. Artistas como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Pichia, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Ronald de Carvalho e Victor Brecheret causaram com suas obras grande impacto no público que participou do evento.

As décadas iniciais do século XX são marcadas também pela crise econômica que gerava greves e protestos, pelo movimento tenentista que desejava acabar com grande concentração de poder nas mãos de grandes proprietários rurais e por revoltas que queriam o fim da República Velha.

Características do Modernismo no Brasil

São características do movimento modernista brasileiro:

  • a ruptura com o passado: forte oposição e crítica aos modelos estéticos e literários vigentes, como o Parnasianismo e o Romantismo, considerados ultrapassados;
  • o nacionalismo crítico: busca por uma identidade nacional autêntica, que valorizasse as raízes nacionais, sem cair no ufanismo e refletindo um Brasil real, com seus problemas e sua diversidade;
  • a liberdade formal: abolição das rígidas regras de métrica, rima e estrutura na poesia e na prosa (o verso livre, a prosa experimental e as inovações com a sintaxe se tornaram comuns);
  • a linguagem coloquial: a aproximação da linguagem artística com a fala cotidiana do povo, incorporando gírias, regionalismos e a oralidade brasileira;
  • os temas sociais e cotidianos: a abordagem de problemas sociais, a urbanização, a vida no campo, o cotidiano do homem comum e as questões existenciais;
  • o humor e a ironia: utilização desses recursos como ferramentas de crítica social, desconstrução e reflexão;
  • o sincretismo cultural: fusão de diferentes elementos culturais, tanto nacionais quanto internacionais, de forma original e criativa;
  • a influência das vanguardas artísticas europeias: Cubismo, Futurismo, Expressionismo, Dadaísmo e Surrealismo tiveram seus traços refletidos nas obras produzidas aqui durante o Modernismo (principalmente nas obras da primeira geração);
  • antropofagia cultural: ideia proposta por Oswald de Andrade de devorar a cultura estrangeira, digeri-la e transformá-la em algo genuinamente brasileiro, original e único.

Autores e obras que definiram o Modernismo no Brasil

Para que se possa compreender melhor a evolução do movimento modernista no Brasil, é comum dividi-lo em três fases ou gerações, cada uma apresentando seus principais autores e as obras mais marcantes.

Primeira geração (1922-1930): fase heróica ou de destruição

Essa foi a fase mais radical ou experimental do movimento, marcada pela busca incessante pela originalidade e pela crítica contundente aos valores antigos.

São autores e obras importantes dessa geração:

  • Mário de Andrade: grande pensador e pesquisador da cultura brasileira, era apaixonado por São Paulo, sua cidade natal, e pelo nosso folclore, ambos objetos de suas obras em prosa e em verso.

* Obras notáveis: Pauliceia desvairada, Losango cáqui, Lira Paulistana (poesia), Amar: verbo intransitivo e Macunaíma (romance).

  • Oswald de Andrade: provocador e visionário, autor dos Manifestos Pau-Brasil e Antropofágico, foi um grande pensador da identidade brasileira.

* Obras notáveis: Poesia Pau-Brasil (poesia) e Memórias sentimentais de João Miramar (romance).

  • Manuel Bandeira: poeta da simplicidade e da melancolia, mas também da irreverência, tem como temas a infância e a morte.

* Obras notáveis: A cinza das horas, Ritmo dissoluto, Libertinagem, Estrela da manhã (poesia).

  • Tarsila do Amaral: pintora emblemática do movimento, com suas cores vibrantes e temas brasileiros.

* Obras notáveis: Abaporu, Operários, A negra.

  • Anita Malfatti: representante do Expressionismo na pintura brasileira, sua exposição de 1917 causou tamanho furor que gerou a ideia da Semana de Arte Moderna.

* Obras notáveis: O homem amarelo, A boba.

Segunda geração (1930-1945): fase de consolidação ou de construção

Considerada a fase mais rica e produtiva, consolidou as propostas modernistas e gerou obras de grande profundidade e relevância social e psicológica.

São autores e obras importantes dessa geração:

  • Carlos Drummond de Andrade: um dos maiores poetas brasileiros, apresenta uma poesia marcada pela terra natal, Itabira, pela memória, pela ironia, introspecção e pela crítica social.

* Obras notáveis: Alguma poesia, Sentimento do mundo, A rosa do povo, José (poesia).

  • Cecília Meireles: poeta de grande lirismo e misticismo, com grande influência do Simbolismo e temas como a memória e o tempo.

* Obras notáveis: Viagem, Romanceiro da Inconfidência (poesia).

  • Vinícius de Moraes: poeta e compositor, sua obra é marcada por forte romantismo.

* Obras notáveis: O caminho para a distância, Para viver um grande amor, Pela luz dos olhos teus (poesia).

  • Graciliano Ramos: mestre do regionalismo e da prosa seca e contundente, abordando a miséria e a condição humana, temas voltados para sertão nordestino.

* Obras notáveis: Vidas secas, São Bernardo, Angústia (romance).

  • Rachel de Queiroz: uma das primeiras grandes escritores brasileiras a abordar o sertão e as questões sociais.

* Obras notáveis: O Quinze, Caminho de pedras, As três Marias, Memorial de Maria Moura (romance).

  • Jorge Amado: romancista que retratou a Bahia, seus tipos populares e suas injustiças sociais.

* Obras notáveis: Gabriela, cravo e canela, Dona Flor e seus dois maridos, Capitães da areia (romance).

Terceira Geração (1945-1960): fase pós-modernista ou geração de 45

Essa fase marca um retorno a uma maior preocupação formal e um certo rigor estético, mas sem abandonar a liberdade conquistada.

São autores e obras importantes dessa geração:

  • João Cabral de Melo Neto: chamado de poeta-engenheiro, sua poesia é marcada pelo rigor formal, pela objetividade e pela concisão vocabular.

* Obras notáveis: Pedra do sono, O engenheiro, O cão sem plumas, Morte e vida severina (poesia).

  • João Guimarães Rosa: escritor que revolucionou a prosa brasileira com sua linguagem inventiva e a exploração do universo sertanejo.

* Obras notáveis: Sagarana, Primeiras estórias, Grande sertão: veredas.

  • Clarice Lispector: mestre da prosa introspectiva e psicológica, em que explora o fluxo de consciência, o monólogo interior e a epifania.

Obras notáveis: Perto do coração selvagem, Felicidade clandestina, Laços de família, Água viva, Uma apredizagem ou o livro dos prazeres, A hora da estrela.

Conclusão

O Modernismo no Brasil não se encerrou em uma data específica. Suas ideias e experimentações permanecem até hoje na produção artística e cultural do país.

Ao romper com o academicismo, valorizar a identidade nacional e propor novas formas de expressão, os modernistas abriram as portas para a diversidade, a originalidade e uma contínua reflexão sobre o que significa ser brasileiro.

Sua influência pode ser vista na música, no teatro, no cinema e nas artes visuais e na literatura contemporânea.

Samira Mór é formada em Letras pela UFJF e Mestra em Literatura pela mesma instituição. É também professora das redes pública e privada há mais de trinta anos. Apaixonada por palavras e livros desde sempre, seu objetivo é partilhar com as pessoas o amor pela leitura e pelos livros.

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