A minha relação com o café começou quando eu era bem pequena. É uma relação verdadeiramente afetiva. Conheci o café pelas mãos da minha avó.
Acho que minha mãe tinha um pouco de ciúmes, mesmo tendo outros três filhos pequenos pra cuidar que lhe tomavam bastante tempo, porque eu amava ficar na casa da minha avó.
Era um sítio cheio de maravilhas a serem exploradas por uma criança. Além disso, lá tinha um rádio e duas tias moças que me cobriam de carinhos e atenção. Então, todas as vezes que meus pais vinham me buscar, eu chorava, claro, porque queria ficar ali.
Minha avó fazia um bule de café só pra mim. Calma, não era o café que os adultos tomam. Era o café fraquinho, como ela mesma dizia.
Fraquinho e doce. Como eu, criança, não poderia gostar? Eu amava. E amava também porque ela fazia pra mim. E só pra mim. Lembro-me de ficar sentada na cozinha olhando pra ela e pro bule de café fraquinho. É uma lembrança muito boa.
Infelizmente não tive minha avó por muito tempo. Ela faleceu quando eu tinha seis anos. Mas o café fraquinho eu ainda continuei a tomar porque minhas tias continuaram a fazê-lo para mim todas as vezes que eu ia ao sítio.
Era um prazer, uma alegria, que me acompanhava em meus dias por lá. E que continuava em minha casa porque minha mãe passou a colocar mais água no café para poder sobrar a minha parte, fraquinha.
Desde então, não parei mais. O café é meu companheiro diário. Mas hoje, claro, não o tomo mais fraquinho, como aquele que minha avó fazia. Hoje meu café é forte, encorpado e amargo.
Ou melhor, sem açúcar. Porque não vejo amargor no café, embora ele seja mesmo amargo. Café pra mim tem sabor de infância e da doçura de minha avó e tias.