Se existe uma autora brasileira capaz de provocar reflexões profundas com poucas palavras, essa autora é Clarice Lispector.
Com sua escrita densa, filosófica e existencial, Clarice nos convida a olhar para dentro — mesmo que isso doa. Seus livros não são feitos para leitura apressada. São feitos para sentir.
Uma voz única na literatura brasileira
Clarice nasceu na Ucrânia, mas chegou ao Brasil ainda bebê. Cresceu em Recife, viveu no Rio de Janeiro e se tornou uma das figuras mais enigmáticas da literatura nacional.
Diferente de muitos autores da sua geração, Clarice não se preocupava em contar histórias tradicionais.
Sua literatura é feita de fluxo de consciência, de personagens em crise, de silêncios e pensamentos que quase nunca são ditos em voz alta.

Algumas das obras mais marcantes de Clarice Lispector
Perto do Coração Selvagem (1943)

Seu romance de estreia, escrito com apenas 23 anos, causou espanto na crítica. A história de Joana, uma mulher intensa e inquieta, marcou o início de uma nova forma de escrever no Brasil.
A Paixão Segundo G.H. (1964)

Uma das obras mais complexas e impactantes da autora. Uma mulher sozinha em casa vive uma experiência que desafia os limites da linguagem e da identidade.
Laços de Família (1960)

Coletânea de contos que mistura o cotidiano e o absurdo, revelando o desconforto escondido sob a superfície das relações familiares.
Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres (1969)

Lóri é uma mulher que aprende a se libertar do medo e a se abrir para o amor. Ao lado de Ulisses, um professor enigmático, ela mergulha em uma jornada de autoconhecimento. O romance é uma reflexão poética sobre o silêncio, o desejo e o amadurecimento emocional.
A Hora da Estrela (1977)

Seu livro mais popular e acessível. Conta a história de Macabéa, uma jovem nordestina apagada pela vida. É um retrato comovente da invisibilidade, narrado por um escritor fictício que também se questiona.
Por que ler Clarice Lispector?
Porque Clarice nos faz sentir a existência com mais intensidade.
Ela escreve sobre as angústias, os desejos, os vazios e os instantes de lucidez que todos vivemos. Clarice não entrega respostas: ela oferece espelhos — mesmo que rachados.
Ler Clarice é como se expor ao vento: pode ser desconfortável, mas sempre nos transforma.
Quem se encanta por Clarice?
Leitores que buscam obras mais introspectivas e filosóficas. Quem gosta de mergulhar em personagens femininas complexas.
Estudantes que desejam entender melhor a literatura intimista e subjetiva no Brasil. Pessoas que já leram outras obras existenciais, como as de Virginia Woolf, Kafka e Fernando Pessoa.
Clarice Lispector e o Modernismo
Clarice faz parte da terceira fase do Modernismo brasileiro, também chamada de Pós-Modernismo.
É nesse período que a literatura se volta para o interior das personagens, para suas dúvidas e contradições. Clarice é a expressão mais intensa dessa fase.
Enquanto autores como Graciliano Ramos revelavam as dores do mundo exterior, Clarice revelava o abismo do mundo interior.

Uma escrita para ser lida com o coração
Clarice Lispector não é uma autora fácil. Mas é inesquecível.
Seu estilo fragmentado, lírico e profundamente humano nos convida a olhar para a vida com mais sensibilidade. Ela escreve como quem sussurra verdades no escuro — e quem lê, nunca sai ileso.
Como ela mesma escreveu:
“Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar.”
Samira Mór é formada em Letras pela UFJF e Mestra em Literatura pela mesma instituição. É também professora das redes pública e privada há mais de trinta anos. Apaixonada por palavras e livros desde sempre, seu objetivo é partilhar com as pessoas o amor pela leitura e pelos livros.
