Cinco clássicos da literatura brasileira que você precisa ler. Por quê? Vejamos a seguir.
Os clássicos da Literatura Brasileira estão cheios de boas histórias. Histórias repletas de aventuras, dramas, paixões, curiosidades e humor. E esses livros não nos contam só histórias. Eles também fazem um retrato de nossa sociedade de ontem que tem muito em comum com a de hoje. Através deles, é possível também saber muito sobre os costumes e o modo como as pessoas entendiam a vida e se relacionavam umas com as outras. Em suma, os livros clássicos de nossa literatura são obras que nos divertem e também nos ensinam.
Neste artigo, falaremos de cinco obras muito importantes de nosso cânone que todo brasileiro deveria ler. São obras verdadeiramente memoráveis e que frequentemente são tema das questões dos concursos de imgresso nas universidades brasileiras. São elas: Dom Casmurro, Senhora, Amar, verbo intransitivo, Vidas secas e A hora da escrela.
Dom Casmurro
Comecemos por uma das obras mais famosas de nossa literatura: Dom Casmurro. Não há como ler essa obra sem que ela nos impacte, nos incomode e nos emocione. E isso por diversos motivos. Primeiro porque, no decorrer da leitura, muitos questionamentos sobre a essência e o comportamento humano vão surgindo. E isso nos leva a fazer a nossa própria reflexão a respeito. Segundo porque é inevitável a nossa identificação, mesmo que não queiramos, com o narrador. Depois temos a eterna e insolúvel dúvida sobre a traição cometida, ou não, por uma das personagens mais admiráveis de nossa literatura, Capitu. E finalmente, devido às referências ao Brasil do Segundo Império e ao comportamento e costumes da sociedade carioca do século XIX.
Outros pontos muito positivos sobre essa obra poderiam ser levantados aqui. Mas vamos ficar com um que chama bastante a atenção ao estudarmos esse livro dentro da escola literária em que é colocado, o Reallismo. O movimento realista produziu obras que buscavam mostrar a vida como ela é, com todos os seus problemas, com toda a sua crueza, e o ser humano com toda a sua… humanidade.
Realismo
Esse movimento se opunha veementemente ao Romantismo, estilo artístico anterior, e condenava os comportamentos inspirados nas obras românticas. Os realistas acreditavam que as histórias românticas tornavam seus leitores, e principalmente as leitoras, pessoas fracas, movidas por paixões enganosas e dadas a aventuras que lhes trariam a ruína.
Por isso muitas obras da época procuravam demonstrar como uma educação romântica poderia levar as mulheres, que alimentavam seus sonhos com as ilusões inscritas nas histórias do Romantismo, a cometer adultério e a colocar o casamento em risco. Muitos foram os romances do período que trouxeram histórias de adultério feminino. Esse também foi o caso da narrativa de Dom Casmurro.
No entanto, Machado inovou genialmente em seu livro. Não há provas do adultério de Capitu, a esposa. Há indícios, sim, mas estes perdem muito a sua força quando relacionados ao comportamento do próprio narrador e protagonista, Bento Santiago, marido de Capitu. E o recurso admirável de Machado foi relatar o suposto adultério sob a ótica do marido, homem de caráter ruim que sofria de ciúmes e complexo de inferiodade diante da esposa e de Escobar. seu melhor amigo e a quem Bento atribuia o papel de amante de Capitu.
Senhora
O que você faria se fosse abandonada pelo amor da sua vida, pois este resolveu trocar o seu amor por dinheiro? Sofreria, choraria, comeria muito brigadeiro, provavelmente. Mas e se você, de repente, ficasse muito rica e pudesse se vingar? E se essa vingança fosse comprar esse homem e fazê-lo se casar com você só para humilhá-lo terrivelmente e fazê-lo entender o quanto ele foi vil e ignóbil? Pois a protagonista de Senhora, de outro importante escritor de nossa literatura, José de Alencar, fez exatamente isso: realizou o desejo de muitas mulheres abandonadas e trocadas por algo bem menos valioso do que elas próprias.
Senhora é, assim como Dom Casmurro, um romance de costumes que relata a vida na Corte brasileira do século XIX, a cidade do Rio de Janeiro, com seus bailes, saraus e caminhadas pelo Passeio Público. Mas a narrativa aqui é romântica, ainda que já traga sutilmente uma crítica à sociedade burguesa e à vida pautada nas aparências e no dinheiro.
A senhora do título do livro é Aurélia Camargo, mulher altiva e corajosa que abala a sociedade carioca com sua fortuna e beleza. O homem com quem se casa por 100 contos de réis é Fernando Seixas, rapaz ambicioso e dado a gastos bem maiores do que o seu humilde orçamento. E é por Isso que Fernando precisa abandonar Aurélia, que a princípio era apenas uma moça pobre, para ficar noivo de Adelaide, moça rica que lhe acenava com um dote de 50 contos.
