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Barroco: contexto histórico, características e principais autores

O estilo barroco

O Barroco é um movimento artístico que, durante muito tempo, foi deixado de lado pelo estudiosos. Era visto como um estilo de mau gosto, uma vez que uma de suas marcas principais é o exagero.

Os críticos, considerando a arte algo belo e de caráter elevado, viam no estilo barroco o feio e o desagradável. Por esse motivo, o Barroco, embora tenha ocorrido no século XVII, só foi devidamente estudado a partir do século XIX.

Inclusive, se compararmos o nome desse movimento com os demais, já podemos perceber sua excentricidade. É o único movimento artístico a não terminar com o sufixo “ismo”.

A pérola baróquia é provavelmente a razão do nome do movimento Barroco. Isso se deve às imperfeições da pedra, relacionando-se à contradição e ao excesso do estilo por sua dualidade de cores e pelas irregularidades de sua superfície.
A pérola baróquia, uma das possibilidades do nome dado ao estilo Barroco.

Há diversas explicações para o nome que esse período da arte recebeu. Uma delas está associada a uma pérola encontrada em uma região do Oriente. Essa pérola recebeu o nome de baróquia, palavra advinda provavelmente do italiano com a significação de imperfeito, irregular.

A pérola baróquia apresenta mais de uma cor e sua superfície é irregular. Isso pode ser associado à contradição, ou jogo de opostos, e aos excessos do estilo Barroco.

Contexto histórico do Barroco

O Barroco é conhecido como o estilo da chamada Contrarreforma ou Reforma Católica. Ainda em fins do século XVI, após a Reforma Protestante, que trouxe novos olhares para a religião cristã, a Igreja Católica foi obrigada a repensar suas práticas.

A incredulidade de São Tomé, do pintor italiano Michelângelo Caravaggio.
A incredulidade de São Tomé, do pintor italiano Michelângelo Caravaggio.

Para conter o avanço do Protestantismo e manter os fiéis dentro da igreja, várias medidas foram tomadas, como a instauração do Tribunal da Inquisição e a fundação da Companhia de Jesus.

Nesse período, também ocorreu a ascensão das monarquias absolutistas, marcadas dela necessidade dos reis de demonstrarem poder e pompa. Daí a grandiosidade de muitas igrejas ornamentadas ricamente, inclusive com adornos em ouro.

Esse é o contexto do estilo Barroco. Suas palavras-chave são o exagero e a contradição. Veremos a seguir a razão disso.

Características do movimento Barroco

A Igreja Católica tinha grande influência na Península Ibérica, onde estão Portugal e Espanha. Ali, ela exerceu com grande força as medidas da Contrarreforma.

Essas medidas tinham como intenção maior fazer valer os dogmas cristãos, como a negação da vida e dos prazeres terrenos em busca da salvação eterna. O problema é que o homem do século XVII tinha as referências do pensamento clássico e antropocêntrico.

Isso levou aos conflitos vivenciados pelo homem barroco. Temendo o Inferno, ele tentou seguir os preceitos religiosos com afinco. No entanto, frear os desejos quase sempre é tarefa muito árdua. E isso trouxe a culpa e o medo.

A pintura chama-se Moça com brinco de pérolas, do pintor holandês Johannes Veermer.
Moça com brinco de pérolas, do holandês Johannes Veermer

A arte barroca revela os sentimentos de um homem dividido entre a satisfação de seus próprios desejos e à obediência a Deus. Por isso, o exagero e a contradição têm tanta força no Barroco. Vejamos como isso se dá em três expressões artísticas de grande evidência no período: a pintura, a escultura e a literatura.

A pintura barroca

A pintura desse período é marcado pelo chiaroscuro, ou claro-escuro, expressão italiana que traduz a preferência dos pintores por retratar cenas em que apenas parte do quadro recebe luz. O fundo do quadro é escuro e apenas os personagens centrais são iluminados.

O claro-escuro pode ser relacionado às contradições do homem barroco, às tentativas desse homem de buscar o Céu ao mesmo tempo em que vivencia os prazeres terrenos. Caravaggio, famoso pintor italiano, é um dos grandes representantes dessa técnica.

A pintura Davi com a cabeça de Golias, de Caravaggio.
Davi com a cabeça de Golias, Caravaggio.

