Falar de Luís Fernando Veríssimo é falar de humor inteligente, ironia fina e de um olhar afetuoso sobre o cotidiano. Filho do também escritor Erico Veríssimo, ele construiu sua própria trajetória e se tornou um dos autores mais populares do Brasil.
Dono de uma escrita acessível e refinada, Veríssimo encantou leitores de todas as idades com crônicas, contos, romances e personagens inesquecíveis.
Neste artigo, vamos mergulhar em sua vida, sua carreira multifacetada e, principalmente, em sua vasta produção literária, que deixou um legado de mais de 80 obras publicadas.
Infância e juventude
Luís Fernando Veríssimo nasceu em Porto Alegre, em 26 de setembro de 1936. Filho de Erico Veríssimo e Maria da Glória Veríssimo, cresceu em meio a livros e cultura.
Passou parte da infância nos Estados Unidos, onde seu pai lecionava. Ali, desenvolveu sua paixão pela música, especialmente pelo jazz e pelo saxofone, que se tornaria um de seus hobbies ao longo da vida.
De volta ao Brasil, estudou em Porto Alegre e trabalhou como tradutor, redator e jornalista. Mas foi como cronista que encontrou seu lugar definitivo na literatura.
O cronista do cotidiano
Veríssimo ganhou destaque em jornais como Zero Hora e O Globo, onde publicava crônicas com olhar bem-humorado e crítico sobre política, comportamento, cultura e futebol. Sua linguagem leve, direta e irônica conquistou leitores de todas as idades.
Ler suas crônicas era como conversar com um amigo espirituoso: havia humor, reflexão e sempre um convite para enxergar o mundo de outro jeito.
Obras e personagens marcantes
Com mais de oito dezenas de títulos, Luís Fernando Veríssimo explorou gêneros variados, mas se consagrou sobretudo nas crônicas. Entre suas obras mais conhecidas e amadas, estão:
- O Popular (1973) – sua estreia, reunindo crônicas iniciais.
- A Grande Mulher Nua (1975) – já mostrando seu estilo leve e irônico.
- Ed Mort (1997) – série sobre o detetive atrapalhado, que virou peça, quadrinhos, TV e cinema.
- O Analista de Bagé (1983) – personagem icônico que mistura psicanálise e humor gaúcho.
- Velhinha de Taubaté (1983) – sátira genial da última pessoa que acreditava nos discursos do governo.
- As Cobras (1975) – tirinhas filosóficas e divertidas sobre a vida.
- Sexo na Cabeça (1982) – livro divertido e ousado, que reflete sobre relações, amor e desejo com sua típica leveza.
- O Gigolô das Palavras (1982) – uma coletânea de textos que brinca com a linguagem, mostrando o domínio de Veríssimo sobre a palavra escrita.
- O Santinho (1991) – romance satírico que mostra seu talento para explorar o humor político.
- Comédias da Vida Privada (1994) – coletânea de crônicas que se transformou em uma série de TV de grande sucesso nos anos 1990.
- Clube dos Anjos (1998) – romance que fez parte da coleção Plenos Pecados e ganhou destaque internacional.
- Comédias para Ler na Escola (2000) – seleção de textos leves e engraçados, pensados para aproximar jovens leitores da literatura.
- As Mentiras que os Homens Contam (2000) – obra que reúne histórias cheias de humor e ironia sobre relacionamentos e comportamento masculino.
- Amor Veríssimo (2013) – antologia de textos sobre amor, em suas diversas formas, com aquele toque de ternura e ironia característicos.
Essa lista é apenas um recorte de uma obra extensa, que passeia por gêneros distintos, mas mantém a mesma marca: a inteligência bem-humorada que cativou milhões de leitores.
Humor e estilo literário
O estilo de Veríssimo é reconhecível à primeira linha: frases curtas, ritmo ágil, ironia fina e humor sutil. Ele falava de futebol, política, família, música, amor e das pequenas manias do cotidiano com simplicidade e profundidade.
Seu grande talento estava em escrever textos acessíveis, mas nunca superficiais. Eram textos que faziam rir, pensar e, acima de tudo, identificavam-se com a vida real do leitor.
Reconhecimento e prêmios
Ao longo da carreira, Luís Fernando Veríssimo foi reconhecido dentro e fora do Brasil. Recebeu o Prêmio Juca Pato – Intelectual do Ano, foi agraciado com o Prix Deux Océans na França, e teve obras traduzidas em diversos idiomas.
Seu romance Clube dos Anjos foi escolhido pela New York Public Library como um dos 25 melhores do ano.
Últimos anos e falecimento
Mesmo enfrentando problemas de saúde, como Parkinson, complicações cardíacas e sequelas de um AVC em 2011, Veríssimo seguiu ativo como cronista. Suas colunas, mesmo mais espaçadas, continuavam sendo aguardadas com carinho pelos leitores.
Ele faleceu em 30 de agosto de 2025, em Porto Alegre, aos 88 anos, vítima de complicações de pneumonia. Sua partida gerou grande comoção nacional.
O legado de Veríssimo
Luís Fernando Veríssimo deixou um legado único: a prova de que é possível transformar o cotidiano em literatura de alta qualidade.
Suas crônicas seguem atuais, seus personagens permanecem vivos e suas obras continuam sendo lidas e relidas em escolas, universidades e lares de todo o país.
Ele foi — e seguirá sendo — um cronista do Brasil, capaz de unir humor, crítica social e afeto em uma mesma frase.
Conclusão
A vida e a obra de Luís Fernando Veríssimo mostram que a literatura pode ser, ao mesmo tempo, leve e profunda. Seus livros e personagens se tornaram parte da cultura brasileira, atravessando gerações.
Se você ainda não o leu, comece agora: seja com as divertidas Comédias da Vida Privada, as reflexões bem-humoradas de As Mentiras que os Homens Contam, ou os clássicos como Ed Mort e O Analista de Bagé. Ler Veríssimo é rir, pensar e se encantar com o poder da palavra.
Conheça também uma das divertidas crônicas de Luís Fernando Veríssimo: Beijos e abraços.
Samira Mór é formada em Letras pela UFJF e Mestra em Literatura pela mesma instituição. É também professora das redes pública e privada há mais de trinta anos. Apaixonada por palavras e livros desde sempre, seu objetivo é partilhar com as pessoas o amor pela leitura e pelos livros.
