O Humanismo não é propriamente um estilo ou movimento artístico, mas sim um período de transição entre a visão teocêntrica da Idade Média e a perspectiva antropocêntrica do Renascimento.
Neste artigo, falaremos sobre o que caracteriza o Humanismo, o contexto em que ocorreu, os principais autores portugueses e as obras relevantes desse período.
O que foi o Humanismo?
Mas, afinal, o que é o Humanismo? O próprio nome do movimento já indica sua principal característica: a valorização do ser humano.
Durante a Idade Média, por cerca de dez séculos, o pensamento dominante era teocêntrico, ou seja, Deus era o centro de tudo—da vida, da vontade e do conhecimento.
Nesse momento, a Igreja Católica detinha grande poder, pois era ela quem representava a vontade de Deus na Terra. A Igreja era, assim, a ligação entre o humano e o divino.
O homem, por sua vez, não passava de um instrumento nas mãos do criador e tudo o que ocorria ao seu redor era apenas a vontade de Deus. O ser humano, portanto, não tinha nenhuma participação ou era capaz de intervir nos acontecimentos e na criação do mundo.
Nos séculos XIV e XV, porém, essa visão começou a mudar. Fatos importantes fizeram com que os indivíduos percebessem que tinham um papel ativo no mundo e que nem tudo dependia exclusivamente da vontade de Deus.

E a ação humana passou a ser reconhecida como determinante para os rumos da sociedade.
Enfim, podemos sintetizar o pensamento humanista na célebre frase:
“O homem é a medida de todas as coisas.”
O contexto histórico do Humanismo
Mas o que levou os homens dos séculos XIV e XV a repensarem sua posição no mundo?
Um dos fatores decisivos foi a chegada à Itália no século IV de estudiosos vindos de Constantinopla, trazendo consigo obras clássicas da Antiguidade. Após a invasão dos turcos otomanos, temendo que esses textos fossem destruídos, os sábios que guardavam as obras fugiram para o Ocidente, levando esse conhecimento consigo.
Durante a Idade Média, a Igreja controlava o saber, já que os monges eram os responsáveis pela cópia e preservação dos livros. Muitas obras da Antiguidade foram alteradas para se adequarem aos dogmas cristãos ou simplesmente destruídas por serem heréticas. Assim, grande parte do conhecimento clássico foi perdida no Ocidente.
Com a chegada dos manuscritos originais, os textos de autores gregos e latinos puderam ser estudados em sua íntegra. Essas obras, que valorizavam o ser humano e suas capacidades, tornaram-se fundamentais para a produção intelectual do Renascimento e se encaixaram perfeitamente no espírito humanista da época.
Ao mesmo tempo, os avanços na navegação e o desenvolvimento de novos instrumentos permitiram que os europeus explorassem o mundo como nunca antes.

As grandes viagens marítimas levaram o homem europeu a terras desconhecidas, colocando-o em contato com diferentes povos e culturas. Essa descoberta ampliou sua visão de mundo e reforçou a ideia de que o homem era capaz de moldar sua própria realidade.
Além disso, o ressurgimento da vida urbana, após séculos de isolamento nos feudos medievais, e a retomada do comércio nas cidades favoreceram a troca de ideias e experiências entre diferentes sociedades. Esse novo dinamismo social impulsionou ainda mais a transformação do pensamento, abrindo caminho para o Renascimento.
Humanismo em Portugal
Portugal era, no século XV, um relativamente jovem e pequeno país, ainda muito influenciado culturalmente pela Espanha da qual se emancipou no século XII.
A Escola de Sagres e o príncipe d. Henrique, no entanto, colocaram o país em evidência ao criarem condições favoráveis para saírem para o mar nas chamadas Grandes Navegações.
As longas viagens por mar trouxeram muita riqueza e importância social para Portugal, apesar de isso ter durado pouco.
Em relação à cultura, muito do que se produzia no período estava ainda atrelado às produções espanholas, principalmente o teatro. Até que surge Gil Vicente, dramaturgo considerado hoje o Pai do Teatro Português.
Gil Vicente
Gil Vicente foi o primeiro escritor de peças teatrais em Portugal. Antes dele, o teatro da época reproduzia obras do teatro espanhol. Por isso, Gil Vicente é chamado de Pai do Teatro Português.
Com peças marcadas pelo humor e pela crítica social, Gil Vicente constrói uma obra satírica que não perdoava ninguém da sociedade de seu tempo. Desde o trabalhador liberal até o nobre e o padre.
Escritas em verso, as peças têm também caráter documental, retratando os costumes da época e o modo como as pessoas se relacionavam.

São peças teatrais marcantes do autor: Auto da Barca do Inferno, O Velho da Horta, Farsa de Inês Pereira, entre outras.
Outras produções do Humanismo em Portugal
Além de Gil Vicente, o Humanismo português também apresentou outras obras importantes como a historiografia de Fernão Lopes e a poesia palaciana de Garcia de Resende.
Fernão Lopes era o cronista-mor do reino, ou seja, foi contratado para contar a história e o governo do rei daquele momento. Diferentemente dos cronistas anteriores, Fernão Lopes incluiu em seu relato a contribuição do povo que tem papel ativo nos acontecimentos.
Garcia de Resende era poeta e compilou em um livro chamado Cancioneiro Geral toda a poesia do período. Denominada palaciana, a poesia era produzida para ser declamada e diferenciava-se, assim, das cantigas trovadorescas, que eram acompanhadas de melodia.
Conclusão
O Humanismo foi um momento de transição entre a Idade Média e o Renascimento, marcando a valorização do ser humano como agente de transformação no mundo.
Impulsionado pelo resgate do conhecimento clássico, pelas grandes navegações e pelo crescimento das cidades, esse movimento redefiniu a maneira como o homem via a si mesmo e sua relação com o divino.
Mais do que um simples período histórico, o Humanismo lançou as bases para uma nova forma de pensar, onde a razão, a ciência e a criatividade passaram a ocupar um papel central no desenvolvimento da sociedade.