Outro ponto importante é a presença forte da cor vermelha. Essa cor frequentemente associada à vida e às paixões traduz a inconstância e a angústica do homem barroco. A pintura de Rembrandt é um exemplo dessa predileção pelo vermelho e por ambientações soturnas.

Pintura A lição de anatomia do doutor Tulp, do pintor holandês Rembrandt.
A lição de anatomia do Dr. Tulp, do pintor holandês Rembrandt.

A escultura barroca

A escultura barroca é marcada pela representação de cenas religiosas de forma exuberante e intensa. É notória a presença de muitas dobras nas vestes, esculpidas com grande primor. E muitos arabescos, ou voltas, nos elementos dos objetos representados.

Escultura Beata Ludovica Albertoni, de Bernini.
Beata Ludovica Albertoni, de Gian Loreno Bernini.

Isso pode ser relacionado com a angústia e a perturbação do homem do século XVII submetido às medidas contrarreformistas. Curiosamente, a escultura era a expressão preferida pelos padres para representar a mesagem da igreja aos fiéis.

Escultura O êxtase de Santa Teresa, de Bernini.
O êxtase de Santa Teresa, de Gian Loreno Bernini.

Cenas de grande tensão e até de violência são apresentadas com vigor e exuberância nas esculturas barrocas. Grandes artistas surgiram e eternizaram-se nesse período.

Baldaquino na Igreja de São Pedro, no Vaticano, por Gian Loreno Bernini.
Baldaquino na Igreja de São Pedro, Vaticano, por Bernini.

Outro ponto importante sobre a escultura barroca é a associação com a arquitetura da época, em especial nas igrejas. Muitas esculturas eram produzidas, inclusive, de forma a se adequar às paredes das igrejas.

Igreja de São Francisco, Ouro Preto, Minas Gerais.
Igreja de São Francisco, Ouro Preto, Minas Gerais.

A literatura barroca

A literatura barroca tem como traços marcantes duas figuras de linguagem fundamentais: a metáfora e a antítese.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza.
A firmeza somente na inconstância.

Gregórios de Matos

A metáfora atribui aos textos barrocos grande intensidade e é um recurso frequente na poesia cultista, da qual falaremos adiante. Já a antítese, que se caracteriza pela aproximação de coisas opostas, revela a dualidade e a ambiguidade do Barroco.

Dentro da literatura barroca, surgiram duas correntes importantes e que também estão ligadas à dualidade do Barroco. Essas correntes são o Cultismo e o Conceptismo.

Cultismo

O Cultismo, como o nome já indica, remete ao enfeite, à ornamentação. É aqui que entra a metáfora. Essa figura de linguagem, uma espécie de comparação implícita, relaciona ideias por meio de imagens. E o Cultismo, predominante na poesia do período, recorre a essas imagens para descrever cenas de grande intensidade.

Ao braço do Menino Jesus de Nossa Senhora das Maravilhas,

A quem infiéis despedaçaram.

O todo sem a parte não é todo;

A parte sem o todo não é parte;

Mas se a parte o faz todo, sendo parte,

Não se diga que é parte, sendo o todo.

Em todo o sacramento está Deus todo,

E todo assiste inteiro em qualquer parte,

E feito em partes todo em toda a parte,

Em qualquer parte sempre fica o todo.

O braço de Jesus não seja parte,

Pois que feito Jesus em partes todo,

Assiste cada parte em sua parte.

Não se sabendo parte deste todo,

Um braço que lhe acharam, sendo parte,

Nos diz as partes todas deste todo.

(Gregório de Matos)

Observe o jogo de palavras, a associação de ideias contrárias e as imagens que o poema constrói para compor uma cena. Esse jogo de palavras torna a compreensão do texto difícil, mas, ao mesmo tempo, propõe ao leitor uma espécie de brincadeira em busca da compreensão dos versos.

Conceptismo

Conceptismo vem da palavra latina concepto, ou conceito. A corrente conceptista se caracteriza por desenvolver um pensamento, uma ideia ou conceito. E o faz através do que podemos chamar de pensamento enovelado.

