Ainda estou aqui, livro do escritor, jornalista e roteirista Marcelo Rubens Paiva, é um romance que nos toca profundamente.
Ainda muito jovem, Marcelo viu os policiais entrarem em sua casa, em janeiro de 1971, e levarem seu pai para nunca mais vê-lo novamente.
Eram os chamados “anos de chumbo” da ditadura militar no Brasil. O pai de Marcelo, o ex-deputado federal, engenheiro e morador do bairro Leblon, no Rio de Janeiro, Rubens Beyrodt Paiva, foi preso, torturado e morto em uma prisão no Rio de Janeiro. Seu corpo nunca foi encontrado.
Eunice Paiva
À mãe de Marcelo, Eunice, coube a criação de cinco filhos e a reestruturação da família, abalada pelo desaparecimento de Rubens Paiva.
Eunice, antes uma socialite influente nas rodas cariocas e paulistanas, tornou-se a viúva “sem corpo” de um homem preso, torturado e morto pela ditadura, e precisou se reinventar.
Ela mudou-se com a família do Rio de Janeiro para São Paulo, voltou aos estudos e formou-se em Direito. Quando procurada pelos repórteres, não admitia que tivessem pena de sua família e fazia questão que todos sorrissem para as fotos.
A mãe de Marcelo passou anos em busca de notícias do marido morto. Só em 2014 veio a resposta. A Comissão Nacional da Verdade esclareceu o mistério em torno da morte de Rubens Paiva.
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O que aconteceu com Rubens Paiva?
Após dois dias de tortura, o ex-deputado, pai de cinco filhos, não resistiu aos ferimentos e morreu. Foi enterrado e depois desenterrado e o seu corpo foi jogado ao mar, conforme atestaram testemunhas.
Marcelo Rubens Paiva pôde então, enfim, junto com sua família, afirmar com certeza o que houve com seu pai. Ainda estou aqui traz as memórias de todos os anos de expectativa.
E traz também o relato amoroso de um filho diante das lutas de sua mãe, contra a ditadura, contra as injustiças, sejam quais forem, contra o Alzheimer.
A escrita de Marcelo Rubens Paiva
Através de uma escrita leve e fluida, como se estivéssemos em uma conversa íntima com o autor, ele nos revela sua profunda admiração pela mãe.
Esse relato é, a todo tempo, permeado por reflexões sobre a memória, sobre a capacidade do cérebro de guardar os acontecimentos.
A proximidade trazida pela escrita é um dos maiores trunfos do livro. Em Ainda estou aqui, Marcelo narra os fatos, sem amarras, em um fluxo de pensamentos e lembranças que, embora livre, é ao mesmo tempo profundamente reflexivo. A leitura, assim, torna-se extremamente prazerosa e natural.
Ainda estou aqui: um relato pessoal e emocional
Aliada à forma de contar a história, está a própria história desse livro que nos enternece pela sinceridade tocante com que Marcelo descreve a mãe.
É impossível não se emocionar ao acompanhar a jornada dessa família, desde a luta de Eunice para ter notícias do marido preso até a sua velhice e a luta contra o Alzheimer.
O valor histórico de Ainda estou aqui
Além de ser um relato pessoal e emocional, Ainda estou aqui também se destaca pelo seu valor histórico. É um livro que nos ensina muito, tanto pelo contexto quanto pelo lado humano da obra.
Marcelo Rubens Paiva revisita o período da ditadura militar no Brasil, refletindo sobre os horrores cometidos pelo regime.Através de sua escrita, busca entender o que aconteceu com o seu pai, Rubens Paiva, preso e morto em 1971.
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O legado de Ainda estou aqui
Ainda estou aqui é uma narrativa que é, ao mesmo tempo, um tributo de um filho à mãe e uma reflexão profunda sobre perda, resitência e memória.
A obra tornou-se recentemente um filme do diretor Walter Salles com o mesmo título. Nos papéis principais e com atuações brilhantes, estão os atores Fernanda Torres e Selton Mello.
O filme foi ovacionado no 81º Festival de Cinema de Veneza, o que emocionou fortemente os atores. Agora está sendo cogitado para concorrer ao Oscar.
Esse sucesso só prova ainda mais a grandeza da história contada por Marcelo Rubens Paiva em Ainda estou aqui.