É ou não é uma história instigante?! Não é à toa que está nessa seleção de cinco clássicos de nossa literatura que você precisa ler.
Amar: verbo intransitivo
Saindo do século XIX e pousando no XX, chegamos a uma obra bastante impactante: Amar: verbo intransitivo, do escritor Oswald de Andrade. Essa narrativa se inscreve no movimento Modernista e traz uma história bem chocante aos nossos olhos de hoje. Trata-se de um pai que contrata uma mulher aparentemente como professora de seus filhos, mas, na verdade, o objetivo principal era que ela iniciasse sexualmente o filho mais velho, já um jovem rapaz.
Mais uma vez temos um retrato da sociedade construído nas entrelinhas do romance. Mário demonstra através do livro o quanto a sociedade pode ser hipócrita e cruel e o quanto o dinheiro pode ditar as regras de como a vida deve funcionar.
Vidas secas
Outro dos cinco clássicos de nossa literatura que você precisa ler é Vidas secas, uma obra impactante e muito atual. Escrita por Graciliano Ramos, na década de 30 do século XX, narra a luta de uma família de retirantes nordestinos pela sobrevivência numa terra inóspita, seca. Fabiano, Sinhá Vitória e os dois filhos andam pela caatinga tentando não morrer de fome. Sua única aliada é a cachorra Baleia que lhes traz o alimento que com muito custo consegue caçar.
O livro é composto por 12 capítulos, mas o leitor pode lê-los na ordem que preferir, uma vez que os capítulos são estanques como quadros ou cenas relativamente independentes. O primeiro e o último capítulos são marcados pela andança da família pelo leito do rio seco em busca de um melhor lugar para sobreviver. Temos a sensação, assim, de que as personagens andam em círculos, impossibilitadas pela sua própria condição de saírem da situação em que vivem e sem nenhuma chance de ascensão ou redenção da vida seca que enfrentam.
Essa é uma obra que conversa muito com outros romances do período como Os sertões, de Euclides da Cunha e Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, ambos obras de denúncia da seca e da vida miserável dos moradores do sertão nordestino. Outra obra que dialoga com Vidas Secas é o quadro Os retirantes, do pintor Cândido Portinari. Nessa famosa pintura, temos uma família de andarilhos esquálidos que carregam seus pertences pelo semiárido e parecem figuras fantasmagóricas, marcadas pela falta de dignidade que carregam.
A hora da estrela
A hora da estrela, de Clarice Lispector, é outra obra de denúncia do drama do sertanejo para sobreviver à seca. O livro tem como protagonista uma mulher nordestina chamada Macabéa. Aqui a questão da falta já observada em Vidas Secas se concentra em Macabéa, moça órfã, criada por uma tia perversa. Macabéa sai do sertão e vai para a cidade do Rio de Janeiro.
Na cidade, ela consegue um emprego como datilógrafa, mas. como mal sabe ler e escrever, logo encontra problemas para datilografar os textos que o patrão lhe pede. No escritório, ela conhece Glória, moça que é o oposto de Macabéa. Glória é bonita, viçosa e bem alimentada. Também é esperta e sedutora. Com pena de Macabéa, ela procura ajudar a moça a se manter no emprego.
Algum tempo depois, Macabéa encontra Olímpico de Jesus, durante seu passeio de domingo. Olímpico também é nordestino. Os dois tornam-se namorados até que Olímpico conhece Glória. A história vai se desenrolando a partir daí.
Três histórias
Para além das reflexões levantadas pela condição da nordestina Macabéa e suas desventuras, há um outro ponto bastante importante nessa obra: A hora da estrela, na verdade, narra três histórias. A primeira é a história de Macabéa, criatura que simplesmente vive, como uma planta ou um bicho, seguindo o caminho já traçado para ela em consequência de sua própria origem. A segunda é a história do narrador, Rodrigo S. M., escritor que vive o drama de não conseguir escrever e, quando o consegue, sofrer pelo destino de sua personagem. E a última é a história da própria narrativa, que levanta, de forma metalinguística, várias discussões sobre a importância do narrador e sobre a estruturação do enredo.
Cinco obras memoráveis e imperdíveis para quem quer ser um leitor proficiente e crítico. Cinco obras da Literatura Brasileira que você precisa ler. Aproveite!
O livro Vidas Secas continua sendo uma marca na literatura brasileira. Considero que poucos autores conseguiram contar com tantos detalhes a vida do sertanejo, sobretudo naquele período em que o sertanejo estava mais abandonado do que nunca. Os personagens, de Fabiano a Baleia, passando pelos filhos e Sinhá Vitória, são inesquecíveis. Viva Graciliano Ramos!
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