“E se quisesse Deus que este tão ilustre e tão numeroso auditório saísse hoje tão desenganado da pregação, como vem enganado com o pregador! Ouçamos o Evangelho, e ouçamo-lo todo, que todo é do caso que me levou e trouxe de tão longe”.

(Padre Antônio Vieira)

Como um novelo, as ideias vão se encadeando uma às outras para compor uma ideia. Os sermões religiosos ilustram bem a proposta conceptista. A partir de uma passagem bíblica, o orador desenvolve um raciocínio que seduz e leva o ouvinte a uma reflexão sobre o conceito bíblico e sobre si mesmo.

Características do estilo Barroco

  • Exagero e contraste;
  • Desequilíbrio e obscuridade;
  • Religiosidade;
  • Associação com o feio e com o mau gosto;
  • Reflexo da angústia e do sentimento de divisão (carne x espírito) do homem do século XVII;
  • Contrarreforma;
  • Cultismo: mais presente na poesia, excesso de imagens, descrição;
  • Conceptismo: mais presente na prosa, desenvolvimento de raciocínio, argumentação.

Barroco no Brasil

O Barroco inicia-se no Brasil em 1601 com a publicação do poema Prosopopeia, de Bento Teixeira. Poema épico, de inspiração camoniana, conta a história da família Albuquerque à qual pertencia o governador da capitania de Pernambuco, a quem o poema é dedicado.

Arquitura colonial, Paraty.
Arquitura colonial, Paraty.

O Barroco perdurou por mais de um século no Brasil, de 1601 a 1768, e apresentou duas fases chamadas de Barroco Baiano e Barroco Mineiro. O primeiro ocorreu em Salvador, capital da Bahia, durante o ciclo da cana-de-açúcar e sua decadência. O segundo desenvolveu-se nas cidades mineiras do ciclo do ouro.

Em relação ao Barroco mineiro, destaca-se a figura do escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Suas obras, de grande vivacidade, retratam figuras religiosas muito conhecidas. Essas personagens apresentam traços bastante parecidos aos das pessoas que circulavam pelas ruas da cidade daquela época.

E isso faz com que as imagens de Aleijadinho inspirem maior humanidade e realismo.

Escultura de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, mais importante artista do barroco mineiro.
Escultura de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

Neste artigo, nos limitaremos a somente essas informações sobre o Barroco em Minas Gerais. O objetivo aqui será a decorrência do estilo barroco em Salvador, Bahia, ou ao barroco baiano.

Barroco baiano

A Literatura foi a expressão de maior força no Barroco Baiano. Os sermões do Padre Antônio Vieira e a poesia de Gregório de Matos traduziram o sentimento, o comportamento e os desejos dos moradores da Bahia setecentista.

Padre Antônio Vieira

Antônio Vieira nasceu em Portugal e foi trazido para o Brasil aos cinco anos de idade. Teve educação jesuítica e formou-se padre em Salvador, onde pregou por muitos anos.

Igreja de São Francisco, no Pelourinho, uma das igrejas de Salvador em Padre Vieira costumava pregar.
Igreja de São Francisco, no Pelourinho, uma das igrejas de Salvador em Padre Vieira costumava pregar.

Padre Vieira era exímio orador e seduzia os ouvintes com seus sermões primorosamente organizados. Nesses sermões, pregava o evangelho em consonância com a moral e a política. Sempre defendeu a justiça e nunca teve medo dos poderosos.

Seus sermões pregavam contra a corrupção, contra a exploração do indígena e do negro, contra a falsidade e os jogos de interesse. E disso a Bahia do século XVII estava cheia.

Vieira nunca se intimidou. Foi denunciado à Inquisição e precisou se defender diante do Papa. Após ouvi-lo, o líder supremo da Igreja Católia afirmou que esta deveria estar feliz de ter o padre Antônio Vieira a seu lado, caso contrário teria grandes problemas.

Padre Vieira tinha um lema: o fiel deveria sair da igreja feliz com o orador e infeliz consigo mesmo, pronto a mudar de vida. Os seus sermões eram organizados com o intuito de obedecer a esse critério e são um bom exemplo do racionínio conceptista.

Gregório de Matos

Gregório de Matos nasceu em Salvador, filho de um fidalgo português e uma brasileira. Seus pais eram senhores de engenhos de cana-de-açúcar. Assim, o poeta nasceu muito rico e nobre.

