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Melhores poemas de Mário Quintana

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O poeta gaúcho Mário Quintana escreveu muitos poemas que se tornaram conhecidos e tornaram-se os preferidos de muitos leitores. Quintana nasceu em 1906 e nos deixou em 1994. Além de poeta, foi também tradutor e jornalista.

É considerado um dos maiores poetas da nossa literatura e recebeu os prêmios Machado de Assis e o Jabuti por sua obra. Veja neste post uma seleção com os melhores poemas de Mário Quintana.

Poemas de Mário Quintana

A rua dos cataventos

A rua dos cataventos

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.
 
Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.
 
Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!
 
Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

Canção do dia pra sempre

Canção do dia pra sempre

Tão bom viver dia a dia…
A vida assim, jamais cansa…
 
Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu…
 
E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência… esperança…
 
E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.
 
Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.
 
Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!
 
E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas…
Fotografia de Mário Quintana

Esperança

Esperança

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E — ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…

Presença

Presença

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos…
 
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo…
 
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
 
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida…
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato…
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.

Bilhete

Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…

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Um artigo sobre a vida e a obra de Adélia Prado, poeta do cotidiano e da intimidade. Veja a delicadeza e a simplicidade com que Adélia faz seus poemas e saiba mais sobre a vida dessa grande escritora.

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Do amoroso esquecimento

Do amoroso esquecimento

Eu agora — que desfecho!
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

Emergência

Emergência

Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo —
para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.

Os poemas

Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…

Tic-tac

Tic-tac

Esse tic-tac dos relógios
é a máquina de costura do Tempo
a fabricar mortalhas.

Relógio

Relógio

O mais feroz dos animais domésticos
é o relógio de parede:
conheço um que já devorou
três gerações da minha família.

Envelhecer

Envelhecer

Antes, todos os caminhos iam.
Agora todos os caminhos vêm
A casa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas

Seiscentos e sessenta e seis

Seiscentos e sessenta e seis

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
 
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente…
 
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

O pobre poema

O pobre poema

Eu escrevi um poema horrível!
É claro que ele queria dizer alguma coisa…
Mas o quê?
Estaria engasgado?
Nas suas meias-palavras havia no entanto uma ternura mansa como a que se vê nos olhos de uma criança doente, uma precoce, incompreensível gravidade
de quem, sem ler os jornais,
soubesse dos seqüestros
dos que morrem sem culpa
dos que se desviam porque todos os caminhos estão tomados…
Poema, menininho condenado,
 
bem se via que ele não era deste mundo nem para este mundo…
Tomado, então, de um ódio insensato,
esse ódio que enlouquece os homens ante a insuportável
verdade, dilacerei-o em mil pedaços.
 
E respirei…
Também! quem mandou ter ele nascido no mundo errado?

Matinal

Matinal

O tigre da manhã espreita pelas venezianas.
O Vento fareja tudo.
Nos cais, os guindastes domesticados dinossauros – erguem a carga do dia.

Da discrição

Da discrição

Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também…

Simultaneidade

Simultaneidade

– Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
– Você é louco?
– Não, sou poeta.

Amor

Amor

Quando duas pessoas fazem amor
Não estão apenas fazendo amor
Estão dando corda ao relógio do mundo

Da felicidade

Da felicidade

Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!

O que o vento não levou

O que o vento não levou

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento…

Pergunta errada

Pergunta errada

Se eu acredito em Deus? Mas que valor poderia ter minha resposta, afirmativa ou não?
O que importa é saber se Deus acredita em mim.
Passarinho, figura presente no poema de Quintana

Poeminha do contra

Poeminha do contra

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!

Das utopias

Das utopias

Se as coisas são inatingíveis… ora!
Não é motivo para não querê-las…
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

Conclusão

Os poemas de Mário Quintana nos oferecem bons momentos de reflexão e alguns sorrisos. Isso porque sua poesia é marcada pela ironia e por muito bom humor.

Além disso, como é possível ver na pequena seleção que apresentamos neste post, seus temas mais comuns são o amor, a passagem do tempo, o cotidiano e a natureza. O poeta destaca-se por escrever poemas concisos e, ao mesmo tempo, ser um mestre dos sonetos e do rigor formal.

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Samira Mór é formada em Letras pela UFJF e Mestra em Literatura pela mesma instituição. É também professora das redes pública e privada há mais de trinta anos. Apaixonada por palavras e livros desde sempre, seu objetivo é partilhar com as pessoas o amor pela leitura e pelos livros.

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