Quando adulto, foi mandado para Coimbra, em Portugal, para estudar Direito, como ocorria com os filhos das famílias abastadas. Com a queda da economia da cana-de-açúcar, a família de Gregório foi à falência. E o poeta foi obrigado a voltar para o Brasil antes de terminar o curso.

No Brasil, Gregório passou o restante de sua vida como os trovadores do passado, acompanhado de um violão a cantar sua poesia pelas vilas. Poesia vasta e diversa que, por sua veia satírica, garantiu ao poeta o apelido nada simpático de Boca do Inferno.

A poesia de Gregório de Matos apresenta várias faces ou vertentes. São elas: a lírico-amorosa; a lírico-religiosa; a lírico-reflexiva; a erótica; e a satírica.

Poesia lírico-amorosa

Nas poesias de amor, Gregório se dirige à dama da Corte da época. Uma mulher branca que ignora o poeta e está sempre distante. Nesses poemas, ele segue a tradição da poesia advinda do Trovadorismo, colocando-se como admirador da beleza de uma dama inacessível.

O eu-lírico das poesias lírico-amorosas de Gregório de Matos volta-se para o rosto da mulher, comparando as partes de sua face com elementos da natureza.

Lisonjeia outra vez impaciente a retenção de sua mesma desgraça, aconselhando a esposa neste regalado soneto.

Discreta e formosíssima Maria,

Enquanto estamos vendo a qualquer hora

Em tuas faces a rosada Aurora,

Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:

Enquanto com gentil descortesia

O ar, que fresco Adônis te namora,

Te espalha a rica trança voadora,

Quando vem passear-te pela fria:

Goza, goza, da flor da mocidade,

Que o tempo trota a toda ligeireza,

E imprime em toda a flor sua pisada.

Oh não aguardes, que a madura idade

Te converta em flor, essa beleza

Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.

(Gregório de Matos)

Esses poemas lembram a atitude do eu-lírico das cantigas trovadorescas de amor. Um homem que, por dedicar todo o seu amor a uma dama distante e impossível, sofre e se lamenta.

Poesia lírico-religiosa

Na poesia de cunho religioso, Gregório revela o sentimento do homem do período temeroso de arder no fogo do Inferno e desesperado pelo perdão divino. Gregório tinha uma vida bastante licenciosa nas ruas da Bahia. Ou seja, vivia segundo os desejos de sua carne, e isso, obviamente, deixava o poeta preocupado com o futuro de sua alma.

A Jesus Cristo, nosso Senhhor

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,

Da vossa alta clemência me despido;

Antes, quanto mais tenho delinquido,

Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,

A abrandar-vos sobeja um só gemido:

Que a mesma culpa, que vos há ofendido,

Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida já cobrada,

Glória tal e prazer tão repentino

Vos deu, como afirmais na Sacra História:

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,

Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,

Perder na vossa ovelha a vossa glória.

(Gregório de Matos)

Pelo menos é o que dizem os seus poemas religiosos em que o eu-lírico constantemente busca convencer Deus a perdoá-lo dos pecados que ele, Gregório, tem plena consciência de que cometeu e de que são muitos.

Para isso, o poeta recorre à própria palavra de Deus e a usa como argumento de convencimento.

Poesia lírico-reflexiva

A poesia reflexiva tem como temas a instabilidade da vida e a passagem do tempo. Ambas preocupações do homem do período que via a vida cada vez mais incerta e o correr da vida que se intesificava, aproximando a todos da morte e da consequente prestação de contas com Deus.

Nasce o sol e não dura mais que um dia

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,

Depois da Luz se segue a noite escura,

Em tristes sombras morre a formosura,

Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?

Se formosa a Luz é, por que não dura?

Como a beleza assim se transfigura?

Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,

Na formosura não se dê constância,

E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,

E tem qualquer dos bens por natureza

A firmeza somente na inconstância.

(Gregório de Matos)

Poesia erótica

O erotismo da poesia de Gregório direciona-se à mulher do povo, em geral à mulher negra. Nesses poemas, o poeta declara o seu desejo pelo corpo da mulher de forma muitas vezes obscena e licenciosa.

A uma freira, que satirizando a delgada fisionomia do poeta

lhe chamou “Pica-flor”

Se Pica-flor me chamais,

Pica-flor aceito ser,

mas resta agora saber,

se no nome, que me dais,

meteis a flor, que guardais

no passarinho melhor!

Se me dais este favor,

sendo só de mim o Pica,

e o mais vosso, claro fica,

que fico então Pica-flor.

(Gregório de Matos)

A poesia erótica de Gregório de Matos nos fala de um lado humano muitas vezes freado pelos tabus da cultura cristã. Ela demonstra o desejo erótico e sexual ora de forma divertida e jocosa, ora com grande beleza e verdade.

Poesia satírica

A poesia satírica de Gregório de Matos talvez seja a de maior importância no período. Além de seu teor poético, ela tem caráter documental, retratando o modo como as pessoas da época viviam e se relaciovam.

Outro ponto importante a ser considerado é a sua atualidade. Muito daquilo que nos conta a poesia satírica de Gregório continua a ocorrer em nossa sociedade ainda hoje.

Gregório usava sua poesia para criticar a sociedade de seu tempo, tanto de forma simplória e jocosa quanto com viés sério e contundente. E não perdoava ninguém. Todos eram vítimas de sua língua, ou pena, ferina. Desde o mais pobre até o mais rico e poderoso.

À cidade da Bahia

Triste Bahia! ó quão dessemelhante

Estás e estou do nosso antigo estado!

Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,

Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,

Que em tua larga barra tem entrado,

A mim foi-me trocando, e tem trocado,

Tanto negócio e tanto negociante.

Oeste em dar tanto açúcar excelente

Pelas drogas inúteis, que abelhuda

Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus, que de repente

Um dia amanheceras tão sisuda

Que fora de algodão o teu capote!

(Gregório de Matos)

Isso rendeu ao poeta o apelido de Boca do Inferno. A poesia satírica de Gregório de Matos, ou seja, aquela que faz crítica social associada ao humor, retrata uma Bahia corrupta e cheia de problemas, como a desigualdade social e a exploração estrangeira.

Igreja de São Francisco de Assis, em Salvador, Bahia.
Interior da igreja de São Francisco de Assis, em Salvador, Bahia.

Resumindo o Barroco

  • O Barroco surgiu na Europa ainda no final do século XVI e teve grande força no século XVII;
  • É um estilo da Contrarreforma e reflete a angústia de um homem dividido entre buscar a Deus e agradar à própria carne;
  • Predominam nas obras barrocas as cenas religiosas, ou seja, as cenas que retratam passagens bíblicas;
  • As expressões artísticas de relevância no Barroco são a pintura, a escultura e a literatura;
  • Na pintura, o claro-escuro revela a dualidade e a ambiguidade do homem do período;
  • A escultura traz cenas da Bíblia com grande expressividade e tensão e, por isso, eram as preferidas dos padres como objeto de ensinamento dos preceitos religiosos;
  • Os poemas e os sermões são as estrela da literatura barroca e duas correntes surgiram com viéses diferentes: o cultismo, mais voltado para a poesia; e o conceptismo, mais presente na prosa;
  • No Brasil, o Barroco inicia-se em 1601 e perdurou até 1768;
  • Houve dois momentos no Barroco brasileiro: o barroco baiano e o barroco mineiro;
  • O Barroco baiano tem como grandes representantes o padre Antônio Vieira, na prosa, e o poeta Gregório de Matos, na poesia;
  • Padre Vieira era um orador de grande excelência e seus sermões pregavam a palavra de Deus mas também criticavam a sociedade de seu tempo e lutavam por justiça;
  • A obra de Vieira, por seu caráter persuasivo e argumentativo, pode ser considera um bom exemplo do Conceptismo;
  • Gregório de Matos foi o primeiro grande poeta brasileiro, sua poesia divide-se em diversos tipos: amorosa, religiosa, reflexiva, erótica e satírica;
  • A poesia satírica de Gregório de Matos rendeu-lhe o apelido de Boca do Inferno e tem grande importância como documento histórico;
  • Além disso, sua poesia satírica continua bastante atual, uma vez que os problemas apontados nela ainda persistem na sociedade brasileira de hoje.

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